Saci-Pererê

História do Brasil,

Saci-Pererê

Quem não ouviu falar na lenda do Saci-Pererê? Trata-se daquele moleque pretinho, que se move pulando numa perna só, trajando um gorro, touca ou carapuça vermelha, e por nada larga o cachimbo.

Saci-Pererê

 

Tem por atividade e ideal de vida pregar peças em todo tipo de ser vivo e demonstrar sua satisfação com o sucesso das travessuras dando saborosas gargalhadas. Em noites sem luar, o moleque gosta de assobiar, traço de uma personalidade irrequieta, que não o deixa parar por um minuto sequer. Pior para suas vítimas, que sofrem com suas travessuras intermináveis.

Fruto de várias imaginações

O folclore brasileiro é riquíssimo. Tal condição se deve à multiplicidade de etnias e culturas que se cruzaram nas terras brasileiras desde a ocupação do homem branco, que teve início no começo do século XVI.

Em seguida, chegaram em grande quantidade os negros escravizados, que antecederam a vinda de imigrantes europeus de outras nacionalidades, como italianos, alemães e de muitas outras origens.

O Saci-Pererê é uma espécie de construção folclórica feita a várias mãos. A quem possa duvidar, o traço da cultura cristã está presente no horror que o personagem da mitologia brasileira tem por cruzes; sem contar com o cheiro de enxofre que deixa por onde passa, que remonta aos demônios na cultura religiosa branca.

Afirma-se que a origem do Saci-Pererê é indígena. O moleque negrinho de uma perna só teria nascido indígena, tinha as duas pernas, pele bronzeada e uma cauda. Naquele tempo, já era um ser envolto em mistério, pois era uma criatura da noite. Yaci-yaterê, de origem tupi-guarani, é o nome original do personagem traquinas. Yaci, na língua nativa, quer dizer “lua” na língua tupi.

O saci original teria surgido no sul. Foi ganhando suas características atuais desde que os negros e brancos se apropriaram da lenda. e os negros, principalmente, deram a ele outras características. Não se sabe se os brancos ou os negros conferiram ao personagem características que remetem a cultura do oriente médio, lembrando a história de Aladim e a Lâmpada Mágica. Saci também pode ser capturado e se tornar um servo fiel de seu novo senhor, lhe realizando os desejos.

Poderes mágicos e espírito de porco

Sim, o saci tem poderes mágicos, que estão concentrados em sua touca vermelha. Por meio desses poderes, é capaz de aparecer e desaparecer a qualquer momento.

Que ótimo, porque assim pode se evadir dos locais de suas terríveis travessuras. O cardápio inclui todo tipo de maldade, como amarrar as crinas dos cavalos, assustar os cachorros, invadir as casas dos homens para bagunçar tudo que vê pela frente, esconder os brinquedos das crianças, queimar o feijão na panela e aprontar todo tipo de traquinagem.

O ponto fraco é justamente a origem de seus poderes: a touca. Para subjugar o arteiro, é só conseguir roubar sua toca. A outra forma é capturar o danado dentro de um rodamoinho de poeira, que é do que mais se ocupa um saci durante a vida.

É só arranjar uma peneira de cruzeta e tacar no redemoinho. Tio Barnabé, em Sítio do Picapau Amarelo, obra de Monteiro Lobato que se transformou em famosa série infantil na televisão, afirma que em todo redemoinho tem sempre um saci.

Depois de capturar o saci, é só aprisioná-lo dentro de uma garrafa fechada com uma rolha e com uma cruz, porque é a cruz, e não a rolha, que o manterá preso. Além disso, é preciso tomar-lhe a carapuça e guardar bem guardado.

Como se livrar do saci

Além de ter o poder de aparecer e desaparecer, o saci, apesar de ter uma perna só, é bastante ágil. Não é fácil capturá-lo ou se livrar dele.

O saci é capaz de selar cavalos e criar tornados para se locomover por meio deles. Diz a lenda que aqueles que adentram a floresta em busca de ervas medicinais devem pedir-lhe licença, de modo a evitar que se tornem vítimas de seus truques e travessuras.

Uma característica desse personagem que remonta à sua origem tupi-guarani é o seu grande conhecimento do poder medicinal dessas ervas. O saci é capaz de produzir chás e medicamentos naturais, um traço da cultura indígena ainda presente nos dias atuais, que, inclusive se disseminou em todas as raças e etnias que se juntaram no território brasileiro.

Apesar de todas as suas múltiplas habilidades, o saci tem também suas vulnerabilidades. Além de poder ser capturado, há outras formas de se livrar dele quando o objetivo é somente evitar seus truques e maldades. Afinal de contas, nem todo mundo quer ter uma criatura de tamanha má índole.

Uma das formas de se livrar dos truques do saci é atravessar a água corrente. Pode ser um córrego ou um rio. Nesse caso, o saci desistirá da perseguição à vítima, porque ao atravessar a água corrente perderá todos os seus poderes.

A outra forma de escapar das travessuras é soltar no caminho uma corda cheia de nós, porque isso o obriga a parar para desatá-los. Recomenda-se, ainda, em alguns casos, fazer uma oferenda de cachaça ou tabaco para alimentar o cachimbo, o que remonta aos rituais africanos de magia, até hoje presentes em cultos como a umbanda e o candomblé.

Saci é quase uma entidade, um meio demônio, que bebe sangue das éguas, em forma de personagem folclórico que alimentava as histórias das noites nas senzalas, distraindo e assustando as crianças.