Drama: O texto dramático

Literatura,

Drama: O texto dramático

Longe de ser uma palavra que apresenta um único significado, quando falamos em “drama”, entretanto, é possível que a primeira ideia que nos venha a cabeça diga respeito a uma ação exagerada, descabida. Dramático nos parece ser aquele que torna um fato corriqueiro ou um problema simples em um acontecimento de larga escala. E, não por acaso, essas sensações tem tudo a ver com a origem e o com o real sentido do drama.

Ao lado da prosa (em suas variantes expressões) e da poesia, o drama se apresenta como um gênero literário cuja razão de ser, cuja tarefa final, será sempre a encenação. Um de suas definições mais simples, portanto, é que o drama é o texto literário para teatro. A origem do termo é o grego, em que a palavra significa literalmente “ação”. Um texto dramático, portanto, é um texto em que existe uma ação, um conflito presente que vai ser desencadeador de uma série de outras ações, e que repercutirão na vida dos personagens envolvidos.

O texto dramático

Uma das primeiras conceituações sobre o drama veio do filósofo grego Aristóteles, em sua obra clássica Poética, em que ele se ocupa sumariamente em definir por meio de características comuns o gênero trágico do teatro. O drama tem, portanto, sua raiz calcada na articulação necessária entre o texto e a encenação, a literatura e a prática dessa literatura.

O texto dramático

Se olharmos somente para trás, toda a tradição literária nos aponta para uma diferenciação sumaria e essencial entre o texto dramático e todos os outros: ele carrega consigo, na maioria das vezes, duas camadas que se desenvolvem paralelamente. Enquanto uma enuncia as falas e as ações dos personagens, a outra se preocupa em narrar os modos como eles se comportam, os lugares onde eles se encontram e os sentimentos que tomam contam deles. A primeira é conhecia como a réplica, enquanto a segunda possui o nome de didascália ou rubrica.

É certo que a dramaturgia contemporânea há muito suprimiu a necessidade obrigatória dessa divisão de ações: hoje em dia, após uma série de reformulações e discussões críticas sobre os limites da arte, a linha que separa um texto dramático de um poema, por exemplo, é muito tênue. A ideia de que a dramaturgia é composta por um guia de ações para aqueles que a irão representar ao lado de um enunciado verbal respectivo a essas ações vai, aos poucos, dando lugar para uma noção mais ampla e mais performativa a respeito dos devires desse texto.

É o caso de alguns dramaturgos como o alemão Heiner Muller ou a britânica Sarah Kane, cujos textos são compostos por frases soltas, enunciações, pouca ou nenhuma referência obrigatória sobre quem ou o que emite cada frase, além de comentários ou observações dentro do texto que fazem referência a própria obra. Apesar da diferença entre esse tipo de peça e a dramaturgia clássica de Shakespeare ou o drama burguês de Tcheckov, ainda existe um ponto essencial que une todas essas variantes: o fato de que todos esses textos são obras que só se realizam quando se materializam, ou seja, quando ganham vida e transformam-se em representação.

Dentre os autores de maior destaque na história do drama, podemos destacar nomes como Eugène Ionesco, Luigi Pirandello, Bertold Brecht, Tenesse Williams, Samuel Beckett, e os brasileiros Plínio Marcos, Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal.

Melodrama

O ator começa a declamar o seu texto e, enquanto os espectadores se emocionam, violinos tocam um tema romântico ao fundo, sensibilizando a todos aqueles que o escutam. Essa é a característica essencial do melodrama: sensibilizar o espectador aliando ao enunciado verbal um efeito sonoro. Não por acaso, “melos” em grego quer dizer música, canto. O melodrama é uma ação que está imbuída, ainda que não literalmente, de uma trilha sonora. Essa, por sua vez, será a responsável por instaurar uma atmosfera que conecte o público com o espectador no plano da subjetividade.

Esse modelo teatral encontrou sua maior resistência em fins do século XIX, quando o racionalismo em voga na época respondia às artes com o surgimento da escola Naturalista e Realista. O melodrama, associado diretamente ao gênero romântico, foi perdendo cada vez mais espaço no teatro, sendo praticamente relegado ao ostracismo.

Sua recuperação, entretanto, foi vigorosa: com o surgimento das rádios e dos meios de comunicação de massa que também pretendiam produzir dramaturgia, o melodrama se desenvolveu, se aprimorou e, resgatando a periodicidade e a estrutura dos folhetins que eram publicados em jornais e revistas, renasceu e conquistou o grande público em sua expressão mais bem acabada: as novelas, que hoje praticamente tomam conta do imaginário de brasileiros e cidadãos do mundo todo quando o assunto é ficção.

Conceber a vida como uma série de respostas às ações que nos acontecem, perpetuando assim um ciclo eterno de transformações é a proposta artística do drama. E sua existência não só se justifica como uma maneira de nos entreter, mas é também essencial para que possamos refletir sobre nossa condição de seres coletivos. Não à toa, a história do drama sempre acompanhou a história da humanidade.