O que foi, Características e o Rococó no Brasil
As manifestações artísticas costumam ser didaticamente subdivididas em períodos, levando em conta as principais características que apresentavam em cada momento. Essa divisão é didática porque quando os artistas estão produzindo as suas obras (sejam elas de artes plásticas, literatura, música, arquitetura ou qualquer outra) não estão pensando “vou fazer uma obra com as características do Rococó”! Essa organização é feita por estudiosos anos mais tarde.
O que torna possível essa divisão da arte em momentos com características próprias é o fato de que ela não se dissocia da realidade nunca. A sociedade vem passando por transformações desde o surgimento das civilizações mais primitivas e essas mudanças refletem diretamente em suas produções artísticas. Não se pode estudar a arte sem contextualizá-la historicamente, socialmente e geograficamente.
Após esses primeiros esclarecimentos fundamentais, vamos nos aprofundar em uma manifestação artística extremamente conhecida e que deixou um verdadeiro legado por onde passou: o Rococó.
O que foi o Rococó?
Foi um estilo artístico que surgiu na Europa no século XVIII, primeiro na França e depois se espalhando pelos países vizinhos. Por conta dos movimentos de colonização, ele saiu do “Velho Continente” e veio para a América, inclusive para o Brasil.
O termo Rococó vem da palavra francesa “rocaille”, uma espécie de concha que era muito usada como objeto decorativo.
O Rococó só foi reconhecido como um estilo próprio em meados do século XX, após as pesquisas de Fiske Kimball. Até então, ele era considerado uma espécie de fase posterior do Barroco, um desdobramento daquele estilo. Hoje, sabemos que não é bem assim!
O estilo artístico que está sendo objeto do nosso estudo está muito relacionado com a burguesia europeia e como ela estava buscando a classe, a graciosidade e a delicadeza naquele momento. É por isso que as obras típicas do Rococó ganham cores mais claras e delicadas (esse já é o primeiro contraponto com o Barroco), o verde e o cor-de-rosa eram muito usados.
Outras características que marcaram esse estilo foram as seguintes:
• As linhas deixaram de ser retorcidas como eram no Barroco para se tornarem mais suaves, delicadas e leves;
• Temas cotidianos, representação da vida trivial levada pelos integrantes da burguesia;
• Ausência de interferência religiosa nas obras, pelo menos, em QUASE todos os lugares. O Brasil foi uma das exceções;
• Obras abordando as relações humanas, interpessoais;
• A natureza aparece muito como temática. Representação de árvores, flores, pássaros, cachoeiras;
• Busca pelo refinado e agradável.
Esse estilo apareceu predominantemente na literatura, pintura e na arquitetura. Os maiores expoentes dessa arte são franceses: Jean-Antoine Watteau (pintor), Nicolas Pineau (designer de interiores), Pierre Lepautre (decorador) e muitos outros.
A arquitetura do Rococó se caracteriza por ser mais “limpa” do que o que se via até então. O exagero de detalhes e ornamentos é substituído por uma simplicidade elegante. O mesmo acontece com a literatura: o estilo rebuscado vai sendo deixado de lado, assim como as dualidades entre bem/mal, certo/errado, céu/inferno. Embora não sejam tão numerosas, as obras literárias eram um retrato da vida burguesa.
Em resumo, a consolidação de um estilo como esse mostra um estado de equilíbrio instaurado na burguesia europeia do século XVIII. É um pouco contraditório, visto que os países se encontravam em plena efervescência, inclusive, algumas revoluções importantes são desse período (a Revolução Francesa data de 1789, por exemplo).
Apesar disso, o Rococó reflete que a classe dominante sentia que finalmente havia conseguido estabelecer o equilíbrio entre a fé e a razão, natureza e arte, autoridade e espontaneidade. Pois é tudo isso que se percebe nas pinturas, textos, decoração e obras arquitetônicas desse período.
Rococó no Brasil
Analisando friamente, esse estilo de arte não demorou muito para chegar no Brasil, pois já exercia sua influência em nossa terra durante o século XVIII mesmo. A primeira vez que essa linha artística apareceu por aqui foi na parte mobiliária, que era muito apreciada por D. João V. Tanto é que muitos se referiam ao Rococó como “a arte de D. João V”.
Diferente do que aconteceu em outros países, no Brasil essa manifestação artística aparecia intimamente relacionada com a arquitetura religiosa, principalmente em Minas Gerais (Ouro Preto é um dos exemplos mais simbólicos), Rio de Janeiro, Belém, Pernambuco e Paraíba.
Por ter essa aproximação com a religiosidade, no Brasil o Rococó realmente se mistura muito com o Barroco, não sendo tão fácil diferenciar um do outro. Os maiores nomes nacionais foram Manuel da Costa Ataíde, Francisco Xavier de Brito, José Pereira Arouca e o célebre Aleijadinho.
Quem visita a Igreja de Santa Rita, no centro do Rio de Janeiro, pode observar claramente a arquitetura e decoração típicas do Rococó: muito dourado, desenhos de flores e uso de conchas. Por ser uma igreja, também é um ponto que serve para ilustrar a religiosidade impregnada no Rococó e, como consequência natural disso, a sua semelhança com a arte barroca.