Natureza Humana e Tecnologia

Sociologia,

Natureza Humana e Tecnologia

A partir da segunda metade do século XX até os dias de hoje, com o grande avanço das pesquisas vinculadas à tradução do quadro genético dos seres humanos e a decorrente utilização da técnica de modificação genética, algumas perguntas começaram a surgir, como: Há realmente uma origem humana que não pode ser modificada? Quais os limites da ética com relação à natureza humana e tecnológica? É possível transformar a natureza do ser humano de tal formar que seja possível eliminar as doenças e a velhice? E quais são os riscos nisso tudo?
É importante compreender, primeiramente, o que vem a ser a natureza humana.

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Natureza humana ao longo dos séculos

Os pensadores da antiguidade, como os filósofos gregos e os poetas trágicos ou os apóstolos e profetas do costume judaico cristão, sempre definiram o homem ou gênero humano como um ser que se reparte entre a racionalidade e a animalidade. Dessa forma, o homem possuía como principal objetivo a procura de uma estabilidade entre essas duas esferas. Isso implicava na estabilidade entre a ação racional e as paixões, assim como entre as virtudes e os instintos, isto é, era preciso ponderar as características puramente naturais com as características que eram diferentes da simples natureza. Sobre natureza humana conclui-se que equivale ao equilíbrio entre razão e emoção.
Esse entendimento da natureza humana vinha da grande experiência que as comunidades antigas reuniram ao longo de séculos, principalmente a experiência de pesar com desastres naturais, guerras, epidemias etc. Tudo isso deixava claro a natureza frágil do ser humano e era preciso, dessa forma, conduzir-se por qualidades com a coragem, a prudência e a sobriedade.
Desde a Idade Moderna, com o surgimento da tecnologia e da ciência, diversos problemas ligados à prática do sofrimento, mencionada anteriormente, conseguiram ser aos poucos resolvidos. O avanço tecnológico e científico, que proporcionou ao homem o entendimento dos fenômenos da natureza e, por conseguinte, seu domínio, trouxe segurança e conforto às sociedades que estavam se desenvolvendo. Dessa forma, doenças foram exterminadas, cidades foram projetadas com vistas à segurança de tragédias naturais e fatalidade. Contudo, todo esse avanço deu ao homem também um ponto de vista diferente a respeito da natureza humana.
Se o conhecimento das sociedades antigas empurrava o homem às suas qualidades, na modernidade o avanço começa a empurrá-lo para ações exageradas. Existe, desde a modernidade até a atualidade, um desejo de libertação do ser humano das restrições que a natureza o sujeita. Essa libertação apresenta como agente de mudança o poder da tecnologia. Existe, principalmente do século XIX até hoje, uma doutrina audaciosa de que a humanidade pode ser aprimorada pela tecnologia; de que sua origem pode ser superada por procedimentos de biotecnologia e engenharia genética.

Expectativas para o futuro

Existe um exemplo muito popular dessa doutrina que é o do biólogo Julien Huxley, primeiro dirigente da UNESCO, que considera o fato do ser humano ter a capacidade de ultrapassar sua própria origem, por meio da prática. Ele criou o conceito do “trans-humanismo”. O pensador alemão Nietzsche, no século XIX, já sugeria o aparecimento de um “super-homem” que superaria o homem referido até então.
De forma irônica, o escritor Aldous Huxley, irmão de Julien Huxley, escreveu um narrativa romântica de ficção científica onde tratou justamente de mostrar os riscos que essa ideia de superar a origem humana poderia acarretar.
O livro chamado “Admirável Mundo Novo” apresenta como assunto a engenharia genética a produção de seres humanos em vitro ou em laboratórios, impecavelmente projetados por meio da alteração biotecnológica. Esses são riscos que estão relacionados com a eugenia, ou seja, com a vontade de produção do ser perfeito, preparado para qualquer espécie de sofrimento e sem deformações congênitas de qualquer tipo.
Esse pensamento deixou dirigentes políticos como Adolf Hitler maravilhados, uma vez que ele procurava o aprimoramento da raça branca através da tecnologia e da ciência.
No começo dos anos 2000, um pensador conhecido como Francis Fukuyama veiculou um livro chamado “Nosso futuro pós-humano”, onde afirma que o que é mais iminente no mundo moderno é a questão do destino da natureza humana, ou seja, do motivo de ser da presença biológica do ser humano.
Todos os progressos feitos pela engenharia genética e pela biotecnologia conseguiram até o momento proporcionar bons resultados para o futuro da humanidade. Contudo, também pode possibilitar um futuro parecido para os seres humanos, a ficção científica escrita por Aldous Huxley.
A história contada está vinculada à realidade que a humanidade se encontra. Principalmente pelo fato de a narrativa arrumar a memória da larga experiência pela qual os seres humanos passarão e, com base nisso, poder conceder informações a respeito do futuro da humanidade. O desejo por libertar-se de todo e qualquer incômodo, de se ver livre de responsabilidades, o que o faz crescer e potencializar as suas qualidades, pode conduzir o homem à verdadeira crueldade, transformando-o em alguém que ele não é.