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Ciência: Universo de probabilidades, não de certezas

A ciência é vista por muitas pessoas como uma vasta variedade de certezas. É fácil ouvir o argumento de que algo foi “comprovado cientificamente” como fechamento de uma discussão, como se isso encerrasse por completo o assunto. É claro que as pesquisas científicas existem, realmente, para comprovar ou não uma série de dúvidas que surge conforme a humanidade avança, nas mais diversas áreas. Mas isso não é feito sem que antes a ciência passe por um universo de probabilidades.

Esta é uma área de estudos completamente construídos à base de perguntas. Para responder as perguntas, é preciso, antes de tudo, supôr algumas respostas – é o caminho para que elas possam ser investigadas e posteriormente comprovadas. Na verdade, há um nome para isso: o método científico.

O método científico é um conjunto de normas usado para pesquisar e comprovar determinado conteúdo, ou mesmo para corrigir e aprimorar algo que já foi anteriormente estudado. Houve mais de uma técnica utilizada nesse método, cada uma com sua estrutura: o método indutivo, o método dedutivo, o método hipotético-dedutivo, o método fenomenológico e mais. Nem todos ainda são vistos como muito eficazes para a comunidade científica, mas, ainda assim, podem ser úteis em situações específicas.

De forma geral, a metodologia científica parte da observação (quando o cientista percebe um fenômeno qualquer a ser investigado); da problematização (quando o cientista se pergunta porque e/ou como tal fenômeno está ocorrendo); e da hipótese (quando o cientista formula uma ideia preconcebida de qual pode ser a resposta da problematização).

Perceba que a hipótese é o grande coringa aqui. Ela nada mais é do que uma suposição, ainda que lógica e aplicável, mas que pode ser derrubada. Na verdade, muitas vezes o objetivo é mesmo tentar derrubá-la: são formuladas teorias e perguntas críticas que põe aquela hipótese à prova, para ver se ela vai cair. Tanto a hipótese quanto as tentativas de testá-la são baseadas em probabilidade.

A teoria das probabilidades

A teoria das probabilidades, sob esse nome, foi fundada pelo matemático Pierre Simon Laplace, no século XVIII. Mas quando falamos sobre o que é ou não provável além do campo da matemática, também em outras áreas científicas, foi uma percepção gradual. Ao longo do século XVIII e XIX, os cientistas notavam a recorrência de determinados fenômenos, fossem naturais ou sociais, e esperavam chegar a uma explicação clara sobre todos eles. Aos poucos, foram aceitando que não havia uma fórmula exata, e que a natureza, assim como o ser humano, são máquinas contendo inúmeras variáveis.

Ou seja, a probabilidade está presente em tudo, e deve ser reconhecida como parte integrante dos estudos científicos. Atualmente, a comunidade científica no geral não fomenta mais o preconceito contra as incertezas, mas, ao contrário, as abraça; pois é a partir delas que surgirão novas hipóteses e novas compreensões.

Estudar o que é provável ou não é tão importante quanto estudar o que é certo. O fato é que, em diversos assuntos, simplesmente não há como ter certezas. A medicina, por exemplo, avança enormemente ao longo dos anos, usando a tecnologia para descobrir mais e mais sobre o corpo humano e como curá-lo de suas enfermidades. Conforme os estudos avançam, torna-se mais fácil de entender como o organismo e as doenças funcionam, a partir de como elas sempre funcionaram. A pesquisa percebe a ação de algumas células específicas em um grupo de pessoas, e analisa como elas agiram em cada indivíduo; a partir daí, forma-se um conjunto de probabilidades do que virá a acontecer com outro grupo de pessoas similares. Não é uma certeza, mas é importante.

A educação e a ciência: um método falho

Cada vez mais surgem críticas entre a comunidade científica sobre o modelo educacional tradicional, incluindo (mas não se limitando a) o brasileiro. Na maioria das escolas, os alunos são incentivados a alimentar sua curiosidade e imaginação até certa idade – então, quando surgem os conhecimentos científicos, isso é tirado deles.

Crianças e adolescentes são ensinados e pressionados a decorar fórmulas certas que garantem o resultado. Elas não sabem como se chegou àquela fórmula, muito menos qual foi o processo de tentativa e erro até que ela fosse descoberta. Tudo o que o aluno aprende é que aquilo é uma certeza, é garantido. Isso dá a ele a ideia de que tudo que vem das áreas exatas são absolutamente verdadeiras e sem possibilidade de questionamento. Esta é uma perda gigante, porque impede milhões de novos alunos de se perguntarem sobre os fenômenos ao seu redor e perceberem que eles podem, também, analisá-los a partir da observação.

Portanto, quando a ciência for mencionada como completamente estável, lembre-se de que isso está longe da verdade – e que essa é a razão pela qual os cientistas conseguem avançar tanto. É uma área sem certezas, uma área de pesquisa, de muitas perguntas e poucas respostas. Pode parecer frustrante a princípio, mas é extremamente compensadora para a humanidade e está em constante expansão. É provável que todas essas incertezas ainda nos levem muito longe; mas, é claro, ainda não há como saber.

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