Resumo Meninão do Caixote – Conto de João Antônio
João Antônio Ferreira Filho foi um escritor, jornalista e intérprete paulista. Reconhecido pelo pioneirismo no formato que ficou conhecido como conto reportagem, João trabalhava em suas obras com uma visão do cotidiano do ponto de vista marginalizado, retratando personagens da periferia e do submundo de São Paulo e outras grandes cidades. O autor viveu entre 1937 e 1996, de modo que presenciou diversas transformações na organização da sociedade brasileira.
A obra mais popular de João Antônio é o livro de contos “Malagueta, Perus e Bacanaço”. Os contos desta obra se dedicam a descrever pessoas de origem humilde e periférica, seguindo a cronologia de uma noite dos três personagens centrais. O livro foi lançado em 1963 e marcou a carreira de João Antônio, que até a época não era reconhecido como escritor. Após este período, o escritor trabalhou no Jornal do Brasil, na Revista Realidade, na revista Manchete e no O Pasquim.
No livro “Malagueta, Perus e Bacanaço” é possível identificar os aspectos literários dos contos reportagem, que, ao mesmo tempo em que contam histórias de modo literário, retratam o dia a dia da sociedade paulista da época. O gênero conto reportagem, portanto, parte da junção de um esforço jornalístico de observação de uma sociedade, associado à forma lírica e poética de se empregar estas histórias. Não à toa, os contos da obra de João Antônio se tornaram populares na cidade. Ao descrever a população em sua verdadeira face, o povo, que até então não se via representado em obras literárias, passa a enxergar o reflexo de sua realidade escrito nas folhas de papel.
Resumo: o Meninão do Caixote
O “Meninão do Caixote” é um conto publicado em “Malagueta, Perus e Bacanaço”. Na estória, o personagem principal é apenas um garoto, que se destaca no livro pelo seu talento para jogar bilhar. A admiração pelo pai, caminhoneiro paulista que sempre o leva para passear na lagoa, é um dos principais sentimentos expressos pelo garoto. No entanto, a mãe do garoto é uma personagem mais dura, dando ordens e brigando com o menino.
O destaque no jogo de sinuca acontece de forma ocasional. Cumprindo uma ordem da mãe, o garoto vai até o Bar da Paulistinha para comprar alguns mantimentos. A chuva, no entanto, o impede de voltar para casa. Enquanto espera a chuva passar, o menino passa a observar os homens que jogam na mesa de bilhar. Um destes homens é Vitorino, recente amigo que incentiva o garoto a observar o jogo e dar suas primeiras tacadas. Como sua altura não permitia que ele realizasse as jogadas, o garoto sobre em um caixote e, gradualmente, se torna um grande jogador de sinuca. Na descrição de João Antônio, é possível ver a alegria do garoto em aprender e melhorar seu desempenho na atividade.
Aos poucos, o hobby dos jogos de sinuca passa a fazer parte da vida do garoto de forma mais intensa. No entanto, como frequenta a escola e ainda vive com os pais, não demora muito para que sua mãe demonstre-se preocupada com as novas companhias e espaços que o filho frequenta. Para jogar sinuca, o menino deixa de ir às aulas e briga com sua família, chegando a fugir de casa para ir ao bar jogar com seus amigos. As apostas em dinheiro passam a fazer parte dos jogos de sinuca e Vitorino se aproveita da sua proximidade com o garoto para utilizá-lo como uma forma de ganhar dinheiro pelos bares de São Paulo.
Infeliz com a necessidade do jogo, o menino passa por momentos em que tenta deixar de jogar sinuca. No entanto, após receber dinheiro com o talento do menino, Vitorino sempre regressava e persuadia o garoto, que acabava voltando para o círculo de jogatina. Apesar de tentar resistir às investidas de Vitorino, a ausência do pai, entre outros fatores, o faziam jogar sinuca por dinheiro mais uma vez.
O conto termina de forma sutil, característica do retrato cotidiano que João Antônio busca transmitir em suas obras. Durante um jogo de bilhar, a mãe do garoto vai até o bar levar uma marmita para ele. Preocupada com a alimentação e com a condição em que o filho se encontrava, entra mansamente no ambiente extremamente masculino para entregar um prato de comida ao garoto. O momento, no entanto, marca a vida do menino, que desaba em lágrimas ao ver a cena. Imediatamente, decide ir embora e nunca mais voltar ao local de jogatinas e, nem mesmo, a jogar sinuca em outra ocasião.
As últimas palavras do conto “Meninão do Caixote” demonstram a riqueza de detalhes que o escritor emprega em sua obra. O menino segue a mãe, em uma noite de domingo, onde as ruas estavam tomadas pelos namorados e famílias passeando. Ao andar mais rápido para alcançar a mãe, o menino lhe dá a mão e em silêncio os dois seguem para casa.