Literatura boliviana
A literatura é um aspecto muito importante para definir a cultura de um país. Além disso, tem a característica de refletir as transformações sociais que a nação enfrenta ao longo do seu histórico, e a Literatura Boliviana é um bom exemplo disso. Durante a Ditadura Militar, que vigorou no país de 1964 até 1982, por exemplo, a produção artística, incluindo a literária, teve uma queda representativa, pois grandes talentos tiveram que se exilar para evitar as consequências da opressão.
Mas essa é apenas uma das muitas faces da literatura em nosso país vizinho. E ela é tão rica que vale muito à pena conhecer!
Época pré-colonial e colonial
Assim como no Brasil, a literatura boliviana é dividida em fase de acordo com aspectos que as obras de cada época tinham em comum. A primeira delas é a pré-colonial, que remete diretamente à cultura dos incas, que dominavam a região. É também conhecida como literatura nativa quíchua, língua que já era falada antes mesmo do povo inca, perpassou-os e permanece até hoje como dialeto em alguns países latinos.
Durante essa época pré-colonial da literatura, o destaque eram as poesias, as histórias que narravam grandes feitos heroicos, além de hinos religiosos. As poesias costumavam ser recitadas, acompanhadas por instrumentos musicais rudimentares. Além disso, elas eram proferidas por sacerdotes, em forma de homenagem aos deuses que faziam parte da sua cultura, principalmente em datas festivas ou momentos conflituosos.
Alguns poemas e hinos se destacaram, é o caso do jailli, que pedia prosperidade e felicidade ou do wawaqui, um poema recitado em forma de diálogo. Alguns estudiosos da cultura boliviana afirmam que os incas também realizavam dramatizações, peças de teatro. Ollanta seria uma das mais populares.
A fase colonial da literatura boliviana vai de 1492 até 1825 e refere-se à época em que o país foi colonizado pela Espanha. Entre os escritores da época, o que mais se destacou foi Bartolomé Arzáns de Orsúa y Vela, especialmente pela obra intitulada “Historia de la Villa Imperial de Potosi”, que é considerada, oficialmente, o primeiro livro boliviano. Nele, o autor faz um relato sobre a formação da cidade de Potosi, e, de certo modo, como funcionavam as cidades a serviço da colonização espanhola, quais eram as suas funções e importância para a afirmação da dominação europeia. Por isso, além de literária, também pode ser considerada uma obra histórica.
Os temas religiosos continuaram sendo trabalhados no período colonial. Carlos Inca é outro importante nome da época. Nascido em Cuzco, seu verdadeiro nome era Carlos Calixto Bustamante, e ele foi um dos pioneiros do gênero satírico e humorístico. Para se ter ideia, uma de suas produções mais famosa se chama Lazarillo e fala sobre caminhantes cegos.
Época pós-colonial e literatura contemporânea
A Bolívia se declarou independente da Espanha em 6 de agosto de 1825 e a era pós-colonial na literatura é breve: de 1825 até 1899. Mesmo assim, é muito importante e deu ao mundo a pessoa que ficou conhecida como “príncipe dos escritores bolivianos”, Gabriel Rene Moreno, que além de escritor também foi historiador, educador, ensaísta e crítico literário. Entre seus títulos mais importantes estão “Últimos dias coloniais no Alto Peru”, “Introdução ao estudo dos poetas bolivianos” e “Elementos da literatura preceptiva”.
Também foi um grande expoente desse momento o autor Juan Wallparrimachi, com títulos importantes, como “Minha mãe”, “Tua pupila”, “Despedida” e outros. Acredita-se que muitas poesias de Juan tenham sido reproduzidas ao longo dos anos como autoria desconhecida, como se fossem de sabedoria popular.
Em 1900, teve início a literatura contemporânea na Bolívia. Vale ressaltar que foi nesse período que o país vivenciou a Ditadura Militar, que, infelizmente, freou as produções. Hoje em dia, essa manifestação cultural está bem mais evoluída. Entre os principais autores mais atuais, estão:
- Adolfo Cárdenas
- Homero Carvalho
- Giovanna Rivero
- Ramón Rocha Monroy
- Gonzalo Lema
- Edmundo Paz Soldán
- Victor Montoya
Giovanna, por exemplo, escreve contos e novelas, como “Sangue doce” e “98 segundos sem sombra”, respectivamente. Victor Montoya é considerado um dos maiores propulsores da literatura no país atualmente, tendo escrito, entre outras obras, “Dias e noites de angústia”, “Contos violentos”, “O labirinto do pecado”, “Retratos” e “Contos no exílio”.
Para incentivar as produções literárias, especialmente enfraquecidas após o período ditatorial, foi criado, em 1998, o Prêmio Nacional de Novela. O Ministério da Cultura do país é o responsável pelo evento que reconhece os melhores romances e os autores que se destacam. O último vencedor divulgado é de 2014, trata-se de Baudoin Magela, com o romance “O som do H”.
É importante ressaltar que aqui enfatizamos as obras escritas, mas especialmente na fase pré-colonial, quando a Bolívia era dominada pelos Incas, as histórias eram reproduzidas apenas oralmente e passavam de uma geração para a outra. Mesmo que seja difícil rastrear essa parte da cultura, ela também é muito rica, além de significativa.