Termos relativos ao português brasileiro e ao lusitano – traços peculiares
A língua não é somente uma ferramenta de comunicação. É muito mais que isso. A língua de um povo revela seus costumes e sua história. Há mais de 500 anos, quando o Brasil foi descoberto, os jesuítas fizeram de tudo para instalar o português como a língua mais falada na então Colônia de Portugal. E os esforços deram certo: centenas de línguas indígenas faladas no Brasil colonial foram extintas, tornando o português a língua mãe da nação.
Mas, como já dito, a linguagem transmite a cultura. Por isso, o português de Portugal foi, aos poucos, se modificando no Brasil. O aspecto mais claro onde isso pode ser percebido é no sotaque, já que brasileiros e portugueses, mesmo falando a mesma língua, enunciam de forma muito diferente. Outro aspecto é o vocabulário: quando comparado com o português de Portugal, o português brasileiro é muito mais rico em palavras e expressões, já que a língua recebeu influência de várias outras, como as línguas de matrizes africanas, as línguas derivadas do Tupi Guarani, as línguas dos principais povos imigrantes, como os japoneses, alemães, holandeses, italiano, etc.
Por esse motivo, é muito curioso quando comparamos palavras do português de Portugal e palavras do português brasileiro. Inclusive, muitas vezes a mesma palavra, escrita da mesma forma, tem significado totalmente diferente no Brasil daquele significado que ela tem em Portugal.
Peculiaridade dos termos
Vamos iniciar nosso passeio pela peculiaridade dos termos por palavras que são diferentes no modo de escrita, mas têm o mesmo significado. Há uma série de palavras que apresentam essa característica sinonímica, isto é, de sinônimo. Para não deixar nossa comparação muito longa, vamos elencar somente exemplos impactantes. Do lado esquerdo temos as palavras como elas são no Brasil e do lado direito como são em Portugal:
Água Viva X Alforreca
Água Sanitária X Lixívia
Âncora do Telejornal X Pivot
Apostila X Sebenta
Gramado X Relvado
Goleiro X Guarda-redes
Grampeador X Agrafador
Hidrômetro X Conta-quilómetros
Pessoa Física X Pessoa Singular
Ponto de Ônibus X Paragem
Pé de Pato X Nadadeiras
Placa do Carro X Matrícula
DDD X Indicativo
Salva-vidas X Nadador
Sanduíche X Sandes
Secretária Eletrônica X Atendedor de Chamadas
Recentemente, a mídia divulgou muito sobre o acordo ortográfico. Mas, afinal, para que serve o acordo ortográfico? Melhor ainda: você sabia que a língua portuguesa já teve muitos acordos e formulários ortográficos? Antes da resposta da primeira pergunta, vale a pena dar um passeio através da história dessas alterações na língua portuguesa. Tudo começa em 1907 quando, por iniciativa da Academia Brasileira de Letras (ABL) elabora a proposta de uma reforma ortográfica para abolir a ortografia que eles consideravam “pseudoetimológica”. Quatro anos depois, já em 1991, há outra proposta de reforma ortográfica, dessa vez em Portugal, com o objetivo de normalizar e simplificar a língua. De volta ao Brasil, em 1943, a ABL elabora um novo formulário ortográfico, contendo a nova grafia do português. Frente a todas essas mudanças, em 1945, Brasil e Portugal decidem entrar em consenso e é lançado o acordo ortográfico, que na prática teve poucos resultados práticos devido à reforma e formulário ortográfico assinado anos antes por Portugal e Brasil, respectivamente. Em 1971, houve uma reforma ortográfica de ambos portugueses e, dessa vez ele trouxe resultados práticos satisfatórios. Por fim, em 1990, foi criado um acordo ortográfico com o objetivo de normalizar e unificar o uso do português e, dessa vez, não foi somente entre Portugal e Brasil, mas de todos os outros países que têm como língua-mãe o português, isto é, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. É esse último acordo que vigora no Brasil e que propôs mudanças como a eliminação do trema, novas regras de uso do hífen, etc.
Mas para que falar da reforma e dos acordos ortográficos? Por uma razão muito simples: são eles que regulam como o que será alterado e como será a ortografia final das palavras. Como tratamos da peculiaridade de termos, isso é de extrema importância.
Gramática
Uma língua não vive somente de palavras. Fazendo uma analogia simples, mas eficaz, se o vocabulário de uma língua é o coração, a gramática é seu cérebro. Por mais acordos ortográficos que sejam feitos, a gramática do português do Brasil e do português de Portugal diferem muito. Claro que essas diferenças são muitas, mas as mais comuns (e mais fáceis de serem percebidas) são a colocação do pronome átono – por exemplo, enquanto que no Brasil dizemos “Me dá o cardápio”, em português de Portugal diz-se “Dá-me o cardápio” – e o uso do gerúndio, isto é, verbos terminados com o sufixo -nda, -ndo, etc, pois em terras brasileiras seu uso é muito comum, como em “Estou estudando”, já em terras portuguesas ele é substituído por verbo no infinitivo, “Estou a estudar”.
Depois de tudo isso, você ainda acredita que no Brasil se fala português? Esta é uma questão complexa, que nem mesmo os estudiosos do campo sabem responder. Mas vale a reflexão.