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Política do Pão e Circo

No antigo Império Romano, a população enfrentava grandes diferenças sociais que, com a sua gradativa expansão, a cada dia se intensificavam. No auge do regime, acontecimentos culturais, sociais e políticos eram comuns em Roma, o que atraía pessoas vindas de diversas regiões em busca de melhores condições de vida. Mas ao chegar, não era bem isso que acontecia: os menos favorecidos financeiramente acabavam “jogados” na periferia, disputando pequenas habitações em condições precárias de conforto e higiene, e trabalhando arduamente em troca de baixos salários.

Já imaginou como seria sua vida tendo direito somente a pão e circo, sem ao menos se dar conta disso? Era mais ou menos o que acontecia, principalmente com as famílias menos abastadas de Roma naquela época. O esquema funcionava basicamente assim: em uma sociedade com tantas desigualdades, é comum a união do povo em grandes revoltas e manifestações populares em crítica ao sistema de governo. E para evitar essas manifestações, os líderes ofereciam ao povo “pão e circo” em forma de eventos e distribuição de cereais para mantê-los entretidos, e dessa maneira perderem o foco na situação política que os assolava.

Oferecer ao povo pão e circo foi uma alternativa encontrada para mascarar o problema, que continuava longe de uma solução efetiva. Enquanto a população se mantinha concentrada em espetáculos e alimentos, a real situação em que se encontravam ficava esquecida, e ainda o imperador tinha as atenções voltadas para ele, por organizar toda essa “festa”, e tornava-se mais e mais popular entre as pessoas. Agora imagine isso tudo acontecendo em meio a pessoas humildes e de pouca instrução: a distribuição de pão e circo era aplaudida e mantinha a população em paz e na ilusão de uma falsa felicidade.

Mas afinal, em que consistia o tal pão e circo?

A expressão “política do pão e circo” teve origem por volta do ano 100d.C., quando o humorista e poeta Juvenal a proferiu (panes et circenses, em versão original) em uma de suas sátiras (Sátira X). Ele usava o humor para criticar o desinteresse do povo por política e informação, alegando que se contentavam apenas com um pedaço de pão e um “show” para se divertir, daí o nome “pão e circo”.

Em épocas de crise principalmente, grandes arenas eram construídas e o sangue rolava solto em espetáculos com gladiadores, animais ferozes, cavalos, teatro e performances acrobáticas. As apresentações duravam cerca de 180 dias por ano, o equivalente a quase dois feriados para cada dia útil, e com o tempo as solenidades religiosas foram perdendo sua essência e tornando-se apenas uma fonte de divertimento, da qual ninguém entendia (e nem buscava entender) ao certo do que se tratava.

Durante esses grandes eventos, pães eram jogados para o público nas arquibancadas e alimentos eram distribuídos à população mais pobre no Pórtico de Minucius, e dessa forma evitava-se que as pessoas morressem de fome (ou de tédio), ao mesmo tempo em que eram manipuladas, abdicando da vida política e abraçando uma existência sem sentido, sem interesse por trabalho e dignidade, sendo sustentadas por migalhas e aplaudindo de pé o imperador, que se mantinha forte e poderoso diante de todos.

O principal objetivo da política do pão e circo era evitar que a população participasse ativamente das decisões políticas e reivindicasse mais direitos e menos injustiças, e para isso os líderes mantinham as classes mais humildes “anestesiadas” com assuntos fúteis e superficiais, enquanto tomavam as decisões que lhe pareciam mais convenientes. Pão e circo era uma forma de desviar a atenção do que realmente tinha influência sobre as condições de vida do povo, para festejos vazios e sem razão de ser, regados à comida “de graça” e uma falsa ilusão de felicidade.

Consequências de uma política desordenada para a economia romana

A implantação da política do pão e circo trouxe algumas consequências para a economia romana:

*Para entender, basta imaginar os altos custos para manter um padrão de eventos regulares e distribuição de comida. Os impostos aumentaram como uma forma de “manter o equilíbrio”.

*A economia romana ficou sufocada, pois todos esses eventos eram patrocinados pelo governo.

Mas “estava melhor assim”: o povo de barriga cheia e feliz com toda a diversão que era oferecida, enquanto o imperador mantinha-se no poder e aplicava as regras que bem entendia para o funcionamento da economia romana.

Alguns historiadores afirmam, porém, que a política do pão e circo não era capaz de barrar as manifestações populares, pois apenas uma pequena parcela da população mais pobre tinha acesso a ela, portanto não é possível dizer que a prática era responsável por alienar toda uma sociedade. Essas divergências de ponto de vista provam que a história é constantemente renovada por pesquisas, que ajudam a entender melhor os eventos passados. E que nem mesmo a configuração da economia romana deve ser generalizada.

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