Resumo Gil Vicente
Gil Vicente é considerado o pai do teatro português. Foi poeta, dramaturgo e por diversas vezes, também ator. Suas peças iniciaram a apresentação dos espetáculos diretamente em um palco com a utilização de cenários, algo inédito em Portugal até então.
Faz parte do Humanismo, movimento literário que perdurou em Portugal, entre o século 15 e o início do século 16. Gil Vicente foi o principal representante do período renascentista em Portugal, antes mesmo de Camões. O dramaturgo viveu em um período de transição entre a Idade Média e o Renascimento, o que preencheu suas obras com riqueza de informações sobre a sociedade da época, hábitos e suas transformações.
A Corte Portuguesa era ávida apreciadora de suas peças. “Auto da Visitação”, por exemplo, que foi sua primeira peça de sucesso, foi escrita para a Rainha D. Maria, em homenagem ao príncipe D. João III, quando este nasceu. Outras obras famosas de Gil Vicente são: “A Farsa de Inês Pereira” e a trilogia “Auto da Barca do Inferno”, “Auto da Barca do Purgatório” e “Auto da Barca da Glória”.
Logo após a apresentação de “Auto da Visitação”, Gil Vicente foi encarregado de preparar novas peças teatrais para exibição no palácio. A peça que escreveu logo em seguida foi “Auto Pastoril Castelhano”, na qual também trabalhou como ator.
Presume-se que Gil Vicente tenha estudado na Universidade de Salamanca, em Salamanca, Espanha. Foi casado com Branca Bezerra, com quem teve Gaspar Vicente, em 1488, e Belchior Vicente, em 1504. Após enviuvar, casou-se uma segunda vez com Melícia Rodrigues, de quem teve a filha Paula Vicente, nascida em 1519.
São algumas de suas obras:
Auto da Visitação (1502); Auto Pastoril Castelhano (1502); Auto dos Reis Magos (1503); Auto da Sibila Cassandra; Auto da Fé (1510); Auto dos Quatro Tempos; Auto de Mofina Mendes (1534); Auto Pastoril Português (1523); Auto da Feira (1527); Auto da Alma (1508); Auto da Barca do Inferno (1516); Auto da Barca do Purgatório (1518); Auto da Barca da Glória (1519); Auto da História de Deus (1527); Diálogo de uns Judeus e Centúrios sobre a Ressurreição de Cristo; Auto da Cananea (1534) e Auto de São Martinho (1504).
Estilo
Embora não haja qualquer precisão, os historiadores defendem com base em dados da própria obra do dramaturgo, que Gil Vicente teria nascido por volta de 1465. Dentre as possíveis cidades que se destacariam como o “berço” do escritor, estão: Beiras, Lisboa, Barcelos, e Guimarães, esta última que muitos consideram a mais provável.
A obra vicentina é composta por textos dramáticos, de linguagem coloquial e que mostram a cultura de vários personagens e também as diferenças sociais. O autor era considerado um grande observador da sociedade e sua obra mistura o popular, o arcaico, o moderno e o elitizado em uma única peça.
Na verdade, o tema pastoril (campo) se faz presente em muitas de suas obras. Outros temas abordados por Gil Vicente são também: autos narrativos, narrativas bíblicas e alegoria religiosa.
Características da obra
Para Gil Vicente, o mundo a ser retratado era repleto de falsidades. O que para muitos é uma angústia interminável, para o autor, se transformou em vasta matéria prima para seus livros.
Assim, com refinada comicidade, Gil Vicente observava bem os costumes de sua época e através das palavras detalhava um a um em tom satírico, conforme a máxima de Moliére “Ridendo castigat mores” – rindo se castigam os costumes. Em 44 peças, é comum observar a criação de personagens inspirados na sociedade da época. Eram ciganos, camponeses, marinheiros e até mesmo fadas e demônios – o que dá o tom de grande imaginação e originalidade jamais visto naquele tempo.
Outro detalhe importante é a semelhança com a obra filosófica platonista, na qual se observam os dois mundos: o da glória, da serenidade, do amor divino, atributos que agregam paz e tranquilidade interior à vida; em contraste com o mundo das falsidades, da avareza, dos interesses mesquinhos, repletos de falsidade e de amargura. O mundo das trevas.
Desta forma, elementos cênicos em sua obra, tais como a luz em contraste com a sombra, não mostram um conflito, mas uma união na qual uma depende da outra. Os autos de Natal, por exemplo, mostram o nascimento de Jesus emoldurado pela escuridão das trevas, que se harmonizam com a serenidade, o nascimento, o perdão, enfim, a glória divina. Nem poderia ser diferente, afinal, o que seria da luz sem a escuridão?
A obra deixada pelo autor Gil Vicente foi de tamanha importância que o filósofo Holandês Erasmo de Roterdão resolveu dedicar parte de sua vida ao aprendizado da língua portuguesa, a fim de ler e apreciar as obras vicentinas. Tamanha importância ao longo do tempo rendeu a criação da Escola de Gil Vicente ou Escola Popular, que tinha por modelo as coisas simples do povo.