Categorias Redação

Variações linguísticas x Preconceito linguístico

Não é difícil perceber que muitas são as diferenças que marcam a fala de indivíduos que, por mais que falem o mesmo idioma e morem no mesmo país, mantém variadas formas de dirigir à palavra ao próximo.

Variedade linguística ou preconceito linguístico?

E é exatamente neste sentido que a variedade linguística se enquadra, uma vez que ela representa os mais diferenciados modos de falar: seja de forma mais arrastada, engolindo uma ou outra letra ou utilizando termos/expressões que não são seriam conhecidos em outras regiões do país.

Diferentemente do que o senso comum pode acabar atribuindo à variedade linguística, sua existência não quer dizer que existem diferentes línguas, mas sim, diferentes formas de se expressar por meio dela, o que irá depender da própria herança cultural, fonética e linguística de cada um.

Evidentemente, um indivíduo que nasce na região Nordeste do Brasil não terá o mesmo modo de falar do que uma pessoa que foi criada na região Sul, por mais que estejamos falando da mesma língua e do mesmo país.

E assim como não podemos dizer que existem culturas superiores ou inferiores umas às outras, também não é certo comparar diferentes modos de falar, concedendo superioridade ou inferioridade a qualquer um deles. Sendo assim, o indivíduo que cresceu no Sul do país não pode ter o seu modo de falar rebaixado ou considerado inferior por aqueles que adotaram a variedade linguística nordestina – e nem vice-versa.

E mesmo que a variedade linguística deixe claro o fato de que existem diferentes formas de falar um mesmo idioma, é comum padronizarmos a língua com base em parâmetros de certo ou errado.

O Brasil, por exemplo, é um país dividido em cinco diferentes regiões – o que garante que cada uma delas tenha seus próprios dialetos, suas expressões e é claro, sotaques. Tais dimensões com certeza não permitiriam a uniformidade da língua, afinal, é praticamente impossível impor que um indivíduo fale da mesma forma do que outro estando há 3.000 quilômetros de distância no mapa.

A partir do momento em que apontamos determinado ‘erro’ ou ‘acerto’ na gramática de um indivíduo que tem como base uma variedade linguística diferente do que a nossa, estamos, na realidade, utilizando o idioma como uma forma de discriminação de diferentes grupos sociais.

E é neste sentido que o preconceito linguístico surge, sendo ele caracterizado como qualquer crença errônea e discriminada (sem que haja respaldo científico) de alguma língua, ou então, dos falantes da mesma.

Características que distanciam a variedade linguística do preconceito linguístico

Se por um lado a variedade linguística permite que o indivíduo se expresse de diferentes formas, utilizando-se de variados dialetos, termos e vocabulários, por outro, o preconceito linguístico é o que julga essas outras formas de se comunicar (em sua língua padrão de nascença ou não) que não seja a sua própria.

A variedade linguística, por sua vez, é baseada na premissa de que existem diversas formas de escrever, falar ou comunicar uma língua, e que por isso, não há como estabelecer critérios de ‘certo’ ou ‘errado’ ou ‘superior’ e ‘inferior’ a falantes de um mesmo idioma.

Esse pensamento errôneo, muitas vezes, leva indivíduos à crença de que apenas a forma como ele fala – ou a variedade mais ‘padrão’ da língua – é a que deve ser aceita em sociedade, quando na realidade, a língua é composta por uma infinidade de variações utilizadas não só por diferentes povos, mas também, em diferenciadas situações do cotidiano. Pense bem: você se comunica com o seu chefe da mesma forma como fala com o seu filho bebê? Ou se comunica com o seu cachorro do mesmo modo como com a sua esposa?

Já no que se refere ao preconceito linguístico, os principais mitos que ele alimenta são:

  • Línguas ou dialetos primitivos são ‘informais’ ou errôneos;
  • Só a classe culta e formal da língua possui gramática adequada para uso no cotidiano;
  • Povos indígenas e/ou moradores de pequenas comunidades (como as da América ou África, por exemplo) não contam com língua própria, mas apenas utilizando-se de dialetos informais para se comunicar.

Além disso, cabe destacar que o preconceito linguístico está comumente associado à própria língua nata do indivíduo, que julga outras formas de utilizá-la que não seja a sua própria.

Neste sentido, os mais comuns mitos de preconceito linguístico são:

  • Pessoas com baixo nível de escolaridade ou mais ‘pobres’ tendem a utilizar a língua de modo errôneo;
  • O próprio brasileiro não conhece a sua língua. O português de verdade só é falado em Portugal;
  • A língua portuguesa tem padrões que devem ser constantemente seguidos para que o indivíduo se comunique de modo correto com ela;
  • O problema é que a língua portuguesa é muito complicada, com muitas regras gramaticais;
  • Devemos falar de tal jeito porque se escreve de tal jeito;
  • Para escrever e falar bem é preciso dominar a gramática do português.

Resumo Escolar

Share
Publicado por
Resumo Escolar

Recent Posts

Vaquita: conheça o mamífero mais raro e um dos mais ameaçados do mundo

A face simpática – mostrando quase um sorriso – não traduz a dimensão da ameaça…

3 de maio de 2024

As frases mais importantes da história da humanidade

“Se uma imagem vale mais que mil palavras, então diga isso com uma imagem”. Essa…

29 de abril de 2024

Nacionalidade ou naturalidade: qual a diferença?

Nacionalidade e naturalidade são conceitos fundamentais para compreendermos a origem e os laços de um…

25 de abril de 2024

Como calcular porcentagem

Oi! Hoje vamos aprender sobre porcentagem. Sabe, é como dividir algo em partes e expressar…

4 de abril de 2024

Geleia ou geléia? Qual a forma correta de se escrever.

Então, vamos direto ao ponto: como escrever "geleia" corretamente? Com as mudanças ortográficas, ficou mais…

4 de abril de 2024

O que é Etinia

O conceito de etnia é intrincado e multifacetado, permeando o estudo da Antropologia, a ciência que investiga a…

3 de abril de 2024