Contra-iluminismo

O Iluminismo (também chamado de “Século das Luzes”) foi um movimento notório que ocorreu no século XVIII em diversos países ao redor do mundo (sobretudo na Europa), tais como Alemanha; Escócia; França; Inglaterra; Portugal e até mesmo nos Estados Unidos (devido às colônias britânicas remanescentes). É considerado uma revolução socioeconômica; filosófica; cultural; política e religiosa, e acreditava na racionalidade como o meio principal para se atingir a “luz”, ou seja, a liberdade e autonomia de pensamento.

Entre os aspectos iluministas pode-se citar:

* A preocupação com o cotidiano ao invés de crenças religiosas;
* Adoção do questionamento, investigação e experiências científicas para a definição do mundo;

Contra-iluminismo

* Elaboração do conceito de enciclopédia, com uma compilação de todo o saber conhecido até o momento;
* A razão acima de tudo e o principal caminho para atingir a plenitude do ser humano;
* Defendia a liberdade, tanto política quanto econômica e pregava por uma igualdade entre todos os homens.

Porém, assim como qualquer movimento que se torna demasiadamente expressivo, logo surgiram oposições à causa proposta pelos defensores, da razão acima de todas as coisas, e pouco a pouco, o movimento do contra-iluminismo nascia.

SURGIMENTO E DOUTRINA

O Contra-iluminismo se originou no final do século XVIII, e naturalmente, seu objetivo se concentrava em reverter as novas doutrinas elaboradas pelos pensadores da época. Com a alcunha de “Conservadorismo de Trono e Altar” ou simplesmente “Conservadorismo Latino”, a base do pensamento anti-iluminista remete parcialmente ao período medieval (apelidado de Idade das Trevas) e dominado em grande parte pela ignorância do saber, um monopólio religioso e o autoritarismo absoluto de um Rei soberano que permanecia no topo de uma pirâmide de classes sociais. Esse rei indubitavelmente deixava os plebeus totalmente privados de seus direitos civis, como a liberdade de expressão, por exemplo, bem como liberdade de imprensa, liberdade de reunião, etc. Os adeptos da causa a favor do Contra-iluminismo, portanto, apoiavam a volta desse modelo de regime deturpado de trono, bem como a Igreja Católica firmada em uma posição intocável e suprema, sustentada pelo Estado (que, por sinal, não admitia a prática de qualquer outra religião).

Os contra-iluministas eram, acima de tudo, contra o Nacionalismo (na época ainda um movimento progressista que, ao longo dos anos, se corrompeu a um ideal extremamente de raízes conservadoras), representando algumas de suas ideias na literatura através do escritor francês Charles Maurras, cujo legado serviu de inspiração para o surgimento do Fascismo (um dos pilares da Segunda Guerra Mundial).

O Contra-iluminismo frequentemente acusava a modernização da civilização e o crescimento da corrente liberalista de serem provenientes de algum tipo de conspiração, e negavam as mudanças socioeconômicas naturais que ocorrem paulatinamente em qualquer sociedade. Após a Revolução Francesa, os boatos de uma conspiração de maçonaria ganharam força, assim como uma possível conspiração dos judeus no final do século XIX.

Um dos filósofos da época em questão, Jean-Jacques Rousseau, encontra-se no centro de um debate um tanto quanto complexo. Até os dias de hoje ainda resta a dúvida no ar: era ele iluminista ou contra-iluminista? Seu contemporâneo Immanuel Kant diz que a racionalidade é a principal responsável pela abertura de todas as portas da mente, e, portanto, pela liberdade plena do ser humano. Descobrir e entender o mundo através da razão, segundo ele, é fundamental para o crescimento do homem em todos os aspectos.

Para Rousseau, entretanto, a liberdade não está no culto à razão. Toda essa revolução do pensamento não passa de simplesmente uma nova forma de opressão. Em sua obra, Rousseau aborda as ideias iluministas como uma nova forma de fazer perdurar a alienação, acrescentando que o movimento iluminista apenas substituía os dogmas da Igreja e o poder tirano da monarquia por outra forma de controle, dessa vez pelas mãos da ciência e dos pensadores, não alterando assim o status desigual da sociedade.

É irônico, entretanto, que Rousseau tenha atacado o iluminismo de forma tão veemente, e defendido a volta do homem a um Estado Natural (ingenuidade, paz e igualdade), sendo que ele fez tudo isso através de um processo de pensamento e elaboração de ideias, utilizando toda sua racionalidade e razão.

LEGADO

Ao contrário de seus “arqui-inimigos”, os representantes do Contra-iluminismo não têm uma base tão sólida nas artes, e apesar de terem representantes do calibre de Tomás Antônio Gonzaga e Bocage, ainda assim não foi o suficiente para a criação de uma escola literária forte de fato, principalmente devido à falta de homogeneidade e um consenso de ideias.

Apesar de ser considerado extinto nos dias atuais, levou um bom tempo para que seus ideais se dissolvessem, principalmente no ramo da política, tendo seu último exemplo com o espanhol General Franco, no ano de 1975. No ramo filosófico, entretanto, ainda é possível encontrar representantes das ideias contra-iluministas, como a Frente nacional Francesa, por exemplo, um movimento de direita extremista e ultrarreligioso.