Invasão Holandesa na Bahia
Para que possamos entender como se deu a ocupação holandesa no Brasil, é necessário entender o que ocorria na Europa, mais especificamente na península ibérica, anos antes da ocupação. Logo após a Guerra da Sucessão Portuguesa, duas grandes potências da época, que possuíam diversas colônias se uniram, ou seja, Portugal e Espanha entrarem em acordo e criaram União Ibérica, que dominou toda a península ibérica entre 1580 e 1640. É necessário ressaltar que era a Espanha, sobre o domínio de Felipe II, quem comandava a “aliança”.
Mas não era somente Portugal que estava sob o domínio da Espanha, já que a Holanda (na época chama de República das Províncias Unidas) também estava e exigia que fosse libertada do domínio espanhol, o que fez com que entrassem em conflito com a coroa espanhola e, consequentemente, com a coroa portuguesa. Esta atitude desencadeou uma série de sanções por parte da Espanha, e uma delas foi à proibição da realização de comércio com os neerlandeses.
Para burlar a perda financeira causada pelas restrições, a República das Províncias Unidas criaram a Companhia Neerlandesa das Índias Orientais, que buscava especiais, e a Companha Neerlandesa das Índias Ocidentais, que controlou o tráfico e comercialização de escravos. No entanto, o maior objetivo desta última companhia era ter monopólio sobre uma das atividades mais lucrativas da época: a produção e comercialização de cana de açúcar, e na época o maior produtor da mercadoria era o Brasil colônia. A melhor forma de fazer isso era através da invasão da colônia.
A invasão
O primeiro registro de invasão holandesa no Brasil ocorreu em 1595, e não foi propriamente uma ofensiva holandesa, mas sim inglesa. Com acesso a um documento português que detalhava ricamente a costa brasileira, a coroa da Inglaterra decidiu invadir o Brasil, mais especificamente o estado de Pernambuco, descrito no documento como “(…) a mais importante cidade de toda aquela costa”. Assim, foi decidido que Jamie Lancaster seria o capitão da expedição de invasão.
Chegando à costa nordeste brasileira, Lancaster avistou três navios holandeses, dos quais esperava uma revolta. No entanto, os navios holandeses baixaram as âncoras e deixarem que os navios ingleses atracassem tranquilamente, e mais que isso: se aliaram aos ingleses. O capitão inglês permaneceu quase um mês em Pernambuco, e com a ajuda dos holandeses e franceses que vieram após sua chegada conseguiu conter todos os contra-ataques portugueses. Os ingleses saíam de Pernambuco levando algodão, pau brasil, cana de açúcar e diversas outras mercadorias valiosas.
Logo após essa primeira experiência com a invasão, os holandeses mandaram duas expedições ao Brasil: a de Van Noort e a de Van Spielbenger. O primeiro, de passagem pelo litoral brasileiro, tentou tomar a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e fracassou, pois além de encontrar a resistência dos indígenas e da artilharia portuguesa, a frota já havia sido danificada em seus destinos anteriores: Patagônia (Chile) e Peru. A segunda expedição, que mirava São Vicente, Ilha Grande e Cabo frio também fracassou. Foi somente em 1624 que a invasão ocorre de fato.
Invasões de Salvador, Olinda e Recife
Como sabiam da vulnerabilidade do litoral do norte do Brasil colônia, os holandeses resolver iniciar a primeira invasão por Salvador, então capital da colônia, em 1624. O almirante Jacob Williekens atacou e conquistou a cidade, capturando as então autoridades portuguesas e enviando-as aos países baixos.
Já a conquista de Olinda e Recife ocorreu 6 anos mais tarde, em 1630. No mar do Caribe, Piet Hyen consegue interceptar um navio espanhol que levava todas as riquezas em prata das colônias para Espanha. Com esta riqueza, a Holanda conseguiu armar uma nova expedição que visava conquistar o estado mais rico do Brasil.
Durante o período de domínio holandês, foram diversas as tentativas do governo português, aliado aos indígenas, conhecedores ímpares dos locais citados, de tentar repelir a conquista, tarefas nas quais falharam inúmeras vezes. Enquanto isso, o domínio holandês no Brasil colônia crescia cada vez mais.
Na Europa, Portugal se livra do domínio espanhol e assina um acordo de paz com os países baixos. No Brasil, os senhores dos engenhos, sob cobrança constante dos holandeses para a liquidação de suas dívidas, começaram uma revolta ao domínio holandês, que ficou conhecida como a Insurreição Pernambucana (ou Guerra da Luz Divina), resultando na expulsão definitiva dos holandeses.
Apesar desta sequência de acontecimentos, o legado dos holandeses para o Brasil, e em especial os nordestinos, é inegável. Na música local, foi incorporado o violino holandês (rabeca), e acredita-se que diversas tradições culturais do nordeste tenham sido influenciadas pela cultura dos países baixos. Além disso, como as expedições não levavam mulheres, a miscigenação entre holandesas e índias, negras, mulatas e cablocas foi estimulada, resultando em uma grande diversidade genética. Segundo pesquisas, hoje cerca de milhão de nordestinos possuem herança genética dos cerca de oitenta mil holandeses que instalaram-se no nordeste na época das invasões.