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Dialetos e registros no português brasileiro

Em linguística, existe uma afirmação aceita universalmente pelos estudiosos da área que diz que a linguagem constrói os sujeitos e, em uma via de mão dupla, que o sujeito constrói a linguagem. Pode parecer estranho à primeira vista, mas esta afirmação não poderia ser mais verdadeira. Pense em você falando com uma pessoa que também fala português (ou seria brasileiro?), mas é de outra região do país que a sua. Com certeza, esta pessoa usará gírias diferentes de sua, terá um sotaque diferente e mesmo terá outra forma de utilizar a sintaxe durante as frases. Mesmo que você não saiba de onde a pessoa é, você irá conseguir dar um palpite quase certeiro sobre o lugar do qual aquela pessoa vem. É neste sentido que se fala da linguagem como um importante instrumento de construção socio-histórica de nós enquanto sujeitos.

Quando usamos a língua, sempre o fazemos dentro de um contexto, seja ele mais específico – a situação de comunicação em si, como uma troca de e-mails, uma conversa informal com amigos, etc. – ou mais amplo – considerando fatores sociais, históricos, sociais e mesmo econômicos da situação em que a linguagem é utilizada. São estes dois contextos responsáveis pelos temas de interesse deste assunto: o dialeto e o registro. Vamos começar nossa análise pelo segundo tema.

O registro no português brasileiro

Mais acima, evocamos o conceito de contexto comunicacional, pois dele depende diretamente o uso e estudo do registro, não só no português brasileiro, mas em todas as outras línguas existentes.

De modo muito simples, podemos definir o registro como as variações que ocorrem na língua segundo o grau de (in)formalidade da situação comunicativa. Vamos utilizar um exemplo para ilustrar o registro. Considere três situações comunicativas em que um jovem está inserido, uma conversas casual com amigos (1), uma conversa como seus pais (2) e uma entrevista de emprego (3).

Em (1) ele provavelmente irá utilizar um registro extremamente informal, repleto de gírias, neologismos e mesmo desobediência às regras e normas da sintaxe, como não fazer concordâncias verbo-nominais, utilizar preposição que não se ligam ao verbo, não utilizar alguns elementos de coesão, dentre outros.

Já em (2) ele também irá cometer todas as irregularidades (segundo a norma padrão do português) citadas acima, só que de forma mais amena, até porque seus pais não devem conhecer todos os vocabulários de gírias por ele utilizados, o que pode acarretar em problemas na comunicação.

Quando em (3), e se o jovem realmente quiser o emprego, ele irá fazer uso somente das regras impostas pela gramática normativa do português, fazendo uso de preposições corretas, evitando as gírias e neologismo, fazendo uso correto da coesão sequencial e referencial, dentre diversos outros.

Portanto, o registro tem relação direta com o grau de formalidade da situação. Não existe registro certo ou errado, mas registros adequados e não adequados à situação de comunicação.

Os dialetos no português brasileiro

Se o registro tem relação com o contexto mais imediato, o dialeto tem relação com o contexto mais amplo, pois é construído de acordo com o tempo e suas implicações. Novamente, de forma muito simples, podemos definir o dialeto como o “modo de falar” de determinada porção de território. O “modo de falar” está com aspas, pois um dialeto, ao contrário do que poderia se pensar, envolve alterações frente à gramática normativa do português brasileiro em diversos níveis, seja ele fonético, morfológico, sintático, semântico e mesmo pragmático.

Vamos tomar como exemplo o dialeto mais famoso do Brasil: o nordestino. A primeira e mais evidente característica que este dialeto apresenta é o vocabulário (léxico), como nos exemplos abaixo:

  • Aperriar: incomodar
  • Atarentado: lunático, pessoa que vive no mundo da lua;
  • Búxo: barriga;
  • Maribento: pessoa que só fala asneiras;
  • Mangar: zoar, fazer graça de alguém;
  • Geraba: taipa, casa feita de barro e madeira;
  • Sustância: vitamina, característica do alimento que dá bastante saciedade.

No Brasil, há diversos dialetos. Isso se deve não só a extensão do território, já que somos um país quase que continental, mas também devido à mistura de povos e culturas, que foram incorporando diversos traços linguísticos à língua. Assim, o gauchês, o paranaense, o paulista e o paulistano, o carioquês, o paraense e mesmo o quilombola. Todos podem ser considerados dialetos, pois contêm traços linguísticos diferenciados e próprios.

Portanto, tudo o que foi dito aqui prova que a língua e, em especial o português brasileiro, vai muito além das regras e normas de bom uso prescritas na gramática normativa. Fatores sociais, históricos, geográficos e mesmo econômicos interferem de maneira direta no uso da língua, pois todo e qualquer uso da mesma é feito em determinado contexto. E quanto a você: consegue dar outros exemplos de registros em dialetos na língua portuguesa e elencar as características linguísticas de cada uma?

This post was last modified on 13 de setembro de 2016 15:45

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