A esta altura, você provavelmente já sabe o que é a linguística, o que ela estuda e quais os níveis de análise. Mas se você não sabe, sem problemas. Vamos fazer uma recapitulação rápida especialmente para você.
A linguística é uma ciência humana que se dedica ao estuda da linguagem verbal – entendida como o uso da linguagem em sua forma escrita e falada que se valha de signos linguísticos, ou seja, a língua. Para facilitar e tornar este estudo mais lógico, a linguagem verbal é dividida em níveis de análise. Assim, de forma extremamente simplificada, temos os seguintes níveis:
Neste artigo, nossos esforços estarão concentrados no nível sintático, pois é nele que se situa nosso principal objeto de investigação, a relação estabelecida entre preposições e regência verbal.
De forma muito simples, podemos conceituar a regência verbal como a concordância que o verbo da oração estabelece com seus complementos. Geralmente quando uma frase exige preposição para que a regência verbal fique correta, tendemos a usar o “que”, como em:
1. A casa em QUE moro.
Em situações informais, como uma conversa com familiares ou mesmo em um e-mail trocado com um amigo, o uso deste “que” não está incorreto, além de seu uso ser completamente compreensível – para ter ideia, o “que” pode desempenhar 27 diferentes funções gramaticais em língua portuguesa, o que torna o seu emprego inadequado quase uma regra em situações informais. No entanto, na norma culta, utilizada em conversas e ocasiões formais, como em provas, discursos oficiais, e-mails de trabalho, etc., o uso do “que” está errado, pois ele não concorda com o verbo. O correto seria:
2. A casa NA QUAL moro.
Mas por que (2) está correto e não (1)? Pois o verbo morar é um verbo transitivo na situação de emprego, ou seja, quem mora em algum lugar – moro onde? Na casa. Por isso a preposição correta neste contexto é “na qual” e não “que”. Vamos analisar a relação entre regência verbal e preposição segundo a transitividade do verbo.
Talvez o aspecto mais interessante da regência verbal é que, de acordo com a preposição utilizada, o significado do verbo pode ser alterado. Vamos a um exemplo para deixar isso mais claro.
(3) Ela agrada O namorado.
(4) Ela agrada AO namorado.
À primeira vista, pode parecer que ambas as frases têm o mesmo significa, mas com um olhar mais apurado podemos concluir que em (3) o verbo se coloca no sentido de “dar carinho”, “ser carinhosa”, enquanto que em (4) seu sentido é “agradar”, “proporcionar”.
O verbo mais fácil de determinar a regência verbal é sem dúvida o intransitivo (VI). Um verbo intransitivo não pede nenhum complemento, ou seja, não possui nenhum objeto, conforme o exemplo abaixo:
(5) Hoje choveu.
Portanto, se não há complemento não há preposição, pois é ela quem introduz os complementos.
No caso dos verbos transitivos diretos (VTD) também não é necessário o suo de preposição, pois o verbo é complementado por objeto direto, como em:
(6) Tenho que ir até o mercado.
O objeto direto do verbo “ir” é “mercado”, que não exige preposição (lembre-se que o “o” é artigo, e não preposição). Assim, VTDs também não exigem preposição.
Ao contrário do VI e VTD, os verbos intransitivos diretos exigem preposição, pois um dos complementos do verbo é o objeto indireto, como em:
(7) Devemos sempre obedecer AO que nossos pais falam.
Os verbos bitransitivos mudam de classificação conforme o contexto, por isso é necessário estar sempre atento(a). Um bom exemplo deste tipo de verbo é aspirar, como em:
(8) Ela aspirou o ar puro da manhã.
(9) Ela sempre aspirou A vitória na competição.
Assim, quando o verbo é utilizado com o sentido de “inspirar”, ele é um transitivo direto, ou seja, dispensa o uso de preposição. Já quando tem o sentido de “desejar”, trata-se de um VTI, e por isso existe a preposição “a”.
A partir de tudo o que foi dito, podemos concluir que para determinar corretamente a relação que a regência verba estabelece com as preposições, é necessário sempre analisar o contexto e a transitividade do verbo.
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