El Niño: O que é
Talvez um dos mais conhecidos fenômenos climáticos que atinge o planeta Terra, o “El Niño” é um agrupamento de alterações de relevância incontestável e de curtíssima duração (em geral, tomam corpo num período de 15 a 18 meses) que incide na temperatura distribuída na superfície marítima do Oceano Pacífico, e que acaba por impactar profundamente também o clima de um modo geral, relevando mudanças climáticas muitas vezes radicais.
O nome “El Niño”, atribuído a esse fenômeno climático, tem uma história interessante ou, no mínimo, bastante curiosa. Os pescadores da costa oeste da América do Sul, quando iam pescar durante a época mais próxima ao final do ano, começaram a perceber e difundir entre si a noção de que, nesse momento específico do ano, havia um aumento significativo na temperatura marítima, o que impactava também em uma baixa na quantidade de capturas de peixes que eram por eles realizadas.
Aos poucos, essa noção de que havia um estranho acontecimento climático que esquentava a água dos mares e espantava os peixes de lá passou a ser associado ao aniversário de nascimento do menino Jesus, por conta da época em que isso acontecia. O menino – “El Niño”, em espanhol – acabou por ser o ícone que nomeou o fenômeno popularmente, mas que depois se tornou também o modo dos especialistas da climatologia se referirem a ele.
A incidência do “El Niño” não ocorre todos os anos, restringindo-se somente a alguns anos específicos em que a conjuntura da natureza implica no acontecimento desse fenômeno. Mas de todo modo, a impossibilidade de realizar a pesca que havia sido detectada pelos pescadores da América do Sul compõe apenas parte de toda a cadeia de acontecimentos que envolvem o “El Niño”. Isso porque, inicialmente, em um ano em que a incidência desse fenômeno sobre os mares não ocorra, os chamados “ventos alísios” sopram normalmente no sentido oeste por meio do Oceano Pacífico, impactando em um excesso de água que se acumula no Pacífico Ocidental. Esse deslocamento do volume oceânico faz com que a superfície do mar na região da Índia, por exemplo, tenha praticamente meio metro a mais de volume, isto é, seja meio metro mais alta, do que no lado oposto do Oceano, por exemplo, a costa do Equador.
Essa diferenciação bastante significante entre os volumes das diferentes regiões marítimas faz com que ocorra um outro fenômeno chamado de “ressurgência das águas profundas”, que são, por sua vez, muito mais frias que o comum e quando ressurgem, o fazem carregadas de determinados nutrientes na costa ocidental da América do Sul. Tais nutrientes são os grandes responsáveis por alimentar o ecossistema marinho, e promovem uma imensa população de peixes. Não por acaso, na região da costa do Chile e do Peru, a pescaria da anchova já foi considerada a maior do mundo, tendo alcançado em alguns anos o recorde de 12 milhões de toneladas de anchova pescadas a cada ano. Não só aos seres humanos esses peixes alimentam; eles também acabam por servir de comida aos pássaros que habitam o ecossistema marítmo, que são muito abundantes naquela região, e esses pássaros, por sua vez, depositam suas fezes na terra local e essas são recolhidas e utilizadas pela indústria de fertilizantes. Ou seja: existe toda uma organização ecossistêmica que impacta de maneira significativa no desenrolar de uma história que envolve as alterações climáticas, o deslocamento marítimo, os peixes, a pesca, a indústria da pesca, os pássaros e a indústria de fertilizantes. Tudo isso muda de figura, porém, em um ano em que o “El Niño” surge.
Isso porque, quando ele acontece, isto é, em intervalos nada regulares que podem surgir a cada 2 ou 7 anos (mas obedecendo, por sua vez, uma média de 3 a 4 anos), os ventos acabam soprando com menos força em todo o centro do Oceano Pacífico. Isso faz com que ocorra uma diminuição da ressurgência dessas chamadas “águas profundas” e, consequentemente, a acumulação de água mais quente que o normal na costa oeste da América do Sul não acontece como aconteceria corriqueiramente. Os pescadores da região detectam imediatamente: há uma diminuição significativa na produtividade da pesca que não consegue ser realizada e, mesmo quando é feita, não apresenta resultados significativos para quem a realiza. E a partir daí, depreende-se o resto da história: sem pesca, sem alimentação para os pássaros da região, e, sem alimentação, ou a população desses pássaros migra dali para outros lugares em busca de alimento, ou morre e, consequentemente, não deposita no solo as suas fezes, utilizadas com fertilizantes.
Existem ainda alguns outros fenômenos que são relacionados ao “El Niño”, dentre eles o “La Niña” e “El Viejo” (respectivamente “A menina” e “O velho). “La Niña” é um fenômeno inverso, caracterizado pela incidência de temperaturas anormalmente frias na mesma época do ano (o final) que incide na região equatorial do mesmo Oceano Pacífico. Já o “El Viejo” é o fenômeno de reaquecimento que pode ocorrer depois de “La Niña” e, por conta disso, também é conhecido como “E Niño 2”.