Características do gênero literário novela
Definir as fronteiras entre os diferentes gêneros literários nunca é uma tarefa fácil. Isso porque ainda que partam de princípios bem parecidos, academia, mercado e demais participantes do meio literário têm suas próprias formas de delimitar onde o conto acaba e a novela começa e em que ponto a novela passa a ser um romance. Isso acontece porque cada definição atende a necessidades diferentes, o que mesmo assim não influencia nas obras publicadas e nem no público que alcançam.
As grandes diferenças no caso das novelas está na extensão do texto dentro do mercado literário e em sua estrutura quando falamos dos meios acadêmicos. Para os fins desse texto, usaremos o conceito dos estudiosos de literatura, por ser a definição mais interessante e que melhor pode te ajudar a entender obras importantes publicadas.
A novela na literatura
Menos popular, o gênero novela no Brasil é quase que imediatamente relacionado às telenovelas. Embora pertençam a mídias diferentes, as novelas televisivas têm em seu nome a origem no gênero literário. Normalmente conhecido como um meio termo entre o conto e o romance, novelas são narrativas de ritmo rápido e com variáveis aplicações de complexidade nas tramas podendo introduzir e remover personagens durante o processo e encadeando diferentes histórias mais curtas que pertencem a uma mesma trama longa.
Até o início do século 20, era comum que novelas fossem publicadas de forma serializada em jornais nos chamados folhetins, formato que inspirou as novelas televisivas que dominaram a preferência popular no Brasil e diversos outros países. Enquanto no conto o ideal é que apenas uma situação seja apresentada, desenvolvida e resolvida, na novela são diferentes tramas que se desembrulham no decorrer da imagem com um grande número de personagens se envolvendo e interagindo, fazendo a história, o tempo e o espaço se deslocarem com ações.
As novelas, portanto, precisam apresentar as seguintes características de acordo com a definição do Doutor em Literatura pela Universidade de São Paulo Massaud Moisés:
- Pluralidade dramática: dois ou mais enredos, diferente do que acontece com o conto, se desenrolam durante a narrativa estabelecendo conexões entre si;
- Sucessividade: a história se desenvolve de forma primariamente sequencial, podendo aplicar eventuais recursos que quebrem a ordem da narrativa;
- Tempo: na novela o tempo é representado de forma cronológica;
- Espaço: não há indissociação entre tempo e espaço nas novelas. Os personagens podem ser deslocados para diferentes lugares a medida em que ações são executadas;
- Linguagem: nas novelas a linguagem segue um padrão de simplicidade e clareza que se adequa à época na qual a história se passe a ao público que o texto é destinado;
- Personagens: não existe limite de personagens a serem usados em novelas. De acordo com as exigências da história, novos personagens podem ser introduzidos e removidos ao longo da trama;
- Enredo: a narração depende das ações dos personagens, e por isso tende a ser mais acelerada que no conto ou no romance;
- Foco narrativo: narradores oniscientes são os mais adequados por causa da linearidade da história. Não existe nada que impeça essa narração de se desenrolar na primeira ou terceira pessoa e nem que exija um narrador confiável ou não. É comum, no entanto, que novelas apresentem narradores que saibam tudo o que se passa na cabeça dos personagens e até exponham seus pensamentos.
Exemplos de novelas
Hoje um gênero mais esquecido na literatura, novelas eram extremamente populares desde o início da imprensa após o século 15. Por causa de sua linearidade e da narrativa serializada, as novelas eram publicadas em jornais, separadas em capítulos. Esse formato popularizou vários escritores com o passar dos séculos. Na língua portuguesa, algumas das obras mais conhecidas tanto recentes quanto do passado são:
- O alienista, de Machado de Assis;
- A morte e a morte de Quincas Berro D’água, de Jorge Amado;
- Vidas secas, de Graciliano Ramos;
- O exército de um homem só, de Moacyr Scliar;
- A hora da estrela, de Clarice Lispector;
- A festa no castelo, de Moacyr Scliar;
- Manhã Transfigurada, de Luiz Antonio de Assis Brasil;
- Um copo de Cólera, de Raduan Nassar;
- O Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago;
- Longe da Água, de Michel Laub;
Nas demais línguas, as novelas consagraram escritores que eram extremamente populares em sua época e eventualmente foram considerados clássicos por estudiosos nos anos que se seguiram. O britânico Charles Dickens foi um dos escritores que mais dominou o gênero, publicando suas principais obras no formato folhetim, alcançando pessoas em todo o mundo com versões traduzidas de sua obra ainda em vida, algo tão comum hoje em dia que era extremamente raro em épocas passadas. Os títulos mais conhecidos dentro do gênero novela entre clássicos e obras recentes são:
- Bartleby, o Escriturário, de Herman Melville;
- O Fantasma da Ópera, de Gaston Leroux;
- A Fera na Selva, de Henry James;
- Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel Garcia Marquez;
- A Morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói;
- A Dócil, de Fiódor Dostoiévski;
- Morte em Veneza, de Thomas Mann;
- A guerra dos mundos, de H. G. Wells;
- O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson;
- Um conto de natal, de Charles Dickens;
- Grandes esperanças, de Charles Dickens.