Bocage: Vida e Obra do Arcadista Português
Quando falamos sobre o Arcadismo, principalmente o português, logo nos vem a cabeça alguns autores importantes que fizeram parte do movimento, entre eles Tomás Antônio Gonzaga e Manuel Maria Barbosa du Bocage ou, como é conhecido, Bocage.
Bocage nasceu no ano de 1765 na cidade de Setúbal, em Portugal, e tem grande importância para os lusitanos por ser o autor de maior expressão em toda a literatura arcáica portuguesa. No entanto, Bocage viveu em uma época em que o movimento passava por uma transição, saindo do estilo ultraclássico para o romântico e, por isso, é possível encontrar em suas obras os dois estilos do Arcadismo.
Sobre Bocage
Manuel Maria Barbosa du Bocage era filho de bacharel e neto de um almirante francês por parte de mãe, de quem herdou o sobrenome que usou em todas as suas obras, o Bocage.
Em suas obras, pode-se ver muito sobre sua infância triste e longe do pai, já que o bacharel foi acusado de desviar a décima da cidade de Beja e acabou condenado à prisão, fazendo assim com que Bocage crescesse sem a presença do pai. Sua mãe faleceu quando ele tinha apenas dez anos e seu pai ainda estava preso, o que tornou sua vida cheia de melancolia.
Acredita-se que Bocage entrou no exército por causa de um amor não correspondido, mas acabou desertando logo depois de terminar seus estudos na Escola da Marinha Real. Mesmo assim, ele foi nomeado por D. Maria I como guarda. No ano de 1786, embarcou para a Índia, mas acabou aportando na cidade brasileira do Rio de Janeiro.
Sua paixão pela cidade brasileira foi tanta que Bocage acabou escrevendo uma série de poesias com a intenção de adular o vice-rei e, assim, permanecer morando na cidade mesmo depois que a nau que veio fosse embora. No entanto, não conseguiu tal feito e acabou voltando para sua viagem a caminho das Índias, descendo ainda em Moçambique e Pangim, onde novamente voltou aos estudos, mas três anos depois desertou.
Logo depois, Bocage foi preso pela inquisição e acabou se dedicando à tradução de poemas latinos e também franceses para passar o tempo. Quando voltou para Portugal, Bocage iniciou sua carreira na atividade literária entrando no movimento de Arcadismo de corpo e alma, que tem como característica o culto e exaltação a natureza e o lema do carpe diem, além de usar a mitologia clássica.
O nome Arcadismo vem, inclusive, de Arcádia, uma região da Grécia onde pastores criavam suas ovelhas e que recebeu esse nome por causa do semideus Arcas. Entre as principais características do movimento estão à ascensão do Iluminismo por toda a Europa, assim como o racionalismo e também a evolução de todas as áreas das ciências. Aqui no Brasil, o movimento chegou junto com a família real portuguesa, motivo pelo qual fez com que até hoje estudemos esses poetas portugueses com tamanha importância, já que sabemos que os primeiros livros e a primeira prensa brasileira chegaram ao país em 1808 junto com a embarcação que trouxe a Família Real de Portugal.
Foi também por isso que Bocage participou de uma associação arcáica conhecida como Nova Arcádia, onde adotou o pseudônimo Elmano Sadino, assinando assim algumas obras. Porém, Bocage não conseguiu se manter por muito tempo nesse estilo arcáico, já que achava a poesia muito artificial. Foi aí que se dedicou a escrever no viés mais romântico do arcadismo, decorrendo mais sobre seus dramas amorosos, mundo interior e dramas existenciais, conseguindo alcançar uma enorme gama de leitores e se tornando na época o poeta mais lido no país lusitano.
Foi exatamente por isso que Bocage ficou conhecido como um poeta de transição, já que sua obra tem características arcáicas e românticas. Foi considerado assim um sonetista lírico escrevendo idílios, canções, fábulas, epístolas e odes, assim como Antero de Quental e o mais conhecido dos poetas portugueses, Camões.
Sobre a obra de Bocage
Bocage tem mais de 11 obras famosas em Portugal, entre elas estão Mágoas Amorosas de Elmano, A Pavorosa Ilusão, Improvisos de Bocage, Convite à Marília, Elegia, A Virtude Laureada, O Triunfo da Religião, Cantiga à Morte de D. Inês de Castro, À Puríssima Conceição de Nossa Senhora, Queixumes do Pastor Elmano Contra a Falsidade da Pastora Urselina e À Morte de Leandro e Hero.
Com algumas de suas obras Bocage foi acusado, processado e preso pela Inquisição já que satirizava o clero e a nobreza portuguesa em um tom forte e por vezes agressivo. No entanto, depois de ser preso deixou de lado os poemas e poesias satíricas e passou a ser conhecido por seu conteúdo obsceno e picante, com o qual também ganhou muito visibilidade.
Manuel Maria Barbosa du Bocage acabou por falecer no ano de 1805 na cidade portuguesa de Lisboa.
Sua importância é tão grande para os portugueses que, mesmo depois de mais de 200 anos de sua morte, ele ainda é lembrado na cidade em que nasceu no dia 15 de setembro, dia de seu nascimento, com um feriado municipal.