A Economia Brasileira No Final Do Século XX

História do Brasil,

A Economia Brasileira No Final Do Século XX

Impossível desvincular economia e política, então analisaremos, de forma isenta, como foi a economia brasileira no final do século XX.

Década de 1980. Oficialmente ainda sob o regime militar, o país sofria com o colapso do petróleo. Os juros no mercado externo subiam a cada semana, afetando o balanço interno. A política de empréstimos internacionais, que era a principal fonte de investimentos, se tornava cada vez mais inviável por conta da escassez de recursos e prazos cada vez mais curtos. A política de tomar emprestado para alavancar o crescimento teve que ser revista e freada. Sem dinheiro entrando, as taxas de juros internos aumentaram, investimentos nas estatais (que eram vitais para as taxas de crescimento) foram cortados e o baixo investimento privado decretou a recessão oficial, ou seja, aumento do desemprego e diminuição dos salários até 1983. Esse ano marca também um acordo nefasto celebrado com o FMI e que aumenta a instabilidade: em troca de uma pequena ajuda financeira paliativa, o país penhora todas suas receitas como garantia do pagamento da dívida, além de se comprometer a cortar despesas e arrochar salários.

planos moedas e numeros

O caos anunciado, entretanto, não se concretizou. A partir de 1984, a queda do valor do barril de petróleo no mercado mundial, antes o grande vilão, ajuda a recuperar a economia brasileira. A inflação, porém, se mantém alta. O ano de 1985 marcaria o fim da ditadura e a primeira eleição (indireta) em muito tempo. Esses fatores trouxeram a perspectiva de bons ventos na economia brasileira no final do século XX.

José Sarney, o vice da chapa vencedora encabeçada por Tancredo Neves, que morreu entre a eleição pelo colégio eleitoral e a posse, enfrentou um quadro mais ameno que no início da década, pois o saldo positivo na balança comercial possibilitava a retomada do crescimento e garantia o pagamento dos juros da dívida externa. Os fantasmas atendiam pelo nome de dívida interna e inflação.

Planos, moedas e números

A primeira atitude do governo Sarney, em 1986, foi mudar a moeda. O cruzeiro perderia três zeros e teria um novo nome, o cruzado. A intenção de valorizar a moeda nacional não se limitou ao corte dos zeros, mas aboliu também a automática indexação e todos os preços do varejo e taxas foram congelados, por decreto e por tempo indeterminado. O salário-mínimo também foi reajustado, com base na média do último semestre acrescido de um abono de 8%. Surgiram então os lendários “fiscais do Sarney”, que supervisionavam qualquer aumento, da mercearia da esquina até as grandes redes varejistas.

Política econômica não se faz por decreto. Essa é a lição que a economia brasileira no final do século XX descobriu e que o governo rapidamente teve que rever. Congelar preços e promover o aumento compulsório de salários fez surgir o “ágio”, ou seja, um valor cobrado “a parte” do valor tabelado. Oferta e demanda ficaram desequilibradas. A inflação não baixou e as contas externas sucumbiram ainda mais e o resultado foi devastador: no início de 1987 o país declarou moratória. Em meses, a euforia virou depressão.

Democracia e decepção

Sarney concluiu seu mandato, mudando mais algumas vezes a politica econômica, sem sucesso. Em 1989, a primeira eleição direta em décadas. O eleito, Fernando Collor de Melo, ostentou durante a campanha a bandeira de “acabar com os marajás”, referência aos que lucravam com o poder. Suas ações práticas foram catastróficas: sequestro compulsório das cadernetas de poupança e instabilidade geral, interna e externa. Destituído do cargo num inédito processo de impeachment, Collor foi substituído por seu vice, Itamar Franco, que tinha a imensa missão de controlar uma inflação que beirava os 1000% ao ano. Seu mandato ficou marcado pela implantação do Plano Real, capitaneado por seu ministro da economia, Fernando Henrique Cardoso.

Adaptação e ajustes

A concepção de um novo plano econômico define a economia brasileira no final do século XX. Estabilizar a economia, de forma perene, tinha um período de adaptação: durante alguns meses, a moeda nacional foi a URV, Unidade Real de Valor, com variação diária baseada no dólar. O preço de qualquer produto/serviço era estabelecido pela divisão do seu preço de etiqueta pela URV. O Real acabava com a indexação, seria equiparado ao dólar e a emissão de novas notas estaria vinculada à quantidade de dólares correspondentes às reservas do Banco Central.

O sucesso do plano veio do saldo positivo da balança comercial: o Banco Central tinha grande quantidade de dólares, e esse lastro garantia o Real. Quando essa lógica se alterava, como em épocas de pagamento de dívidas, o próprio BC interviria e garantiria o mercado de câmbio. O êxito foi imediato e levou Fernando Henrique à presidência. O sucesso do plano, garantido por uma inflação ínfima, se baseava nas altas taxas de juros, o que atraia investimentos externos e mantinha o valor do dólar estável e as reservas confortáveis.