Cacoetes de linguagem
O nome ‘cacoete de linguagem’ pode até soar divertido, mas a verdade é que ele é capaz de provocar alguns vícios de linguagem extremamente perigosos para os falantes da língua portuguesa.
O que são os cacoetes de linguagem?
Antes de falar sobre os cacoetes de linguagem em sua essência é preciso saber se você realmente sabe o que eles são.
Os cacoetes de linguagem consistem em palavras ou expressões que podem surgir a qualquer momento na fala de indivíduos (geralmente, de um determinado grupo social). Com o passar do tempo, essa fala se torna ‘cristalizada’, ou seja, fixa, e passa a ser repetida automática e constantemente.
Os cacoetes de linguagem são então capazes de ‘adentrar’ no cotidiano dos falantes da língua portuguesa, de modo que eles comecem a utilizar tais expressões automaticamente e sem perceber as constantes repetições.
Notar vícios em nossa própria fala pode ser tardio – mas você com certeza já percebeu o quanto aquele seu amigo ou familiar repete a expressão ‘tipo assim’ em uma mesma história.
Os casos mais perigosos, e consequentemente, extremos dos cacoetes de linguagem são quando eles passam da modalidade oral (ou seja, da fala) para a escrita. Isso ocorre quando tais expressões são tão corriqueiras que passamos a vê-las como palavras normais da língua portuguesa.
Há diferença entre os cacoetes de linguagem e o neologismo?
Sim. Até porque os neologismos não são – e não devem ser – considerados vícios. Alguns neologismos, inclusive, tem até mesmo um espacinho reservado nos dicionários mais modernos.
Já os vícios/cacoetes de linguagem são termos sem significado e que geralmente surgem na fala fora de um contexto específico – ou seja, são palavras sem qualquer tipo de valor linguístico.
Também é possível utilizar cacoetes de linguagem na tentativa de deixar a fala mais ‘rebuscada’ e interessante, ou seja, como se fosse uma trapaça da comunicação.
Quais são os principais cacoetes de linguagem?
Para melhor lhe familiarizar com os cacoetes de linguagem e fazer com que você compreenda a diferença entre eles e o neologismo, confira a seguir alguns exemplos.
A palavra ‘tipo’ é uma daquelas que você com certeza deve conhecer – principalmente se for mais jovem.
Geralmente, a expressão ‘tipo’ é empregada em diferentes discursos de modo totalmente aleatório e sem qualquer significação. Ela fica ‘perdida’ entre demais palavras e também não conta com qualquer tipo de utilidade.
Além disso, o tipo também pode ser utilizado nos discursos como uma forma de ‘pontuar’ na modalidade oral da língua.
Confira um exemplo neste sentido:
– “Ela disse que não tem certeza (tipo) acho que vocês precisam avaliar as circunstâncias (tipo) para não sofrer à toa depois…”.
Neste exemplo, todas as vezes que a palavra ‘tipo’ foi utilizada, ela poderia ter sido substituída por uma vírgula.
O “tipo assim” é um vício de linguagem muito similar ao “tipo”. Também empregado entre os mais jovens, ele vem ganhando proporções gigantescas – mesmo sem tem qualquer tipo de valor semântico.
Vamos considerar alguns exemplos:
– Ela se transformou (tipo assim) em um monstro depois do que aconteceu;
– Eu me senti (tipo assim) enganado;
– É que (tipo assim), eu não estava esperando por isso.
O ‘meio que’ é um cacoete de linguagem tão comum que pasmem: ele é um daqueles que vem sendo utilizado também na linguagem escrita.
Alguns exemplos do uso deste cacoete de linguagem são:
– Eu (meio que) desisti de estudar para aquela matemática;
– Eu (meio que) não sou muito fã de filmes de terror;
– Eu (meio que) fiquei surpreso com a reação dela.
A expressão ‘cara’ também é bem comum no cotidiano dos falantes da língua portuguesa e não, “cara” não tem nenhum tipo de significado. Não à toa, ele pode ser empregado nos mais variados contextos de frases. Confira os exemplos:
– (Cara), o que foi aquela noite?
– (Cara), eu estou confusa… Porque (cara) eu não sei o que ele espera de mim.
– (Cara), não acredito que você perdeu de assistir ao filme com a gente. (Cara), foi muito divertido (cara).
O famoso problema do gerundismo também é um cacoete de linguagem – sendo este um dos mais comuns e também perigosos para os falantes da língua portuguesa.
No caso do gerundismo, também conhecido como um modismo, os falantes da língua acham que estão falando de modo mais robusto e ‘bonito’, quando na verdade, estão utilizando um vício/cacoete de linguagem.
O gerundismo é utilizado principalmente na tentativa de reforçar a continuidade de um mesmo verbo, repetindo-o no futuro. Sendo assim, as frases com presença do gerundismo costumam ser demasiadamente confusas – e sem razão nenhuma para isso.
Alguns exemplos são:
– Nós vamos estar entrando em contato na própria segunda-feira;
– Nós vamos estar diagnosticando o que houve;
– Nós vamos estar entrando em detalhes na próxima reunião.