Resumo da desigualdade social no Brasil: As migrações e a integração do território

No Brasil, observou-se um aumento nos fluxos imigratórios inter-regionais a partir da década de 40. Esse movimento se deu, sobretudo, pelos processos interdependentes, de industrialização e urbanização que remodelaram de modo determinante a base econômica do país. Como resultado, a nação se distanciou cada vez mais do modelo agroexportador e da distribuição territorial em arquipélago. Acontecia assim um procedimento de integração do território nacional, que, como veremos mais detalhadamente a seguir, causou também grandes desigualdades socioeconômicas entre as regiões do Brasil.

Por consequência da industrialização, as grandes cidades situadas na região Centro-Sul estabeleceram-se com os pilares da economia nacional. Sendo assim, as áreas de produção agrícola dessas localidades acabaram por se modernizar. Portanto, tais zonas conseguiram se especializar em produtos para exportação, bem como no abastecimento de alimentos para as metrópoles brasileiras. No entanto, a economia de outras regiões, especialmente do nordeste, entram em crise. Nesse momento, criaram-se os chamados bolsões de pobreza, vistos também como fonte de mão de obra barata para os mais variados setores. Por fim, a Amazônia passou a ser a grande reserva de recursos naturais com capacidade para sustentar a demanda de matérias-primas vinda das indústrias.

As migrações e a integração do território

As características das migrações

As migrações que acontecem nesse contexto variam em relação aos seguintes fatores:

  • Duração – elas podem ser tanto temporárias quanto definitivas;
  • Espaço – as migrações dividem-se entre internas e externas;
  • Forma – forçadas ou voluntárias;
  • Controle – legais ou ilegais;

Essa integração do território brasileiro, viabilizada pela construção de grandes rodovias e meios para comunicação, torna o deslocamento das populações mais fácil. Ações para controlar a entrada de imigrantes estrangeiros no país fizeram com que a procura por mão de obra, que surgiu com as indústrias e urbanização, fosse suprida por brasileiros oriundos de outros estados. Em decorrência dessa nova configuração da economia, que envolveu questões políticas e territoriais, formaram-se novas áreas de atração e repulsão de pessoas.

O progresso da industrialização, urbanização e a consecutiva integração do território nacional, originaram a necessidade de várias obras de infraestrutura como as já citadas rodovias, prédios, avenidas largas nas grandes cidades, hidrelétricas, portos, entre outras. Os trabalhadores incumbidos de executarem essas construções vieram, em sua maioria, da região Nordeste do Brasil. Em adição, as vagas de emprego, tanto diretos quanto indiretos, incentivadas pela vinda de indústrias de bem de consumo, como carros e eletrodomésticos, somado ao comércio e serviços gerais, transformaram um Sudoeste em um espaço de grande interesse para populacional. Por sua vez, o Nordeste, já bastante frágil economicamente, sofreu muito com a integração territorial. Sua atividade central, a monocultura de cacau, cana de açúcar e de algodão perdeu força com a chegada dos bens produzidos no Rio e em São Paulo nessa região.

A concorrência entre os pequenos negócios de roupas, calçados e imóveis, por exemplo, que se formavam no Nordeste e as bem estruturadas fábricas do Sudeste, impossibilitaram o processo de industrialização nordestina. Esse sistema também colocou o Nordeste no posto de provedor de matérias-primas, produtos primários e mão de obra de baixo custo para implementar a modernidade nas capitais dos estados do Centro-Sul do Brasil. A principal função dos migrantes nordestinos foi justo a de trabalhar nas piores atividades ganhando os menores salários. Tal cenário provou-se vantajoso para as elites de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas, obviamente, desastroso para o Nordeste.

Nos estados Sul, houve dois momentos distintos no quesito migrações. Pode-se inclusive dizer que esses processos foram opostos em muitos aspectos.

  • Na década de 40, com a decadência da cultura cafeeira em São Paulo, essa monocultura propagou-se para o norte do Paraná dando à região um grande atrativo populacional. Em razão disso, o número de habitantes na área dobrou entre 1950 e 1960.
  • A partir dos anos 70, foi introduzida a cultura da soja, que é efetuada em grandes latifúndios e com alto grau de mecanização. Com isso, aconteceu uma mudança significativa na estrutura econômica do Sul. Intensificou-se ainda a utilização de mão de obra nas lavouras. Somado a isso, vieram os efeitos desastrosos das fortes geadas no começo década de 1970. Por isso, a região deixou de ser um local de atração populacional e gerou a repulsão de seus moradores. Os indivíduos que viviam nessas localidades se estabelecerem nas unidades federativas do Centro Oeste.

A região Centro-Oeste

A migração no Centro-Oeste, também efeito da integração do território. Teve início na década de 1950. Sucederam-se nesse período as frentes de expansão, que são descritas pela chegada de ocupantes e posseiros. Isto é, agricultores camponeses tomaram posse e cultivaram as terras desocupadas com técnicas de subsistência. Após as frentes de expansão, surgem as frentes pioneiras, que, ao contrário do que no nome pode sugerir, não são predecessoras.

Essas iniciativas são conduzidas por programas de colonização particulares ou estatais cujos produtos são direcionados para o mercado. Porém, para que as frentes pioneiras se instalassem, elas expulsarem os posseiros, originando conflitos fundiários. Assim que obtêm a propriedade das terras, esses processos de colonização e ocupação trazem para região uma quantidade de pessoas com interesse em trabalhar no campo. Entretanto, a valorização do território das áreas cultiváveis garantiu que aos poucos tivesse acesso aos latifúndios. Desse modo, viu-se uma redução no crescimento populacional no Centro-Oeste, enquanto os posseiros e as frentes pioneiras se direcionaram para o Norte.