O Bandeirantismo

História do Brasil,

O Bandeirantismo

O bandeirantismo era uma atividade feita por expedições a partir do século XVI até metade do século XVIII. Os bandeirantes formavam grupos para adentrar nos sertões do Brasil, e buscavam riquezas como pedras preciosas, metais e índios para cativeiro. A denominação do grupo se deve ao costume tupiniquim de erguer bandeiras para anunciar uma guerra.

O Bandeirantismo

Na época da União Ibérica, entre 1580 e 1640, as delimitações do Tratado de Tordesilhas foram invalidadas. Dessa forma, o bandeirantismo se tornou forte, indo para regiões cada vez mais longínquas. A atividade era feita por viajantes que, em sua maioria, se interessavam por escravos indígenas.

As expedições de bandeirantismo não contavam com muito dinheiro para viajar Brasil adentro. Por isso, as condições eram extremamente precárias, e os grupos eram controlados por colonos. Durante as viagens, era comum entrarem em conflito com índios, jesuítas ou até mesmo serem atacados por animais selvagens.

Desde seu desaparecimento houve dificuldades na tentativa de recompor a memória. Por um lado, tem-se uma visão exageradamente heroica dos bandeirantes, e, por outro, uma visão simplista que os coloca na condição de vilões.

Característica do bandeirantismo

Quem liderava os bandeirantes eram os capitães do arraial, que comandavam as expedições com ajuda dos filhos, parentes mais próximos e agregados. Eram sertanistas com experiência, e detinham poder absoluto sobre a tropa. Os intérpretes e guias eram mamelucos que, por sua ascendência, sabiam falar o português e a língua geral indígena (tupi). Assim, facilitavam as expedições fazendo traduções em diversas tribos.

O resto do grupo era formado por escravos indígenas acompanhados de suas mulheres. A expedição contava ainda com um capelão, um escrivão e um aferes-mor, a pessoa responsável por repartir os índios capturados. Os paulistas que formavam os bandeirantes tinham hábitos muito próximos dos indígenas. Os bandos eram compostos por poucos indivíduos que andavam descalços pelas matas atrás de riqueza e índios. Isso para os portugueses era muito estranho, pois consideravam um modo de vida muito selvagem.

A Guerra das Emboabas (1707-1709) exemplifica o conflito entre brasileiros e portugueses. Segundo Sérgio Buarque de Holanda, “emboaba” seria um termo usado pelos paulistas para se referir pejorativamente aos portugueses. Em tupi significa “aves calçudas”, uma alusão ao estrangeiro calçado.

Mitos e verdades sobre o bandeirantismo

Os bandeirantes são personagens controversos da história brasileira. Por algum tempo, eram tratados como heróis desbravadores que ajudaram o país a expandir fronteiras. Mais tarde, alguns historiadores adotaram uma visão completamente oposta. De desbravadores passaram a ser vistos como vilões sanguinários, que saqueavam aldeias, estupravam mulheres e matavam índios.

A visão heroica dos bandeirantes como um símbolo da ousadia e bravura dos paulistas começou no final do século XIX. Isso se intensificou nas décadas seguintes, devido ao papel secundário de São Paulo no Brasil. Embora o estado tivesse crescido a ponto de ser uma das maiores potências econômicas no país, seu poder ainda não havia adentrado a política. A memória dos bandeirantes veio bem a calhar para demonstrar como o povo do estado era o principal responsável pela conquista do interior e integração nacional.

Na Revolução Constitucionalista de 1932, o papel dos bandeirantes foi essencial para aqueles que queriam se opor ao regime varguista. Os paulistas se negavam a aceitar o governo de Getúlio Vargas devido aos antecedentes eleitorais (ele não havia sido eleito, e sim o candidato paulista). Os bandeirantes serviram como uma justificativa para a luta que visava derrubar o governo ilegítimo.

Mais tarde, com a proliferação da historiografia marxista, os bandeirantes passaram a ser vilões. As acusações se referiam aos paulistas como saqueadores, estupradores e assassinos, já que eles teriam sido a maior causa da morte da população indígena. Raposo Tavares, líder da expedição que, segundo os historiadores, tinha uma bandeira formada por 900 paulistas e 2 mil índios, foi um dos maiores acusados de crimes.

No entanto, essa visão é exagerada. O historiador John Manuel Monteiro afirma que na bandeira de Tavares havia apenas 119 participantes. Além disso, é possível que o modelo militar adotado pelos bandeirantes tenha sido mais indígena do que europeu. O historiador Warren Dean, por exemplo, acredita na possibilidade das bandeiras serem uma predileção tupi por aventuras militares.

A mudança de entendimento sobre os bandeirantes foi praticamente total. Como as primeiras pinturas e gravuras que os retratava datam do século XIX, portanto, época do romantismo, criou-se uma visão errada sobre sua aparência. Quando o mito foi construído, seu vestuário era composto por botas longas, capas, chapéus de abas largas e armas na cintura. O bandeirante empunhava um belo mosquete, tinha aparência imponente e andava sobre fortes cavalos. Era branco, como um europeu. Isso foi endossado por historiadores e políticos paulistas.

No entanto, a realidade era bastante diversa. Os bandeirantes eram compostos principalmente de escravos indígenas, e quase não vestiam roupas. Os líderes da expedição, quando muito, possuíam calças e camisas de má qualidade, tinham chapéu de palha, mosquetes, pistolas e espingardas enferrujadas e gibão de couro de anta. O resto do grupo era armado de arcos, flechas e forquilhas. Seus costumes eram basicamente indígenas e mamelucos, como uma forma de sobrevivência no meio da selva.