Feira do livro de Frankfurt
A feira do livro de Frankfurt é atualmente o maior encontro de mercado editorial do mundo. É também o mais antigo, pois sua realização anual já completou 500 anos de existência. Sua organização é realizada pela Associação do Comércio do Livro Alemão que, ano após anos, é responsável por conglomerar cerca de 7.000 expositores oriundos de todas as partes do mundo e receber mais de 280.000 visitantes de nações igualmente variadas em um espaço equivalente a 11 campos de futebol, divididos em oito pavilhões.
A realização da feira não se restringe somente a instauração de um ambiente para negociações e exposições de novidades no mercado editorial. É durante o evento que também são entregues dois importantes prêmios alemães: o Prêmio da Paz do Comércio do Livro Alemão e o Deutscher Jugendliteraturpreis, destinado a agraciar o melhor livro da literatura infanto-juvenil do país.
História
A cidade de Frankfurt sempre foi concebida como sendo a capital europeia dos livros, fama que remonta aos tempos de Gutenberg, o inventor da prensa mecânica e consequente pai da difusão da escrita impressa. É pelo menos desde essa época que Frankfurt é sede de uma feira responsável por centralizar e difundir as produções editoriais que circulavam pela Europa.
No século XVIII, a feira do livro foi transferia para Leipzig, cidade localizada na região leste da Alemanha, e só retornou a Frankfurt em meados da década de 40, após o fim da Segunda Guerra Mundial, período no qual houve uma mudança de editoras alemãs de grande porte – como é o caso da editora Suhrkamp, da Insel e da Brockhaus – para a região oeste do país, onde também está localizada a cidade-sede da Feira.
Foi precisamente em 1949 que foi realizada a primeira edição da Feira tal qual a conhecemos hoje. A Alemanha se encontrava com sua economia em frangalhos depois de ter passado por duas grandes guerras praticamente seguidas e ter sido chefiada por um governo totalitário ao longo dos últimos anos. O país saíra da Segunda Guerra Mundial com seu território divido no que viriam ser a República Federal da Alemanha (RFA) e a República Democrática Alemã (RDA).
O cenário, portanto, era não só desolador como aparentemente infértil para qualquer tipo de iniciativa que envolvesse a venda e o consumo de livros, itens aparentemente indispensáveis quando o restrito poder aquisitivo da população só lhes permitia o gasto com o essencial.
Apesar de todos os sinais que evidenciavam o contrário, a primeira edição da Feira, realizada na Igreja de São Paulo, foi um sucesso, e contou com mais de 200 expositores e um número aproximado de 15 mil visitantes, ao longo de seis dias de realização.
Já em sua segunda edição no ano consecutivo, a Associação do Comércio do Livro Alemão resolveu instituir pela primeira vez aquele que seria uma tentativa de conciliar a Alemanha com o resto dos países depois da ascensão do nazismo em seu território: o Prêmio da Paz do Comércio do Livro Alemão, que foi entregue pela primeira vez em 1950 para o escritor Max Tau. Nos anos que se seguiram, outros nomes de peso da literatura mundial foram agraciados como o mesmo prêmio, como foi caso do peruano Mario Vargas Llosa e do suíço-alemão Herman Hesse.
E por falar em literatura mundial, a partir de 1953 com o aumento significativo do número de participantes estrangeiros, foi esse o selo que cunhou o caráter principal da Feira do livro de Frankfurt desde então: um ponto de encontro e difusão das obras literárias de escritores oriundos de diferentes lugares com trabalhos produzidos em diferentes idiomas mas, sobretudo, com uma vontade de dialogar com o resto do mundo.
Organização
Há pelo menos 12 anos a feira de Frankfurt exibe uma organização apresentada em pavilhões, no interior dos quais, na maioria das vezes, se encontram editoras de mesma nacionalidade ou cujo vínculo se constrói na relação com o idioma que falam – que é, consequentemente, o idioma no qual são escritos os livros que comercializam. O pavilhão 8 é um dos mais badalados, justamente por abrigar as editoras de língua inglesa, vindas dos Estados Unidos e da Inglaterra principalmente. Além disso, todos os anos um dos pavilhões é sempre ocupado estritamente pelo país convidado da edição, que, em 2013, foi o Brasil.
A feira é muitas vezes criticada por seu caráter essencialmente comercial, responsável por retirar os livros de seu lugar cativo de obra de arte e torná-los mercadorias cujos valores oscilam de acordo com a oferta e a procura. Por conta desse clima e dessa fama, a feira de Frankfurt é motivo de desconforto para vários escritores que precisam estar presentes nela para cumprir um compromisso firmado com suas editoras ou agentes literários.
Por conta disso, na última edição do evento, a escritora dinamarquesa Janne Teller propôs a criação de um pequeno lounge, isto é, um espaço de convívio entre os diversos autores presentes. Com o sucesso e a adesão dos outros escritores na empreitada, Teller lançou o Frankfurt Undercover, nome dado a plenária de escritores que tem por objetivo promover um debate mais estruturado entre os presentes acerca de temas que se reportam ao multiculturalismo e ao fim das barreiras que impediam a comunicação – pautas que dialogam diretamente com a existência de uma feira mundial de livros.