Governo Sarney – Economia

História do Brasil,

Governo Sarney – Economia

Depois de enfrentar uma ditadura de caráter civil-militar que assolou o país por vinte anos, o Brasil assistiu a restituição lenta de sua democracia na tentativa de consolidar as instituições que compõe o poder público. Dentre os principais desafios lançados ao estado brasileiro na ressaca dos anos de chumbo, estavam a reorganização do sistema político à luz de uma futura nova constituição e o controle da economia que, a essa altura, estava tão desenfreada que a inflação batia 235%.

Com a chegada de José Sarney ao poder, em 1985, a principal meta da gestão federal passa a ser controlar essa inflação que assolava o país e causava impactos desastrosos no bolso dos brasileiros. Herança maldita das políticas econômicas do governo militar em consonância com a crise que assolou a economia mundial em meados da década de 1970, essa inflação será alvo de uma série de planos econômicos projetados e aplicados pelo poder central. Na impossibilidade de impedir o baixíssimo crescimento econômico que viria a fazer com que essa época levasse a alcunha de “década perdida”, tais planos farão coro às tentativas de reformulação das instituições sob uma égide democrática e participativa.

Governo Sarney

Plano Cruzado

É logo em fevereiro de 1986 que a equipe de economistas que compunham o governo Sarney de então (entre eles João Sayada, André Lara Resende e Persio Arida), capitaneados pelo ministro da Fazenda Dilson Funaro, vão lançar o chamado “Plano Cruzado”, congelando imediatamente os preços e substituindo a moeda corrente até o momento, o cruzeiro, pelo cruzado. Um cruzado de então valeria o equivalente a dez cruzeiros de antes. O congelamento de preços e a conversão da moeda foram aplicados em parceria com uma tabela dos valores a serem pagos nos produtos e na sustentação das dívidas. Por conta dessa iniciativa, que rapidamente deu conta de conter a inflação e acalmar o seu impacto mais agressivo no dia-a-dia do povo brasileiro, o Plano Cruzado tornou-se altamente popular e recebeu um apoio civil massivo.

O próprio governo conclamou os brasileiros a tornarem-se verdadeiros “fiscais dos preços”, no intuito de ampliar a vigilância em torno dos comerciantes de médio porte para baixo. Esses, por sua vez, que tiveram os preços de seus produtos congelados muitas vezes sem antes terem realizado o reajuste necessário para que pudessem lucrar, passaram a sofrer com valores abaixo do próprio valor de compra ou produção do que comercializavam. Se, por um lado, os salários haviam recebido reajustes, aumentando o poder de compra da população e, consequentemente, a demanda, por outro, uma crise começava a se instaurar silenciosamente na medida em que surgia um desequilíbrio dos preços de produtos cujos valores estavam congelados. Alguns produtos do mercado começaram a ficar cada vez mais escassos e, no Congresso Nacional, a oposição de então passava a acusar o Plano Cruzado de ser uma tentativa populista de agradar a todos sem responsabilidade.

Cruzado Novo

Com a decadência do Plano Cruzado, o governo Sarney institui, em novembro de 1986, um novo pacote fiscal no intuito de conter as derrotas do modelo lançado anteriormente, e tal pacote recebe o nome de Plano Cruzado II. Institui-se então uma nova moeda: o chamado Cruzado Novo, que no seu bojo trazia uma liberação dos preços de alguns serviços e de alguns produtos, em consonância com uma alteração na base do cálculo da inflação, que agora levava em conta os gastos das famílias que possuíssem uma renda de até cinco salários mínimos. Todas essas iniciativas, entretanto, não deram conta de conter os índices e resultaram em um aumento de preços assombroso que aconteceu no mesmo dia: gasolina, bebidas, automóveis, contas de telefone e energia atingiram aumentos assustadores, que chegaram em alguns dos casos a 100%. Foi o que disparou uma série de manifestações populares ao final de novembro, instaurando um cenário de desespero nas grandes cidades, onde ocorreram saques de lojas, incêndios e uma série de depredações. Em fevereiro de 1987, a economia brasileira se viu em seu limite quando Funaro decretou a suspensão dos pagamentos da dívida externa.

Plano Bresser

Em abril do mesmo ano, o ministério da Fazenda é entregue ao economista Luis Carlos Bresser Pereira. A inflação batia o índice de 23,21% e o déficit público era uma dura realidade. É nesse contexto que Luís Carlos Bresser apresenta o plano econônico homônimo que retoma uma tentativa de controle da inflação desenfreada por meio do congelamento dos preços dos produtos, dos alugueis e dos salários. Para controlar os gastos públicos, em paralelo ao anúncio e posterior aplicação do plano, uma série de obras vigentes até então são suspensas, entre elas a criação do pólo-petroquímico do Rio de Janeiro ou a proposta de construção de um trem-bala que ligasse essa cidade até São Paulo. Ainda assim, a inflação continuavam assombrando o cenário econômico, e desembocou em um dos índices mais alarmantes da década: agora, ela batia os 366%. Derrotado pela mão invisível do mercado, Luís Carlos Bresser se demite do Ministério da Fazenda.

Plano Verão

Com a saída de Bresser, é o economista Maílson Ferreira da Nóbrega quem assume o posto e propõe a criação do Plano Verão que determinou que todos os valores contidos nas cadernetas de poupança da população deixassem de ser atualizados de acordo com o IPC (Índice de Preço ao Consumidor). Por consequência, todos os consumidores que tinham cadernetas cujos aniversários incidiam entre 1 e 15 de janeiro de 1989 sofreram perdas pelas quais eles brigam até hoje na tentativa de reavê-las.