Guerras Púnicas
Desde o momento que o homem deixou de ser nômade, especialmente devido à agricultura que permitiu que deixasse de ser coletor, as brigas por território e por controle dos mesmos se tornou uma regra nas mais diversas partes do mundo, ou seja, ocorreram na Ásia, África, Europa e, mais tarde, nas Américas.
No entanto, houve guerras por controle de territórios que influenciaram de maneira ímpar a geopolítica atual, e justamente por isso estão presentes – até porque seria praticamente impossível inserir todas as guerras no currículo de história dos níveis fundamentais e médio de ensino. Esse é o caso das Guerras Púnicas.
Contexto histórico
Os conflitos em questão duraram exatos 100 anos, se estendendo de 264 a.C a 164 a.C., ou seja, trata-se de um evento histórico que ocorreu na Antiguidade. Fala-se de guerras, no plural, pois essas consistem em uma série de três conflitos que modificaram consideravelmente a geopolítica da Sicília (Itália) e do Mediterrâneo.
O estopim do conflito foi a rivalidade existente entre Roma, grande potência da Antiguidade, e Cartago, outra grande potência, localizada no norte do continente africano. Cartago tinha grande poder, e controlava todo o comércio realizado no Mediterrâneo. Por isso seus comerciantes tinham colônias espalhadas por toda a região, incluindo Sardenha, Sicília, extremamente rica na produção de grãos, Península Ibérica (territórios que atualmente correspondem a Portugal e Espanha, na qual era feita a exploração de prata) e, claro, por toda a África. Aliás, é por causa de Cartago que tais conflitos são conhecidos como Guerras Púnicas, uma vez que os romanos chamavam os cartagineses de “punici”, que significa “fenícios”.
Dessa maneira, a Sicília era habitada por muitos cartagineses, em conflito constante com os gregos presentes nas colônias gregas Nápoles e Taranto. Tendo como premissa a hegemonia dos romanos na época, eles conquistaram os portos do sul na península itálica, fazendo com que os interesses das colônias gregas passassem a ser também seus interesses. Assim, os conflitos entre romanos e púnicos na verdade se basearam na intervenção de Roma, na rivalidade entre gregos e cartagineses.
As guerras e consequências
Conforme dito acima, houve três guerras entre cartagineses e romanos, e são elas que estão descritas abaixo.
-1° Guerra: ocorreu entre 264 a.C. e 241 a.C. Na verdade, tratou-se de uma batalha naval na qual Roma saiu vitoriosa. O que é interessante notar é a inteligência dos romanos, pois Cartago era a principal potência marítima da época, ou seja, praticamente impossível de serem derrotados em mar. No entanto, com a ajuda dos gregos, os romanos conseguiram não só reproduzir os barcos utilizados pelos cartagineses como também inventar as pontes, um projeto de engenharia relativamente simples, mas que permitia que os romanos entrassem nos barcos inimigos, permitindo o combate corpo a corpo. Iniciou-se com a intervenção romana em Messina e terminou com a conquista romana de Córsega, Sardenha e Sicília;
-2° Guerra: o protagonista desse conflito, que se desenrolou entre 218 a.C. a 201 a.C., foi o general cartaginês Aníbal Barca, que não só conseguiu diversas conquistas sobre Roma como também realizou o feito de atravessar os Alpes, complexo montanhoso que corta grande parte dos países europeus, marcados pelo clima intenso e grandes altitudes. Diante das derrotas consecutivas, Roma decidiu atacar Cartago, fazendo com que o general tivesse que voltar a sua cidade para protegê-la. Mais uma vez, Roma saiu vitoriosa e conseguiu o controle sobre a Península Ibérica;
-3° Guerra: ocorreu entre 149 a.C. e 146 a.C., tendo como principal consequência a vitória de Roma, implacável sobre Cartago. O general romano Emílio Africano atacou Cartago novamente, conquistando a cidade e escravizando seus moradores. Além disso, foi jogado sal sobre todo o território para que o solo não mais produzisse, encerrando a série de conflitos.
As consequências de sair vitoriosa das Guerras Púnicas para Roma foram muitas. Em termos sociais e devido ao crescimento do comércio, surgiu uma nova classe social: os comerciantes, também chamados de homens novos e cavalheiros.
Em termos socioeconômicos, ocorreu uma grave crise em Roma, pois com o crescimento do número de escravos, grande parte dos cargos ocupados pela plebe não eram mais necessários, causando o desemprego em massa.
Como as Guerras Púnicas permitiram a conquista do Mediterrâneo Ocidental por Roma, isso serviu como porta de entrada para que os romanos conquistassem todo o mediterrâneo e grande parte da Europa, ou seja, se tornassem uma nação hegemônica.
Por fim, com a conquista de novos territórios havia maior oferta de produtos, o que fez com que os pequenos e médios proprietários italianos entrassem em crise e fossem obrigados a vender suas terras ao Estado e latifundiários, aumentando ainda mais a hegemonia do estado Romano.
Como resultado de todas essas consequências, a configuração do poder e os territórios da Itália, grande parte da Península Ibérica e norte da África foram modificados, ficando as bases para que os eventos históricos posteriores ocorressem.