Antropocentrismo x ecocentrismo

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Filosofia,

Antropocentrismo x ecocentrismo

Durante muitos séculos, mais especificamente desde o século VI antes de Cristo, quando surgiu na Grécia Antiga, a filosofia era a única maneira de explicar os fenômenos humanos e os fenômenos da natureza, por meio da busca por uma explicação racional dos fatos, e não mais apoiada na religiosidade como até então era feito.

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Com o passar do tempo e a instalação do progresso científico contínuo, diversas ciências surgiram e foram desenvolvidas, o que levou a um processo de especialização da ciência. Assim, se antes a filosofia era a única ciência – entendida como algo racional – capaz de explicar os fenômenos de interesse das sociedades, esse paradigma se alterou muito devido à especialização (divisão) da ciência.

Com isso, hoje muitos acreditam que a filosofia não tem utilidade prática no mundo contemporâneo, um pensamento equivocado. Se por um lado é verdade que atualmente não existem filósofos revolucionários como até poucas décadas atrás, capazes de alterar ou mesmo criar paradigmas de pensamento, por outro lado essa ciência assume um papel de extrema importância, pois hoje se dedica em grande parte a estudar as consequências produzidas pelo avanço da ciência.

Como exemplo da afirmação acima, pode-se citar a manipulação genética, que até pouco tempo atrás era apenas uma possibilidade e passou a ser uma realidade. No entanto, a manipulação não é uma tarefa delegada a filosofia, mas sim à engenharia genética, cabendo a filosofia refletir sobre as consequências que tal prática pode acarretar.

Assim, muito antes de perder relevância, a filosofia continua sendo de extrema importância, e um exemplo disso é um tema extremamente atual e que deve ser discutido por todos: a filosofia ambiental.

Neste artigo, será tratada de duas linhas políticas em filosofia ambiental que costumam ser apresentadas por especialistas como opositivas: o antropocentrismo x ecocentrismo.

CONTEÚDO DESTE POST

Antropocentrismo

Conforme dito, a filosofia é o estudo dos fenômenos humanos e do mundo, mas para que esses fenômenos possam ser estudados é necessário que sejam previamente definidos – apesar de a própria definição também ser objeto de debate filosófico –, e como aborda-se a filosofia ambiental, o conceito mais basilar é o meio ambiente, definido de uma maneira no ecocentrismo e de outra maneira no antropocentrismo.

Em uma abordagem antropológica, o homem sempre é considerado como elemento central. Portanto, no antropocentrismo o meio ambiente é tido como algo que tem utilidade para o homem. Neste contexto, utilidade se refere a satisfação de necessidades e desejos, fazendo com que os recursos naturais nesta visão sejam simplesmente meios para levar a satisfação, uma vez que o homem é o centro de todas as coisas.

É interessante notar que mesmo que essa visão sobre o ambiente soe inadequada na contemporaneidade, grandes filósofos como Kant compartilhavam da mesma, uma vez que afirmou que a única razão pela qual o tratamento cruel de animais, elementos do meio ambiente, seria algo considerado ruim é porque poderia motivar comportamentos similares do homem com seus semelhantes.

Outra premissa bastante relevante quando colocada em xeque essa linha política da filosofia ambiental diz respeito ao fato do homem ser o único ser capaz de proteger a natureza, o que retira a importância de questões como o equilíbrio ecológico por si mesmo, característica inerente aos mais diversos ecossistemas.

Ecocentrismo

A oposição feita entre antropocentrismo x ecocentrismo não é à toa, pois nesta última existe uma visão completamente diferente de ambiente tal como definido na primeira. Também chamada de restrita, nesta linha se considerada a natureza como algo autônomo, dotada de dignidade própria e sem nenhuma correlação com a satisfação dos desejos e necessidades do homem.

Desta maneira, o homem não é visto como uma entidade separada do ambiente, mas sim como parte integrante do mesmo, cabendo ao mesmo respeitá-lo e protegê-lo pelo simples fato dos bens naturais dispensarem a valoração pelo homem, isto é, possuírem valor por si mesmos. Vale ressaltar que mesmo diante das premissas acima o ambiente não é algo que se encontra em um patamar superior ao homem, já que este é visto como parte integrante da comunidade biótica.

Assim, nesta visão o ambiente pode ser definido como a totalidade de recursos naturais, quer sejam renováveis ou não, bem como as interdependências que estabelecem entre si.

Diante do que foi exposto acima sobre o antropocentrismo e ecocentrismo, as discussões da filosofia ambiental apontam para diversas direções, uma vez que:

-O antropocentrismo está intimamente ligada ao materialismo que pauta as sociedades contemporâneas, uma vez que o crescimento econômico é tido como o único meio para o desenvolvimento social;

-O ambiente não pode ser encarado como algo isolado das esferas da atividade humana, incluindo educação, saúde, mobilidade, economia, dentre diversas outras;

-Nas leis que visam a proteção do meio ambiente tanto a nível global quanto a nível nacional, o que se observa é uma predominância da perspectiva antropocêntrica, a prova cabal dessa constatação se encontra na associação feita entre proteção da natureza e qualidade de vida do homem;

-Apesar de haver especialistas que defendem a linha política do antropocentrismo e outros que defendem o ecocentrismo, a questão que verdadeiramente importa é que está ocorrendo uma tomada de consciência da importância da preservação do meio ambiente, pois sem o mesmo o homem não é capaz de existir.

O que toda esses tópicos nos revela é que a filosofia continua sendo fundamental para refletir e discutir temáticas que têm impactos na vida de todos os homens e out