Escritores do Arcadismo
O Arcadismo como movimento literário no Brasil teve a sua gênese calcada na segunda metade do século XVIII. O Arcadismo, também chamado de Neoclassicismo ou Setecentismo, possui esse nome como uma clara alusão a Arcádia, uma região localizada ao sul da Grécia antiga e que, de acordo com lendas ancestrais, é chamada assim em homenagem ao semideus Arcas, filho de Zeus e da mortal Calisto. Aliás, a inclusão de temas referentes aos mitos gregos é uma característica bastante em voga no Arcadismo.
Esse gênero literário possuía uma forte tendência contestatória, já que um dos objetivos era trazer novos conceitos artísticos, rompendo com o pensamento vigente e atendendo a um estilo de filosofia influenciado pelos valores simples e o contato com a natureza.
O Arcadismo é um reflexo das convulsões políticas, sociais e científicas que ocorriam na Europa daquele período, que atravessava o “século das luzes”, marcado profundamente por valores do pensamento iluminista, que exaltava o conhecimento científico e condenava o antigo regime, considerado um resquício da Idade Média (a Idade das Trevas).
Entre as características que denotam os escritores do Arcadismo, é possível citar:
•Idealização da mulher amada – Para os escritores do Arcadismo, a mulher amada era considerada um ser sublime, muitas vezes inatingível.
•Valorização da vida no campo – Em contraste com o crescente pensamento urbano e industrializado criado pelo pensamento científico e os valores da burguesia, os escritores do Arcadismo exaltavam a tranquilidade da vida bucólica.
•Uso de pseudônimos – Era uma prática comum entre os autores desse estilo literário assinar as suas obras sob pseudônimos. Tal procedimento era uma forma de os escritores se verem como personagens, já que na realidade boa parte vivia nos grandes centros urbanos e não levava uma vida pastoril.
•Objetividade – A escrita no Arcadismo era feita de forma objetiva e sem os termos rebuscados, bastante comuns no estilo Barroco.
•A utilização de expressões em latim – Por ter uma nítida influência da mitologia grega, não era raro encontrar em alguma obra desse estilo expressões latinas, tais como “fugere urbem” (fugir da cidade) e o famoso “carpe diem” (aproveite o dia).
Quanto ao estilo de escrita, os escritores do Arcadismo tinham apreço por versos decassílabos. As rimas não eram elementos obrigatórios na poesia.
O Arcadismo brasileiro
Quando o Arcadismo aflorou na Europa, o Brasil também passava por momentos políticos conturbados. Nesse período estava ocorrendo a transição do centro político brasileiro de Salvador (Bahia) para o Rio de Janeiro.
O Arcadismo encontrou espaço no Brasil no ano de 1768, quando foi inaugurada a “A Arcádia Ultramarina” na cidade de Vila Rica, Minas Gerais, bem como foi publicada “Obras Poéticas”, de Cláudio Manoel da Costa.
Em nosso país, esse movimento literário possui dois momentos distintos: o poético e o ideológico.
O poético é marcado pelo louvor ao estilo natural de vida, voltado para um espírito bucólico e distante da aglomeração dos centros urbanos.
O ideológico, por sua vez, trazia certa carga política e subversiva, que criticava valores clericais e da nobreza, bem como encontrava espaço com os ideais defendidos pela Inconfidência Mineira.
Vale salientar que a valorização da natureza longe das grandes cidades, muito difundida pelos poetas do Arcadismo europeu, caiu como uma luva para o crescimento desse estilo no Brasil, que encontrou o suporte da exaltação ao mundo natural na figura do índio. Foi inserido nessa seara indianista e de notável traço nativista que surgiu o texto Caramuru, criado pelo escritor Santa Rita Durão.
Autores nacionais<h/h2>
Em território brasileiro, o Arcadismo encontrou alguns representantes. Os mais conhecidos escritores do Arcadismo feito em solo nacional são:
•José de Santa Rita Durão – Considerado um dos precursores do indianismo no Brasil, esse religioso é o responsável por criar o poema épico Caramuru, que narra a história de um degredado que conviveu com os índios Tupinambás. Caramuru resgata o estilo de Os Lusíadas, obra-prima da língua portuguesa escrita por Camões.
•Cláudio Manoel da Costa – Escritor que trabalhou como advogado e teve participação na Inconfidência Mineira, Costa é o autor do célebre Obras Poéticas de Glauceste Satúrnio.
•Tomás Antônio Gonzaga – Nascido em Portugal, também teve participação no movimento conhecido como Inconfidência Mineira. Gonzaga é considerado um dos mais ilustres poetas do Arcadismo. A sua obra mais conhecida é Marília de Dirceu, que exalta a saudade que sente de Marília.
•Basílio da Gama – Escreveu sob o pseudônimo de Termindo Sipílio. É dele o poema famoso O Uraguai, obra marcada por um forte teor indianista e que aborda a missão conjunta entre portugueses e espanhóis contra as missões jesuíticas. Tal missão tinha o intuito de cumprir as diretrizes do Tratado de Madrid.
É interessante notar que esse poema rompe com a estrutura clássica do poema épico, pois apresenta uma quantidade reduzida de cinco cantos e versos brancos (desprovidos de rima).
O Uraguai é dedicado a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do futuro Marquês de Pombal.