Categorias História

Henri Cartier-Bresson: um ícone decisivo da fotografia

A fotografia como a captação do presente, e o momento em que a foto é tirada sendo compreendido como um instante decisivo em que o fotógrafo tem nas mãos a decisão de eternizar ou não aquilo que se passa diante de seus olhos. Ainda que bastante disseminada, essa definição do que é fotografia tem um dono: Henri Cartier-Bresson, pai do fotojornalismo moderno e um dos maiores nomes da fotografia do século XX.

Nascido em 1908 em Seine-et-Marne, região localizada no norte da França, Cartier-Bresson era o mais velho dos cinco filhos de uma família abastada, dona de uma indústria têxtil. Desde cedo, Bresson demonstrou aptidão pelas artes em geral e, especialmente, pela fotografia. Ainda jovem, o futuro fotógrafo chegou a estudar artes visuais e pintura nos ateliês privados de artistas de renome na França da época, como André Lhote e Jacques Émile-Blanche. O rigor acadêmico e as duras definições a respeito da arte acabaram por afastar o jovem Bresson desse segmento, ainda que ele tenha reconhecido a importância dessas experiências em sua formação artística.

Posteriormente, o futuro grande fotógrafo frequentou a Universidade de Cambridge no Reino Unido, onde graduou-se em Artes, Literatura e Inglês. É justamente desses anos que data o seu convívio com artistas ligados ao movimento surrealista, uma das mais notáveis vanguardas artísticas européias, que deixaria impressões em Cartier-Bresson responsáveis por influenciar seu trabalho posterior com muita intensidade.

Com 22 anos, depois de viver uma desilusão amorosa, Bresson realiza uma viagem à Costa do Marfim, na África, onde passa um ano inteiro levando uma vida errante. É no retorno à Europa, em 1932, que o futuro fotógrafo vai travar contato com uma imagem do fotojornalista húngaro Martin Munkacsi, que será um divisor de águas para a sua carreira: na foto, três meninos negros e nús correm em direção ao mar para banhar-se nas ondas. A partir dessa experiência, Bresson percebe que a fotografia tem um poder maior do que a pintura na sua capacidade de captar e registrar o instante, inserindo-o na eternidade. A partir de então, munido de sua pequena câmera Leica com lente de 50 mm, Cartier-Bresson põe-se a registrar o mundo ao seu redor, captando uma série de cenas urbanas e anônimas sem que os fotografados percebessem que estavam sendo retratados, fato que viria a ser uma marca contundente de seu trabalho.

Após a eclosão da 2ª Guerra Mundial, o fotógrafo se alista e serve o exército francês, onde atua na unidade de fotografia e filmagem até ser capturado por soldados alemães e ser mantido prisioneiro por cerca de 35 meses. Bresson tenta fugir sem sucesso por duas vezes, mas na terceira tentativa ele é bem sucedido e consegue retornar à França com vida. O fotógrafo iria ser, ao final da Guerra, um dos responsáveis por registrar em imagens a ocupação e a posterior libertação do seu país de origem.

Apesar das aventuras anteriores, foi com a criação da famosa agência Magnum, em 1947, que Cartier-Bresson se consolidou como um dos maiores ícones da fotografia de todos os tempos. Ao lado de nomes como Robert Capa, David “Chim” Seymour e George Rodger, o fotógrafo foi o responsável pelo pontapé inicial nessa que é até hoje uma das maiores agências de fotojornalismo no mundo, com sede em Paris. À época, a agência Magnum revolucionou a forma como se relacionavam fotógrafos e editores, uma vez que seu modelo de cooperativa permitiu, pela primeira vez na história, que os autores das fotos tivessem poder de decisão na hora de escolher o que iriam fotografar e detivessem, depois de realizado o trabalho, os negativos de suas próprias fotos. Foi um pouco depois da fundação da agência que Cartier-Bresson alcançou fama internacional com a cobertura fotográfica, em 1948, do funeral do líder ativista indiano Mahatma Gandhi.

Nos anos seguintes, o fotógrafo vai aos poucos deixando de lado a fotografia e vai retomando paralelamente sua atividade artística inicial, a pintura. Finalmente, em meados da década de 70, Cartier-Bresson se aposenta de vez, alegando ter esgotado a fotografia como mídia por meio da qual ele poderia emitir suas mensagens. O fotógrafo, ícone inquestionável do segmento do qual ele foi um dos precursores – o fotojornalismo – veio a falecer em 2004.

No trabalho de Cartier-Bresson podemos destacar alguns aspectos pictóricos recorrentes, que apontam para uma estética particular empregada pelo fotógrafo em seu fazer artístico. O fotojornalismo como segmento, isto é, a fotografia de cenas espontâneas com o intuito de captar e retratar a realidade é uma das marcas maiores de sua obra. Para além de tais características, é possível notar um acentuado apelo pela geometria dos objetos e da arquitetura, a presença ostensiva de crianças e casais, além dos flagrantes de improváveis acontecimentos do cotidiano onde o fotógrafo põe em prática o seu conceito de “instante decisivo”, isto é, o momento irreversível em que a foto deve ser tirada para captar a essência viva da cena vista.

Resumo Escolar

Share
Publicado por
Resumo Escolar

Recent Posts

As frases mais importantes da história da humanidade

“Se uma imagem vale mais que mil palavras, então diga isso com uma imagem”. Essa…

29 de abril de 2024

Nacionalidade ou naturalidade: qual a diferença?

Nacionalidade e naturalidade são conceitos fundamentais para compreendermos a origem e os laços de um…

25 de abril de 2024

Como calcular porcentagem

Oi! Hoje vamos aprender sobre porcentagem. Sabe, é como dividir algo em partes e expressar…

4 de abril de 2024

Geleia ou geléia? Qual a forma correta de se escrever.

Então, vamos direto ao ponto: como escrever "geleia" corretamente? Com as mudanças ortográficas, ficou mais…

4 de abril de 2024

O que é Etinia

O conceito de etnia é intrincado e multifacetado, permeando o estudo da Antropologia, a ciência que investiga a…

3 de abril de 2024

Quem foi Enedina Alves Marques

Enedina Alves Marques foi uma pioneira na engenharia e na educação brasileira. Ela foi a…

4 de dezembro de 2023