Os advérbios terminados em “-mente”
Lá nos primeiros anos de escola, após a alfabetização, é normal que boa quantidade das aulas de português sejam dedicadas a conhecer e aprender a empregar as classes de palavras. Definir o que é um substantivo, adjetivo ou verbo pode parecer muito simples para quem já começou a entender como funciona a escrita. Mas existem algumas que costumam ser um pouco mais complexas, mas que, depois de entendidas, passam a fazer todo o sentido. Normalmente, a maior parte dos alunos se assusta quando ouve dizer que o advérbio serve para modificar um verbo. Nessa hora, surge aquela cara de dúvida: como assim? E quando o professor diz que existem vários tipos de advérbio então, há quem entre em pânico.
Porém, não há motivo para todo esse desespero. Estamos aqui hoje para mostrar que entender advérbios não é esse bicho de sete cabeças que parece. Você vai ver como, depois que começar a entender, a brincadeira vai ficar divertida. Eles podem ser de intensidade (demais, pouco), dúvida (talvez), afirmação (sim, sem dúvida), negação (nunca, jamais), tempo (depois, jamais), lugar (abaixo, acima) e modo (aos poucos, a pé). Destes, apenas três podem ser flexionados. São eles os de intensidade, lugar e modo. E ainda assim, a única flexão possível é a de grau. O grau pode ser comparativo de inferioridade, superioridade ou igualdade. E temos ainda o superlativo.
Como você pode perceber, existe uma infinidade de advérbios que podemos explorar ao utilizar a língua portuguesa. Alguns advérbios, entretanto, destacam-se pela terminação em –mente. Embora existam muitos advérbios de dúvida (possivelmente), afirmação (certamente), negação (negativamente) e tempo (constantemente) que levem essa terminação, a grande maioria que se enquadra neste grupo são os advérbios de modo, aliás, a maioria dos advérbios de modo termina em –mente.
Mas por que são chamados advérbios de modo?
Os advérbios de modo são assim chamados, pois tiveram sua origem no latim literário e há quem afirme até mesmo que foram os primeiros advérbios a ser descobertos e portanto, são os originais, aqueles que realmente têm o poder de modificar verbos, afinal eles agem em relação aos verbos da mesma forma que os adjetivos agem em relação aos substantivos.
Fazer essa afirmação, entretanto, é um tanto de exagero, pois todos os adjetivos foram assim reconhecidos e devem ser considerados como parte importante dessa classe gramatical. Então nada de ler esse texto e correr para dizer ao seu professor que você leu na internet que só existem advérbios de modo. Isso é uma teoria defendida por alguns estudiosos, mas o fato é que todas essas classes que citamos acima são advérbios e devem ser estudados como tal.
Normalmente (olha o advérbio aí, gente!), esses advérbios derivam-se do sufixo –mente juntado à forma feminina ou neutra de alguns adjetivos. E assim adquirem o poder de transformar a ação de um verbo. Quer exemplos?
Adjetivo: feliz = advérbio: felizmente
Adjetivo: humilde = advérbio: humildemente
E assim fica fácil perceber a relação entre adjetivos e advérbios. Enquanto o adjetivo atribui ao substantivo uma qualidade (menina feliz) o advérbio pode atribuir a mesma qualidade ao verbo (saiu felizmente). Pensando dessa maneira, fica fácil entender o mecanismo dos advérbios terminados em –mente.
Advérbios terminados em –mente e discurso repetitivo
Você já leu alguma frase na qual haviam vários advérbios terminados em –mente, alguns modificando a mesma palavra inclusive? Provavelmente (mais um advérbio) sim, não é? Você reparou como o discurso fica repetitivo e cansativo quando usamos vários desses advérbios na mesma sentença.
Para evitar o desinteresse de quem lê, existe um recurso em nossa língua, que pode ser usado para tornar o discurso mais elegante, mesmo quando você necessita do uso de vários advérbios terminados em –mente na mesma frase. Quer ver a diferença?
Observe a frase:
- Rapidamente e intensamente, ela procurava pelas respostas corretas para o exercício.
- Rápida e intensamente, ela procurava pelas respostas corretas para o exercício.
Percebeu como a segunda frase tem uma aspecto muito mais culto e elegante do que a primeira? Aí está a importância desse recurso linguístico, que não deve ser dispensado em redações e linguagem escrita, principalmente (mais um com terminação em –mente). Caso você use a forma completa de cada um deles, pode ser que seu texto não seja considerado errado, mas com certeza (ou certamente, se preferir) ficará “feio” se comparado a outro no qual o recurso foi aplicado.
E há um caso específico no qual você não só pode, como deve omitir o uso deste recurso: quando um advérbio modifica outro, já citado anteriormente. Para você entender melhor, vamos exemplificar:
Dinamicamente, profissionalmente, ela seguia as orientações de seu chefe.
Reparou como neste caso são separados por vírgula? E só a vírgula basta para que a sua real função na frase (a de modificar um outro advérbio) seja entendida.
Use as terminações em –mente com cuidado para não ferir a norma culta da língua portuguesa.