Variações da língua
Traços da oralidade (Repetição, mudança de pronúncia, quebra sintática, léxico menos formal, coordenação, elipses).
A comunicação escrita é a forma tangível das imagens acústicas da linguagem articulada, manifesta um estado avançado da língua e só é encontrada nas civilizações evoluídas (há línguas ágrafas, ou seja, que não fazem uso da escrita). Sua origem situa-se na necessidade de os homens conservarem as mensagens para veiculá-las ou transmiti-las. Na linguagem falada, a percepção de uma mensagem é simultânea: na escrita, o receptor só lê a mensagem depois de sua formulação. A escrita é uma garantia legal, confia-se sempre em uma assinatura, num contrato do que em uma palavra dada, ou em um aperto de mão. Na linguagem oral, a comunicação só é possível se o emissor não ultrapassar os limites fisiológicos (pode haver ruídos, por exemplo), se a mensagem for identificável (um código comum ao emissor e receptor) e se o contato psicológico se mantiver.
Repetição: é a marca da oralidade; na escrita culta, deve ser evitada.
Exemplo: Eu falei pra mãe, mas a mãe não escutou. Diz pra mão novamente, tá?
O termo ‘mãe’ é repetido em um curto espaço de tempo. Na linguagem escrita culta, isso não seria adequado.
Mudança de pronúncia: ao pronunciar as palavras, o falante omite sílabas, consoantes finais, abrevia palavras (pra em vez de para) e altera a pronúncia das vogais.
Quebra sintática: outro traço de oralidade é o uso do anacoluto; o falante começa a frase e, em seguida, interrompe-a, iniciando outra.
Exemplo: Você quebrou… agora eu já sei… eu… meu pai vai dar uma bronca em você.
Léxico menos formal: em linguagem oral, o vocabulário é mais informal. Dependendo do falante, há o emprego de gírias ou de um léxico mais chulo (palavrões):
Exemplo: A mina tá viajando, cara. Eu não fiz nada, tá ligado?
Coordenação: o predomínio da coordenação está ligado ao fato de que, nesse tipo de comunicação, utiliza-se uma sintaxe mais simples e frases mais curtas.
Exemplo: O timão foi mal. O que fazer? Mudar o time, claro, e mandar um monte de jogador embora. Mas com aquele técnico… está tudo errado e ninguém faz nada. Droga!
Elipses: ainda que se observe a ocorrência de elipses em linguagem escrita, elas se tornam mais abrangentes em linguagem oral. No texto a seguir, o falante omite palavras como ‘está’ (está na esquerda…), ‘passa’ (Pelé passa de calcanhar), ‘bola’, etc.
Exemplo: O time do Brasil na esquerda com Orlando, Orlando para Pelé. Pelé domina no peito, de calcanhar para Zagalo, Zagalo prepara-se, vê Pelé penetrando rápido na área, Zagalo levanta para Pelé, Pelé entrou de cabeça para o arco e Golllllll!
Coloquial e culto
A norma culta está mais presente na comunicação escrita, pois, neste tipo de linguagem, há a necessidade de um código mais uniforme. O coloquial, por sua vez, é mais utilizado na comunicação oral, pois nesta o receptor está presente e temos o contexto.
Há momentos em que o culto será utilizado na comunicação oral, momentos de maior formalidade; por exemplo, uma palestra. O coloquial também pode estar presente na escrita, por exemplo, no romance, no conto, na crônica, etc.
Os tipos de variantes da língua
Histórica: a língua varia no tempo, há palavras, expressões e construções típicas de determinada época.
Geográfica: a língua varia no espaço; de região para região temos vocábulos e expressões diferentes, que refletem uma geografia e uma cultura peculiares. Em Santos, por exemplo, cidade do litoral sul paulista, o falante pediria 20 pães dessa maneira: ‘- Seu Manuel, dê-me vinte médias!’ Na cidade de São Paulo, no entanto, ‘média’ significa café com leite e pão com manteiga; vinte médias seriam vinte cafés com leite e vinte pães com manteiga. No sul do país, mandioca frita recebe o nome de aipim, já no Nordeste, macaxeira. Palavras em Portugal possuem outro significado, por exemplo:
Alfinete: lá é broche
Bica: o nosso cafezinho
Drogaria: é o nosso armarinho, não vende remédios
Estalo: trata-se de uma bofetada
Fino: chope pequeno
Girafa: cerveja
Hipótese: em Portugal significa chance
Jogo do galo: é o jogo da velha
Quinta: sítio, pequena propriedade
Vai e vem: ônibus espacial
31 de boca: entrar numa fria, mentira
Trepador: ciclista
Reformado: aposentado
Salsicha: é a nossa linguiça
Pipi: órgão sexual feminino das meninas, também pode significar elegante.
Social: a língua varia de acordo com a classe social. Os setores da sociedade mais privilegiados economicamente utilizam com maior frequência a norma culta; já os menos privilegiados, a linguagem coloquial. Alguns escritores utilizam em suas obras, gírias, erros de concordância, repetições e abreviações, uma espécie de variante popular.
Situação: a língua varia conforme a situação, em contextos mais formais, por exemplo, há o predomínio do culto; em situações mais informais, há o predomínio do coloquial.
Exemplo:
Situação de formalidade: Uma cerveja, por favor.
Situação de informalidade: Uma cerva, campeão.