Relações interespecíficas
Há autores e correntes de pensamento que afirmam que a natureza é uma criação perfeita. Há evidências que sustentam esse ponto de vista. Afinal de contas, tudo parece funcionar harmoniosamente na natureza, contribuindo para a sua perpetuação, apesar da ação nada amistosa da mais importante das espécies do planeta: o homem.
O predador abate a presa e dela se alimenta. Outros animais se alimentam dos restos do predador e o que sobre desses acaba servindo para alimentar microrganismos, que processam nutrientes e ajudam a alimentar as plantas, que estão no cardápio de uma série de animais herbívoros.
Tudo parece perfeito, mas será que é tão aprazível do ponto de vista da caça do parágrafo anterior? Contribuindo ou não para o equilíbrio do ecossistema, as relações entre os diversos organismos vivos nem sempre são das mais amistosas, tampouco satisfatórias. Por isso, do ponto de vista da ecologia, há uma visão mais realista dessas relações, levando em consideração a individualidade de cada elemento envolvido nessa cadeia de relações.
Relações interespecíficas
Relações ecológicas interespecíficas são aquelas que ocorrem entre indivíduos de diferentes espécies.
Há dois tipos de relações interespecíficas: harmônicas e desarmônicas.
As relações ecológicas interespecíficas harmônicas são aquelas em que uma determinada interação entre duas espécies produz resultados positivos para ambas. Em outras palavras, ambos os indivíduos, de formas diversas, como veremos mais adiante, se beneficiam dessa relação.
As relações interespecíficas desarmônicas são aquelas em que um indivíduo se beneficia da interação em detrimento do outro. Um se beneficia, o outro sai prejudicado.
Reiterando, a visão das relações interespecíficas é, na verdade, uma abordagem da individualidade. Ela não considera como cada indivíduo dentro de um bioma contribui para o seu equilíbrio, não importando se isso lhe custe a própria vida. Considera como ele é afetado pela cadeia de relações que estabelece com indivíduos de outras espécies.
Tipos de relações específicas harmônicas
– Protocooperação (cooperação ou mutualismo facultativo )
Essa é uma espécie de relação harmônica em que duas espécies diferentes se beneficiam de interações específicas.
Alguns casos são, por exemplo, o da convivência do pássaro-palito com os crocodilos. O primeiro se alimenta das sanguessugas e detritos presentes na boca do grande réptil, que se beneficia se livrando desses elementos que seriam nocivos à sua saúde.
Outro caso é o das anêmonas-do-mar, que se aproveitam dos restos de alimento do caranguejo-eremita, que, por outro lado, se beneficia dos mecanismos de defesa das primeiras.
Vale salientar que essa relação não é determinada por uma necessidade. Por isso é chamada de mutualismo facultativo.
É uma escolha das espécies estabelecer essa relação de cooperação.
Outro exemplo, para concluir, é a relação do boi com o pássaro anu. O pássaro é um voraz devorador de carrapatos, que são parasitas dos bois. Tudo isso vem a calhar quando o anu come os carrapatos que estão parasitando esses últimos.
– Inquilinismo
A diferença entre o inquilinismo e a protocooperação é que, nesse último, uma das espécies envolvidas na relação não se beneficia dessa interação biológica. Tampouco, por outro lado, é prejudicada com essa relação, razão pela qual é indiferente.
Ocorre quando um organismo busca abrigo em outro, seja em cima ou no interior, sem afetar em nada a sua rotina, para o bem ou para o mal. É o caso, por exemplo, das bromélias e orquídeas, que se abrigam em troncos de árvores buscando exposição à luz solar. As árvores não são prejudicadas em nada.
As árvores são, aliás, excelentes inquilinas da natureza, oferecendo proteção, sombra e alimentos a uma variedade enorme de espécies, entre répteis, insetos, mamíferos, plantas e pássaros.
– Comensalismo
Ocorre uma relação baseada na alimentação, em que apenas um dos indivíduos se beneficia, mas o outro não é prejudicado. É o que ocorre com o caso do predador, que, satisfeito, deixa de lado a carniça, que se transforma em alimento para outros animais, como os abutres, urubus e hienas.
– Mutualismo
São relações necessárias para a sobrevivência das duas espécies, que acontece, de forma mais comum, entre microrganismos e organismos maiores. São esses microrganismos, como fungos e protozoários, que fazem o metabolismo de nutrientes para as raízes das plantas, que, por sua vez, fornecem matéria orgânica, que é o alimento desses microrganismos.
Tipos de relações específicas desarmônicas
– Predação (ou predatismo) – É aquela relação em que um indivíduo mata outro, de uma espécie diferente, para comer. Enquanto um satisfaz uma necessidade biológica, que é a nutrição, o outro é sacrificado.
– Herbivoria – Pode parecer uma relação inofensiva, que ocorre quando um animal herbívoro come uma planta, mas não se levado em consideração que as plantas são indivíduos vivos e autônomos, que perdem essa vida para que outros se alimentem.
Ocorre somente quando outro animal se alimenta das partes vivas das plantas, como folhas, galhos e raíz.
– Parasitismo
Lembra do carrapato? O parasitismo ocorre quando um elemento se beneficia da interação com outro indivíduo, sendo que essa relação traz prejuízos para o segundo.
No caso do carrapato, ele se hospeda e ainda suga o sangue dos animais a quem parasita. É o que ocorre, também, com os cipós, que tiram do outras plantas a seiva que os alimenta.
Isso também acontece com os vermes, que se alimentam do que o hospedeiro come, causando prejuízo a esses, assim como os microrganismos que causam doenças no ser humano e em outros animais.
– Competição interespecífica
Essa relação ocorre quando diversas espécies disputam os mesmos recursos. Evidencia-se em casos de escassez desses recursos. Predadores podem entrar em choque quando há escassez de caça. As plantas podem, também, competir pela água e por nutrientes em ambientes de seca.
Tal condição pode levar ao fenômeno conhecido como “amensalismo”, que é quando a competição interespecífica desencadeia reações de uma espécie para eliminar a outra e suprimir a disputa de sua rotina, como forma de sobrevivência.
Na luta pelos mesmos nutrientes, fungos, por exemplo, liberam antibióticos que matam as bactérias.