A ocupação da Amazônia

Geografia do Brasil,

A ocupação da Amazônia

A ocupação da Amazônia é produto de um longo ciclo histórico, cujo embrião data do final do século XV, quando Portugal e Espanha assinam o Tratado de Tordesilhas, garantindo aos espanhóis o domínio da porção Oeste e, de quebra, da floresta amazônica.

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Mas antes de destacarmos alguns marcos desse ciclo é preciso apontar a relevância mundial da Amazônia tanto em termos da biodiversidade (incontestavelmente) quanto da Economia e Geopolítica (e esse olhar nos ajuda a entender melhor as dinâmicas de ocupação).

Há séculos que a Amazônia é classificada como a mais extensa e complexa floresta tropical do planeta. Ela abrange – considerando todas suas fronteiras – mais de 5 milhões de km².

Contudo, isso não significa que ainda se trata de um enorme “manto verde”, pois a mata original tem diminuído gradativamente com o passar dos anos em razão do desmatamento.

Embora a maior parte da floresta esteja em território brasileiro, sua presença se estende por outras nações: Peru, Colômbia, Equador, Suriname, Venezuela, Guiana, e uma parcela da Guiana Francesa.

Os “descobridores” da floresta

Segundo a tese mais aceita na atualidade a população indígena na América (e a Amazônia aí incluída) teria começado a nascer por volta de 15.000 anos atrás, a partir de três grandes ondas de migração vidas da Ásia através do Estreito de Bering. E grande parte das tribos brasileiras já estavam aqui estabelecidas há mais de 11 mil anos. Ou seja, muito antes de 1500 a floresta e o Brasil já haviam sido “descobertos”.

Quando as primeiras expedições lusitanas tiveram início (primeiramente, para retomar a região dos espanhóis e afastar possíveis invasões), alimentos como o cacau e a castanha tornaram-se os primeiros produtos cobiçados da região. Esse “novo olhar” europeu sobre a floresta, de certa forma, marcou o começo da ocupação da Amazônia na Idade Moderna.

A ocupação da Amazônia

O período de ocupação da Amazônia, como já dissemos, teve princípio em 1494, com Tratado de Tordesilhas e, à priori, dando à Espanha “direito legal” sobre a região.

Acompanhe abaixo outros marcos importantes:

– 1540: cinquenta anos depois do acordo com os espanhóis, os portugueses tiveram consciência de que haviam aberto mão da Amazônia. Pensando em reverter isso, começaram a adentrar a mata paulatinamente (na época, ingleses, franceses e holandeses também já estavam de olho no território);

– 1637: primeira grande expedição realizada, com mais de 2 mil homens. Início da exploração do cacau e da castanha;

– 1750: tratado de Madri estabelece direito de posse para a potência comercial que fosse capaz de ocupar e explorar a floresta. Como Portugal já havia começado há anos, a Espanha perdeu a disputa;

– De 1870 a 1900: alavancado pela Revolução Industrial, o ciclo da borracha tem início. Aproximadamente 300 mil nordestinos migram para trabalhar nos seringais;

– 1940: Getúlio Vargas dá início à chamada “Marcha para o oeste”, um plano de ocupação de áreas brasileiras com baixa densidade populacional;

– 1970: ainda na década anterior, os olhares voltam-se novamente ao oeste brasileiro (em 1960, Juscelino Kubitschek inaugura Brasília). Já em 1970, durante a Ditadura Militar, tem início a construção da Rodovia Transamazônica, inaugurada em 1972 (embora especialistas afirmem que ainda não foi concluída!). A ideia era levar infraestrutura moderna à região. De maneira desordenada, a população chega a 7 milhões de pessoas;

– 1980: começam a aparecer os impactos ambientais das políticas mal planejadas de ocupação (14 milhões de hectares foram, na época, “distribuídos” sob critérios duvidosos). Cresce o número de grileiros, madeireiras clandestinas, assentamentos ilegais, disputas de terra e conflitos com populações indígenas. O assassinato de Chico Mendes, em 1988, alcançou repercussão mundial, pressionando as autoridades a legislarem a favor da preservação da Floresta;

– 1990: cresce o desflorestamento em decorrência da exploração econômica da soja (cerca de 40 milhões de hectares já haviam sido desmatados);

– 2000: a pecuária se amplia, com a presença de 64 milhões de cabeças de gado;

– De 2005 a 2017: a missionária norte-americana Dorothy Stang (devotada à causa ambiental e à proteção dos pequenos agricultores) é assassinada, em 2005, a mando de fazendeiros da região. Entre 2016 e 2017, o desmatamento da Amazônia aumentou em torno de 30% (até março de 2017, a degradação já atingia 88 km²)

Atualmente, vivem na Amazônia Legal (formada por 9 Estados) 23 milhões de indivíduos. Os mais recentes levantamentos realizados indicam uma densidade de 4,6 habitantes por km² (mais de 60% dos indivíduos vivem em cidades). Manaus, o maior dos municípios, possui mais de 2 milhões de habitantes.

A ocupação da Amazônia é uma saga que envolveu (e, de certa maneira, desencadeou) a miscigenação de populações indígenas com migrantes caboclos, ribeirinhos, seringueiros e balateiros (coletores de balata, um tipo de látex). Tal população constitui a herança mais notável de todo o processo iniciado no período colonial brasileiro.