Resumo do pré-modernismo: Euclides da Cunha (1866 – 1909)

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Resumo do pré-modernismo: Euclides da Cunha (1866 – 1909)

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha, nasceu no ano de 1866, em Santa Rita do Rio Negro, no Rio de Janeiro. Órfão desde cedo, foi criado pelos tios na Bahia e no Rio. Ao terminar o colegial, matriculou-se na Escola Politécnica do Rio, mas não conseguiu se sustentar para continuar os estudos. Por isso, se transferiu para a Escola Militar no ano de 1884. Desde essa época, foi um ardoroso defensor da República, e em 1888, após atirar de maneira ostensiva e impensada sua baioneta no chão em sinal de protesto às repressões do governo que tentava evitar manifestações dos cadetes para saudar Lopes Trovão, republicano ilustre que chegava da Europa. Então, Euclides foi expulso da Escola Militar e seu gesto acaba nos jornais, na câmara e no senado.

Júlio de Mesquita, diretor de um jornal, convidou o jovem revolucionário a escrever em seu jornal, principal defensor das ideias republicanas da época. Em 1889, Euclides assinou uma série de artigos críticos e raivosos contra a monarquia, pregando sua derrubada iminente. Voltou à Escola Politécnica e, com a República recém-proclamada, foi reincorporado ao exército, numa reparação pela justiça que a monarquia havia cometido contra ele.

Euclides da Cunha (1866 – 1909)

É assim que, na Escola Superior de Guerra, chegou ao cargo de segundo=tenente e casou-se com Ana Ribeiro, em 1893. Quando foi promovido a primeiro-tenente, foi chamado por Floriano Peixoto, então presidente da República, e passou a exercer funções de diretor-presidente da Estrada de Ferro Central do Brasil. Permaneceu no cargo por apenas três meses.

Desencantado com a situação do Brasil, deixou o exército, reformando-se em 1896 como capitão. Nesse mesmo ano, o beato Antônio Conselheiro se transformava em um mito indicador da miséria, do misticismo e crenças primitivas. No ano seguinte, foi enviado pelo jornal para cobrir os acontecimentos que cercavam Canudos. Os relatos, enviados pelo telégrafo ao jornal, deram origem ao material fundamental com que compõe ‘Os sertões’, consagrando0se como um dos mais brilhantes escritores brasileiros.

O sucesso de sua obra fez com que ele torna-se amplamente respeitado, e ainda abri-lhe as portas da Academia Brasileira de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Durante todo o ano de 1904, escreveu artigos para o seu jornal, que mais tarde se transformou no livro ‘Contrastes e Confrontos’. Viajando pela Amazônia, escreveu os ensaios que deram origem ao livro ‘À margem da história’.

Em 1908, voltou a morar no Rio de Janeiro, e no ano seguinte foi nomeado professor de Lógica do Colégio D. Pedro II. Nesse mesmo ano, numa situação ainda pouco esclarecida, foi assassinado por Dilermando de Assis, amante de sua mulher, provocando grande comoção nacional. Ele tinha então 43 anos.

CONTEÚDO DESTE POST

Os sertões

Há que afirme que a principal obra de Euclides da Cunha, ‘Os sertões’, é uma obra meramente sociológica. Mas, antes que apenas isso, é um grande legado da literatura. Está certo que a sua linguagem é difícil e tende para o solene, mas compreensível, tecida sob a ótica determinista, detalhada como convém a um registro desta natureza. Grandiosamente composta, monumental, está dividida em três partes: a terra, o homem e a luta.

Na primeira parte de seu livro, Euclides da cunha traça um primoroso e bem detalhado perfil das condições geográficas brasileiras. Era de se esperar que esse engenheiro militar, com profundos conhecimentos geográficos e geológicos, em botânica e etnologia, estampasse uma espécie de tratado descritivo de nosso país, e sobretudo, nordestino.

Em ‘Os sertões’, o escritor descreve a luta na região Nordeste da Bahia, encravada no Vale do rio Vasa-Barris, ladeada pelas serras do Cocorobó e do Cambaio. É lá em Canudos, onde 20 mil habitantes são liderados por Antônio Conselheiro, um líder messiânico, fanático religioso e sebastianista, que ocorrerá o maior genocídio brasileiro. Quando, finalmente o exército, comandado pelo próprio ministro da Guerra, marechal Carlos Bittencourt, invade o arraial no dia 5 de outubro de 1897, está findada uma campanha trágica, assentada de um lado, no combate a um foco de resistência monarquista e do outro, nas mazelas provocadas pelo isolamento social, a ignorância, a fome, a dureza do meio, a vida sofrida do sertanejo, objeto de um coronelismo quase feudal, à margem da história.

É importante registrar aqui, que após ter assistido ao final daquela campanha, o escritor registrou seu repúdio àqueles acontecimentos observando que lamentava haver nascido no Brasil.

Euclides da Cunha, na segunda parte do livro, pretende demonstrar, um estudo etnológico brasileiro. Aqui aparecerão citados os formadores da etnia nacional: o índio, o negro e o branco português.

A terceira parte é a partição mais significativa da obra. Aqui, Euclides da Cunha, investido de seu papel de correspondente do jornal, narra em detalhes o que era o povoado em 20.000 almas, sob a custódia religiosa do Conselheiro. As múltiplas investidas do exército, as profecias, um D. Sebastião apareceria com seu exército, saído das ondas do mar, e cortaria a cabeça do dragão da maldade.