Resumo da ditadura militar no Brasil: Os bastidores do Milagre Brasileiro

Durante o governo do general Emílio Garrastazu Medici, o setor econômico viu o advento do chamado milagre econômico brasileiro, que foi caracterizado como um crescimento da economia em ritmo bem acelerado. O economista Antonio Delfim Netto, que desde o governo do presidente Costa e Silva era ministro da fazenda, foi o principal ideólogo desse milagre.

Durante anos, em razão dos sucessivos traumas políticos e pelo descontrole da inflação, provocados pela implantação do parlamentarismo, do governo de Jânio Quadros e do agitado governo esquerdista de João Goulart, não foram feitos investimentos estrangeiros. O milagre, deve-se ao ingresso de capitais estrangeiros maciços, que foram atraídos pela estabilidade política que os governos militares promoveram, voltaram ao território nacional. No início dos anos 1970, o aval do governo norte-americano as baixas taxas de juros praticadas no mercado internacional contribuíram para que a instrumentalização do milagre se tornasse possível.

Os bastidores do Milagre Brasileiro

Chegando em volume grande, o capital estrangeiro era absorvido pelas empresas privadas do Brasil, empresas estatais e empresas privadas estrangeiras, também conhecidas como multinacionais, com cada setor se especializando em um ramo da atividade industrial. Dessa maneira, se concentraram no setor de indústrias que apresentam fraca demanda de capital e forte demanda de mão de obra, as empresas privadas brasileiras.

Por sua vez, as empresas multinacionais acabaram direcionando as suas atividades para os setores de capital intensivo, com mão de obra relativamente fraca (como na indústria de eletrodomésticos, automobilístico, de máquinas e em geral, de bens de consumo duráveis) e com forte demanda de capital. Já as empresas estatais se voltaram para os setores que estavam ligados a segurança nacional, envolvendo as indústrias de geração de energia, pesada, de telecomunicações e até mesmo a indústria bélica.

Esse modelo acabava por se assemelhar com aquele que foi implantado, entre os anos de 1956 a 1961, pelo então presidente Juscelino Kubitschek. A diferença estava no fato do estado passar a ter um papel empreendedor muito maior.

Assim, para que o crescimento da produção industrial do Brasil acelerado pudesse ser viabilizado, optou por se ampliar o mercado consumidor, tanto interno como externo. Então, a produção industrial brasileira passou a contar com um mercado consumidor significativo no exterior, não apenas nos países considerados de Terceiro Mundo, mas também nos Estados Unidos e na Europa. Mas, os que mais exportavam eram as empresas multinacionais.

O Brasil, que contava com grandes depósitos de matérias-primas, como por exemplo ferro, mão de obra barata e abundante, indústrias de base capazes de transformar essa matéria-prima (as indústrias siderúrgicas), por isso, algumas multinacionais acabaram transferindo suas linhas de montagem, conseguindo oferecer para o mercado externo preços mais baixos e produtos mais sofisticados e modernos.

A equipe econômica do governo também trabalhava com o objetivo de manter baixos os salários. Assim, qualquer tipo de reivindicação trabalhista que pudesse acontecer por melhores salários era reprimido com o uso de violência. Enquanto o achatamento de salários de trabalhadores mais humildes era promovido, a expansão do poder de compra de trabalhadores mais especializados, principalmente os que pertenciam à classe média, era buscado. Os ganhos profissionais liberais de classe média e os salários dos conhecidos como colarinhos-brancos subiram de maneira considerável, bem como aumentaram-se as facilidades de crédito.

Foi dessa maneira, que a classe média do Brasil conseguiu atingir seu objetivo principal, o consumo, considerado o mais imediato. Inclusive, nas grandes cidades, criou-se um modo de vida próprio: a casa própria, com diversos eletrodomésticos, o segundo automóvel da família (já que o primeiro já havia sido adquirido na época do governo de JK), o sítio no campo ou o apartamento na praia. Os filhos desses trabalhadores passaram a estudar em escolar particulares e a frequentar cursinhos voltados para o ingresso na faculdade, garantindo assim a entrada em escolas de ensino superior gratuitos. Com o diploma universitário em mãos, a ascensão social era perpetuada.

Não demorou muito para que o governo passasse a tirar proveito dessa situação. Surgiu então o mito do Brasil potência, alimentando alguns slogans bem conhecidos até os dias de hoje, como ‘Pra frente, Brasil’, ‘Brasil, ame-o ou deixe-o’ e ‘Ninguém mais segura este país’.

No ano de 1970, a conquista do tricampeonato mundial de futebol, acabou contribuindo para que a imagem positiva do país fosse reforçada junto aos porta-vozes do discurso oficial e para que um clima de euforia fosse criado. Mas, nesse contexto, a dependência em relação ao capital estrangeiro era muito expressiva, fazendo com que a dívida externa crescesse em proporções consideradas alarmantes. A expansão acelerada do PIB e a manutenção de baixas taxas de juros no mercado internacional faziam com que esse problema fosse minimizado. Por isso, podemos dizer, que o chamado milagre brasileiro gerou uma desigualdade na distribuição de renda.

CONTEÚDO DESTE POST

Abertura do regime

No ano de 1974, mais precisamente no mês de março, o mandato de Medici foi encerrado, sendo substituído pelo general Ernesto Geisel.