Resumo do pré-modernismo: A poesia pré-modernista: Augusto dos Anjos (1884 – 1914) – Biografia
Faz-se necessário observar na biografia de Augusto dos Anjos que o poeta consta do rol de autores pré-modernistas apenas para que possamos acomodá-lo como passagem entre o Simbolismo de Cruz e Sousa e a modernidade que aparece no ano de 1922. Na verdade, o poeta tem obra atemporal, bem difícil de ser categorizada.
Se de um lado é musical, como os simbolistas, usa o soneta que é uma herança parnasiana, seus temas em nada correspondem àquelas escolas: são escatológicos, pinçam o homem em desintegração, carne podre, decomposição e sujeira fétida.
Extremamente influenciado pelo cientificismo, pelo pessimismo, shopenhauriano e também pela visão evolucionista darwiana, nosso poeta é o dono do estilo mais mórbido de nossa literatura. Tanto isso foi verdade que, durante décadas, foi considerado o papa dos descontextualizados, dos intelectualmente marginais, dos que admiravam o lado podre da humanidade. Seus temas, escuros, entristecidos, sustentaram gerações inteiras de decadentes, de góticos, de foras da lei, de marginalizados, desencantados de toda a sorte. Há neles morbidez, fatalidade, azar, maldição de ser homem, de ser vil, mesquinho e transitório.
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, conhecido apenas como Augusto dos Anjos, nasceu na Paraíba, no engenho Pau D’Arco, na várzea paraibana, no dia 20 de abril do ano de 1884. O pai, um homem culto e sensível, bacharel em Direito, foi quem alfabetizou o filho. Do pequeno mundo doméstico, vai para o Liceu Paraibano, e por fim, para a Faculdade de Direito do Recife, onde se formou como advogado.
Embora tenha se formado em Direito, seu grande interesse sempre foi ser professor de Literatura: recém-formado, passa a lecionar em João Pessoa e, após se casar em 1910 com D. Esther Fialho, vai para o Rio de Janeiro onde continua seu trabalho de professor, com aulas na Escola Normal e no Colégio Nacional. Ensinava também em vários cursos preparatórios para as diversas faculdades do Rio. É essa a fase mais miserável de sua vida: bacharel depenado, antigo professor de província, e professor de outros títulos congêneres de desmoralização.
Autor de um só livro, Eu, publicado no ano de 1912, Augusto dos Anjos inquietou muita gente, como por exemplo, o médico Licínio Santos que, à época, pesquisava sobre o tema da loucura entre os intelectuais. Sua teoria era de que em absoluto haveria um elo necessário entre a loucura e os homens ligados às artes.
Em 1914, solitário, amargo, é nomeado como diretor de Grupo Escolar Ribeiro Junqueira, em Leopoldina, Minas Gerais. Muda-se para aquela cidade no final de julho. Agora, finalmente, com um emprego razoável, poderia escrever em paz, viver em paz, criar os filhos Glória, que estava com dois anos, e Guilherme, que ainda não havia completado um ano. Após tomar posse, vai exercer com brevidade esta nova função, morreu no dia 12 de novembro desse mesmo ano, acometido de uma pneumonia dupla.
Em 1920, o amigo de infância Orris Soares organizou a segunda edição de Eu, acrescentando-lhe alguns poemas. A partir desta data, o livro foi intitulado Eu e outras poesias.
O que foi o pré-modernismo e os escritores desse período
A época conhecida como Pré-modernismo é vista como um divisor de águas entre os ‘ismos’ do final do século XX e o Modernismo que se inicia no ano de 1922, com a realização da Semana de Arte Moderna.
Na década de 50, o crítico literário Alceu de Amoroso Lima deu o nome ao período, que até então, não tinha sequer qualquer denominação. Mas, no entanto, esta época, guarda dentro dela a produção incomparável de Euclides Da Cunha, de Monteiro Lobato, de Lima Barreto e de Augusto dos Anjos. Estes, foram pré-modernistas, simplesmente e também os grandes pioneiros.
Euclides da Cunha possui o tom positivista de uma análise social. Já Monteiro Lobato, lembra a região do Vale do Paraíba e seus tipos peculiares, como por exemplo os piolhos da terra, os caboclos jecas-tatus, como ele mesmo gostava de dizer. Lima Barreto foi tardiamente valorizado pelos modernistas, mas deixou uma obra considerada extremamente mágica. É ‘Triste fim de Policarpo Quaresma’, adaptada ao seu tipo do início da República no Brasil. Policarpo, tal qual D. Quixote brasileiro, é o tipo inesquecível desse escritor.
Na poesia, repontam os versos de Augusto dos Anjos, uma espécie de bíblia para os malditos de todas as idades. Poesia de dessacralização do que é lírico, da podridão da carne, e também da desintegração do corpo.
Esta foi, uma época extremamente heterogênea, por isso, considerada tão encantadora. Mas, é preciso deixar claro, que a época conhecida como pré-modernismo não é propriamente uma escola literária, mas um determinado período, uma determinada época, ou fase de transição de ‘ismos’ do final do século passado e início deste século, bem como a Escola Modernista, que teve início no ano de 1922.