Resumo sobre o escritor Fernão Lopes
O lusitano Fernão Lopes é considerado o precursor dos atuais métodos historiográficos. Cronista e criador da prosa ensaística da língua portuguesa, o intelectual era acima de tudo um observador e inovador da língua. A maior parte de seu trabalho se perdeu com os anos, restando apenas crônicas sobre D.Pedro, D. Fernando e D. João I, do Reino de Portugal. Mas mesmo com pouco de seu legado, o escritor deixou uma marca inegável na língua portuguesa.
Biografia de Fernão Lopes
Nascido entre os anos de 1380 e 1390, morreu por volta do ano de 1460 e foi o quarto guarda-mor da Torre do Tombo. Lopes foi um tabelião geral de Portugal e seu cronista oficial mesmo antes do país se formar como um reino.
Não há dados comprovados sobre sua biografia, apenas hipóteses e alguns poucos documentos. É possível que ele tenha nascido em Lisboa e, mesmo com uma origem familiar humilde, Fernão Lopes teria estudado na Escola Catedral de Lisboa, que lhe permitiu adquirir o conhecimento culto da língua.
Há um documento, datado de 1418, onde está registrado que Fernão Lopes era o guarda-mor da Torre do Tombo, encarregado de conservar os arquivos do Estado num cargo de alta confiança. Ele só deixou de realizar essa função em 1454 em função de sua idade avançada. Ele faleceu aproximadamente cinco anos depois, perto dos 80 anos.
Outro registro relata sua função de escrivão dos livros de D. João e D. João I, e em seguida virou escrivão de puridade do infante D. Fernando. Seu papel principal era colocar os feitos do rei em textos em formato de crônicas, que eram mais facilmente assimilados por todos que soubessem ler.
O reinado de D. João teve início com a crise de 1383-1385, um golpe sucessório que teve o auxílio da população, de alguns comerciantes e de parte da nobreza para que ele ascendesse ao poder. Lopes acompanhou o seu reinado, como também de seus filhos, além da guerra civil após a morte de D. João, onde batalhou a cidade de Lisboa contra a rainha viúva D. Leonor e o então infante Pedro, que acabou se tornando Defensor e Regente do Reino até se tornar rei como o pai.
Coube a Fernão Lopes escrever sobre as benfeitorias da dinastia de Avis, iniciada pelo rei D. João, onde pôde exercer sua inovadora forma de histografia. Mesmo com o rei centralizando a história e narrando suas façanhas, os textos demonstram preocupação e interesse em ouvir o povo e suas influências nos caminhos traçados.
Textos Perdidos
Apesar de ter sido um prolífero escritor, há apenas três crônicas suas restantes desse período: Crônica de D. Pedro, Crônica de D. Fernando e Crônica de D. João I.
Baseados nesses três textos, Fernão Lopes já é considerado um dos maiores cronistas-historiadores, visto que expôs uma realidade visceral. Sua forma de contar os fatos era cronológica, hierarquizando as explicações dos acontecimentos, com o máximo de isenção sobre a história contada.
É também considerado um representante do “saber popular”, já que seus textos, ainda que muito bem escritos, eram redigidos com simplicidade e buscando fácil assimilação. Seu jeito de usar pouco ou nenhum adjetivo e manter uma posição de distanciamento da narrativa foram inovadores.
Seu raciocínio era tão simples quanto suas palavras. Para Fernão Lopes, o sentimento e a emoção influenciavam de alguma forma a narrativa, o que dificultaria uma real compreensão da verdade que se deseja informar. Então criou o que se chama de “mundanall afeiçom”, uma separação de desejos e interesses para se obter isenção e autoridade.
Uma Forma Peculiar de Escrever
Por compreender que mesmo no “mundanall afeiçom” todos são afetados por influências emocionais na compreensão de uma história, Fernão Lopes definiu dois grupos que, além de sofrerem esse tipo de influência, poderiam ser mais subjetivos ou menos.
O primeiro grupo é da ordem senhorial e formado por pessoas mais próximas ao rei e com valores tradicionais ligados a realeza, transformando suas opiniões em parciais e artificiais, o que proporciona uma falsa realidade, uma vez que eram afetadas por suas conexões com o rei. Nem mesmo as emoções naturais conseguem ser expostas com verdade.
Já o outro grupo, com maior distanciamento do rei e do sistema, pode utilizar a verdade como ela é, sem necessidade de apresentar uma opinião pré-formatada. São mais ligados ao natural sentimento de interpretação emocional dos fatos e sem o artificialismo e falsas cerimônias.
A partir dessas definições, Fernão Lopes criou uma forma de construção textual baseada na verdade direta, controlando a subjetividade natural humana e qualquer outro tipo de influência de ordem senhorial.
Ele criou uma forma de escrever capaz de manter o contexto histórico e incluir o modelo encomiástico, que enaltece o rei, escapando da fácil emoção e paixão que comprometeriam o enredo e a compreensão da história. Dessa forma, além de apresentar um texto mais leve e direto, Fernão Lopes se tornou um grande comunicador e historiador, que ainda inspira intelectuais e estudantes.