Conceito de território

Geografia,

Conceito de território

Por vezes, algumas palavras recorrentes em nosso vocabulário, justamente por sua alta e variada incidência em nossas falas, parecem, a primeira vista, donas de um significado simples e direto. Mas uma vez que é destrinchado o seu entendimento a partir de diferentes pontos de vista, observamos que, de longe, um único sentido não é capaz de dar conta de todas as suas possibilidades de compreensão por parte de quem a escuta. É justamente esse o caso da palavra “território”, sobre a qual basta uma análise mais aprofundada para deixar nítida a polissemia que ela carrega.

Quando pensamos em “território”, inevitavelmente pensamos em “lugar”. O território soa como um lugar específico onde algo acontece, ou tem potencial para acontecer (ou já aconteceu, como é caso de alguns territórios contaminados por radiação – a região de Chernobyl, por exemplo – e que, consequentemente, devem ser isolados). Portanto, a ideia de território está intimamente ligada ao conceito de um espaço (não necessariamente físico) apropriado por um conjunto de características que são responsáveis por ressignificá-lo, destacando-o do todo contínuo no qual ele está inserido.

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Território na Geografia

A Geografia, ciência humana que tem como foco principal os fenômenos sabidamente decorrentes das relações entre a terra e o homem, pressupõe que a o conceito de território acarreta consigo a existência de uma relação de poder que se constitui naquele espaço. Em outras palavras, para esta ciência, uma área qualquer só se transforma definitivamente em um território quando existe um interesse oriundo de uma ou mais pessoas que motiva a presença da força – seja subjetiva, autoritária ou política – para garantir a efetivação dessa propriedade. Essa efetivação das vontades mediada pela força é o que, comumente, chamamos de poder. Nesse caso, para a Geografia, um território é o sinônimo, a expressão máxima, do poder de algo ou alguém sobre uma área, o que é muitas vezes expresso por uma demarcação territorial cujo objetivo é expor e delimitar as fronteiras existentes no espaço entre. Em certa medida, podemos compreender o território como o avesso da fronteira, ou ainda enxergar ambos como pares complementares de uma relação dialética. Sem um, não há outro.

O geógrafo e etnólogo alemão Friedrich Ratzel, o pai do chamado “determinismo ambiental”, caracteriza como território todo e qualquer espaço sobre o qual se exerce a influência do poder do Estado. Ou seja: o território brasileiro, por exemplo, só é um território porque existe um Estado – o Brasil – que não só nele se organiza e se desenvolve como também sobre ele exerce um controle populacional, legal e militar. Quem nasce no Brasil é brasileiro, e por ser brasileiro, responde às leis brasileiras. Caso as desobedeça, será punido de acordo com essas mesmas leis.

Esse Estado caracterizado por Ratzel, entretanto, não faz referência literal e somente aos Estados-nação, estruturas de organização social cuja origem remonta ao século XVIII. Ele é também um signo que responde às estruturas sociais da maioria dos povos tradicionais, como aborígenes, tribos indígenas ou até mesmo povos nômades (cujos territórios são fluídos, na medida em que eles não possuem um local estanque para ficar).

Território virtual

Nos dias de hoje, entretanto, é incorreto atrelar o significado de território a uma noção necessariamente física do espaço. Embora tal associação seja recorrente, na era digital o termo também foi ganhando uma participação no vocabulário comum com o qual falam os usuários da internet. Afinal, essa grande rede que conecta computadores, celulares e pessoas também desperta interesses específicos, além de ser alvo de restrições e demarcações de pertencimento. Um bom exemplo disso são as páginas pessoais nas redes sociais que são, nada mais, nada menos, que territórios delimitados por uma identidade específica onde ocorrem transações características da história particular daquele sujeito. Nesse caso de território virtual a relação de poder estabelecida para garantir sua conquista é tão explicita que, no topo da página, encontramos nada mais, nada menos, que o nome do dono daquele perfil.

Território animal

Ainda caminhando no mesmo universo, mas respondendo a outra forma de poder em exercício, a definição de território para a Biologia apresenta essencialmente a ideia de todo e qualquer lugar que um animal, independente de sua espécie de origem, defenda instintivamente de outros animais da mesma espécie que a sua.

Essa defesa não necessariamente se apresenta, como no caso dos seres humanos, em uma expressão de poder que culmina em enfrentamento. Na maioria das vezes, ela assume a forma de uma exibição de sinais que tem em si o intuito de advertir os outros da espécie que tal localidade possui um dono. Tais sinais podem ser expressos das mais diversas formas: enquanto cachorros e gatos urinam ou depositam fezes com essa finalidade, algumas aves expõe essa informação por meio dos sons que emitem ou trocando a cor de suas penas. A mudança de cor, por sinal é um mecanismo também explorado pelos peixes, como é caso do famoso peixe Beta.