Vida e Obra de Tomás Antônio Gonzaga
Nós sabemos que nossa literatura e a literatura mundial são matérias ricas e cheias de movimentos e autores que marcaram época e que, até hoje, são frutos de muito estudo, pesquisa e admiração. A literatura brasileira, em especial, sofre uma intensa mescla com a literatura portuguesa, isso porque durante muito tempo os autores portugueses visitavam a colônia de seu país e por aqui ficavam um bom tempo, fosse por paixão ou, até mesmo, por necessidades profissionais ou pessoais. Com isso, por um período nossa literatura e a literatura portuguesa se confundem, em alguns momentos até se fundem e percebemos como sofremos uma forte influência nesse quesito.
Um dos autores portugueses que também é importante para nós, é Tomás Antônio Gonzaga. Natural da cidade de Miragaia, próximo à famosa e conhecida cidade do Porto, em Portugal, o autor foi jurista, ativista político, formado em Direito e tem como Dirceu seu nome arcáico.
Sobre Tomás Antônio Gonzaga
O português nasceu no ano de 1744 e era filho de pai brasileiro e mãe portuguesa o que acabou contribuindo para que ele passasse boa parte de sua infância no Brasil, e para cá retornasse depois de adulto. Quando perdeu a mãe ainda pequeno, Tomás Antônio Gonzaga passou a viver em Pernambuco durante os primeiros anos e depois no estado da Bahia, onde ingressou no Colégio dos Jesuítas.
Quando tinha 18 anos, o jovem decidiu regressar a sua terra natal para estudar Direito na Universidade de Coimbra, uma das mais antigas do mundo, onde se tornou, em 1768, Bacharel em Leis. Durante seus estudos, Tomás Antônio Gonzaga se aprofundou nos princípios iluministas e acabou escrevendo uma tese assim que se formou, o Tratado de Direito Natural, no intuito de lecionar na mesma Universidade que cursou.
Desistindo da ideia de se tornar professor, Tomás Antônio Gonzaga acabou se tornando juiz na pequena cidade de Beja, ainda em terras lusitanas, mas voltou ao Brasil pouco tempo depois, no ano de 1782, onde recebeu a nomeação de ouvidor dos Defuntos e Ausentes, em Vila Rica, onde hoje fica situada a cidade histórica de Ouro Preto, muito importante na época do ouro.
Foi nessa cidade que o português conheceu o grande amor de sua vida, Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, uma jovem de apenas 16 anos que era conhecida como pastora Marília. A jovem foi a responsável por seus poemas líricos e ficou então conhecida como sua musa inspiradora.
Tomás Antônio Gonzaga não deixou de escrever suas obras quando se tornou juiz e fez duras críticas ao governo colonial com Cartas Chilenas, que foi escrito como um poema satírico. Logo depois o juiz foi nomeado Desembargador na Bahia e decidiu pedir Maria Doroteia, agora com 18 anos, em casamento. No entanto, o casamento não chegou a acontecer, já que, por sua participação na Inconfidência Mineira ao lado de personagens como Alvarenga Peixoto, Silva Alvarenga e Cláudio Manuela da Costa, o poeta acabou acusado de conspiração e foi preso um ano depois de ficar noivo da jovem. Durante três anos, o poeta ficou preso no Rio de Janeiro e, a pedido da Rainha de Portugal, foi enviado ao exílio na África do Sul por, pelo menos, 10 anos.
Na África, Tomás Antônio Gonzaga conheceu Juliana de Souza Mascarenhas, filha de um comerciante de escravos muito rico com a qual acaba se casando, mesmo que Doroteia ainda estivesse em seus pensamentos e obras. Com a mulher, Tomás Antônio Gonzaga tem dois filhos e em 1810 acaba por falecer, sem reencontrar seu grande amor.
A obra de Tomás Antônio Gonzaga
Antes de ser preso em Minas Gerais, o poeta começou a escrever sua mais importante e conhecida obra, Marília de Dirceu, poemas líricos que exaltam sua amada Maria Doroteia, conhecida como Marília. Dirceu era o nome arcaico do autor, por isso a obra recebeu o nome Marília de Dirceu.
Mas, foi apenas na época de seu exílio, que Tomás Antônio Gonzaga conseguiu terminar sua obra, que pode ser dividida em dois momentos. A primeira sobre uma fase romântica de seu romance por Doroteia, onde expressa a vontade de ter uma família e a felicidade por seu amor. Já na segunda fase, Tomás Antônio Gonzaga mostra sua reflexão acerca da justiça dos homens e tem no amor por Marília uma verdadeira consolação por sua pena.
Por fazer parte do Arcadismo, o poeta tem como sua principal característica a exaltação pela natureza e por temas bucólicos, assim como um sentimentalismo exacerbado que foi ponto importante de sua obra e que acabou fazendo de Marília de Dirceu uma das obras mais importantes do Arcadismo bucólico e romântico.
A obra do português Tomás Antônio Gonzaga, que ficou órfão no primeiro ano de vida e acabou se mudando pro Brasil, onde encontrou em terras canarinhas o amor e sua principal musa inspiradora, é tão importante que o poeta acabou patrono da cadeira de número 37 da Academia Brasileira de Letras, ao ser escolhido por Silva Ramos.