Formação Econômica do Brasil
Bem recentemente, no início do século XXI, o Brasil teve um forte crescimento econômico, com uma disparada positiva em todos os indicadores.
Essa melhora econômica, acreditam especialistas de diferentes crenças econômicas, esteve ligada fortemente a dois fatores: crescimento da demanda internacional por commodities e fortalecimento do mercado interno.
Fazendo uma viagem econômica à primeira metade do século XIX, em que ocorreram eventos importantes na história da colônia que viria a se transformar em nação independente em 1922, é interessante que se observe como se comportavam essas duas variáveis.
É preciso perceber que a demanda externa até a primeira metade do século XIX estava concentrada exclusivamente na Europa. Nada que se possa estranhar, uma vez ser aquele continente o destino das riquezas extraídas nos outros continentes, sem contar que por aquelas paragens, além do comércio, começava a vicejar a Revolução Industrial, acarretando aumento da produtividade e demanda por matéria-prima.
Por outro lado, aponta Celso Furtado, no celebrado livro “Formação Econômica do Brasil”, a renda per capta na então colônia nos anos finais do século XVIII era de não mais, pela cotação atual, de 50 dólares.
Extração e lavoura – Condições básicas para o atraso
Aquele período, bem como o início do século XIX, é marcado pela mais terrível queda no preço da cana de açúcar, assim como a extração de ouro vivia seu pior momento, levando a colônia a praticar uma economia de subsistência.
Voltando aos dias atuais, pode-se perceber como a América do Sul é, até os dias atuais, produto da forma como se desenvolveu a economia local. O que aconteceu com o açúcar no final do século XVIII, é o que acontece, respeitadas as enormes e devidas proporções, com a economia brasileira com o evento da queda dos preços das commodities no mercado internacional, particularmente o petróleo.
Muito se tem ouvido falar que os acordos comerciais com a Inglaterra no início do século XIX, amplamente favoráveis a essa última, do ponto de vista da política tarifária, foram a maior âncora para a economia brasileira durante o primeiro e parte do segundo Império. Sem dúvida que as condições decorrentes desses acordos, do desequilíbrio da balança comercial, acarretada pela importação de produtos manufaturados, principalmente os têxteis, e da falta de base técnica para um processo de industrialização, é preciso considerar como fator determinante a inexistência de um mercado consumidor que alavancasse tal empresa.
Não bastasse uma grande parte da mão de obra ser escrava, logo ausente do mercado consumidor, e a baixa renda per capta, a própria extensão territorial e a estagnação do crescimento populacional serviam de entrave à estruturação de políticas econômicas. Grande parte dos esforços financeiros se destinavam a tentar manter a unidade do Império.
Outro fator que influenciou a formação econômica do Brasil foi o poder adquirido pelos grandes produtores agrícolas. O poder político adquirido pelos proprietários de terras explica o desinteresse pela estruturação de políticas de desenvolvimento industrial mesmo após a proclamação da República.
Pode-se observar que até mesmo no nascedouro da República, no final do século XIX e início do século XX, esse poder está presente naquilo que ficou conhecido como República do Café com Leite, só possível porque São Paulo e Minas eram os grandes produtores de leite e café. A aliança dos grandes produtores de café e leite com as oligarquias do resto do país, garantindo-lhes privilégios, deu sustentação a àquela política, que vigorou até 1930.
Voltando, porém, ao cenário da segunda metade do século XVIII, percebe-se que até aquele momento, em pleno nascimento da Revolução Industrial, a economia brasileira praticamente não havia estabelecido uma base mínima para o crescimento.
Alguns atribuem a lentidão na formação econômica do Brasil à forma como se deu a colonização portuguesa. Não há dúvida disso. Quando há uma comparação com o que aconteceu no norte dos Estados Unidos, tudo fica mais claro. Lá, o que temos é uma colônia de povoamento, com uma certa autonomia política e até econômica, ambiente propício ao aparecimento e diversificação da atividade econômica.
No Brasil, ao contrário, há dois fatores primordiais, que o caracterizam como colônia de exploração: economia extrativista e mão de obra escrava. Portugal, na realidade, só empreendeu esforços para povoar o Brasil em função da pressão política internacional, já que outras nações europeias contestavam o direito daquele país e da Espanha de ocupar a América.
Todos esses fatores levaram à não formação de uma identidade local. Os paralelos com os dias atuais são bastante eficazes, enquanto medida de causa e efeito.
Longo caminho até a industrialização
Nada acontece por acaso. A corrida do ouro no continente americano criou um movimento de interiorização da ocupação do território brasileiro, mas muito pouco deixou de legado em termos de desenvolvimento local. A economia extrativista consistia em estruturação de comunidades, que rapidamente viviam seu apogeu, porém, mais rápido era sua chegada, tão logo vinha a decadência.
Tal fenômeno é decorrente do fato de que tudo se estrutura em torno de uma única atividade econômica. Sendo ela meramente extrativista, é fácil imaginar que o recurso natural se acabe, que haja uma superoferta e queda do preço. Esvaziada a atividade econômica única, a comunidade perde o sentido de existir.
Recentemente, a queda do preço do petróleo e o desmonte da cadeia econômica a ele ligada trouxeram sérios problemas à economia fluminense. Muito pouco diante do que aconteceu com a Venezuela, cuja economia era fortemente ancorada na exportação da cobiçada commoditie e sucumbiu diante da queda do preço da mesma.
A industrialização só chegou ao Brasil de forma estruturada a partir da década de 40, alavancada por um misto de políticas de governo e condições impostas pelo cenário internacional.