O apocalipse medieval

História,

O apocalipse medieval

O período medieval se caracterizou pelo fortalecimento da Igreja Católica, que o influenciou desde a arquitetura das construções até o modo de vida da população. Junto à teologia cristã e sua filosofia, vieram as crenças cada vez mais elaboradas e fantasiosas que acabaram criando o chamado Apocalipse Medieval.

o-apocalipse-medieval

O Apocalipse de São João, a mais temida passagem da Bíblia, descreve que na época após mil anos da vinda de Cristo na Terra, demônios e outros seres fantásticos e cruéis seriam soltos para que os humanos sofressem as mais terríveis provações. A partir dessa concepção, foi instaurado o apocalipse medieval, onde uma parcela significativa da população começou a reagir acreditando no fim do mundo da pior forma possível.

A época das trevas

O período de trevas se antecipou à previsão de São João, e antes de 999 d.C. as pessoas já se influenciavam por qualquer indício de que a profecia bíblica pudesse se realizar. As verdades incontestáveis se iniciaram com as epidemias que começaram a se tornar ainda mais frequentes na época, cujos motivos principais eram a simples falta de higiene e péssimas condições humanas existentes entre a maior parte da população. Fenômenos naturais mais raros como cometas e eclipses também eram vistos como sinais de que o apocalipse estava se aproximando.

Um dos efeitos mais assustadores do pânico generalizado da população era a reação com o nascimento de crianças com algum tipo de anomalia genética ou diferenças simples como serem canhotas, albinas, orelhas sem lóbulo, sinais entre outros. Muitas eram mortas com punhaladas ou queimadas, num macabro ritual como se elas fossem uma espécie de reencarnação do mal.

Mesmo após o fim do ano 1000, onde o falado Apocalipse não aconteceu, as pessoas mantiveram o pânico e começaram a aprimorar suas crenças, que só foi um pouco mais abrandada em 1033, exatos mil anos da vinda de Jesus.

Os Mortos-Vivos

Uma das mais exóticas manifestações de pânico sobre o Apocalipse Medieval foi a mutilação de mortos para que não se tornassem zumbis. Muitos povos medievais acreditavam que no apocalipse datado de São João os mortos sairiam de suas sepulturas para atacar os vivos. Para evitar que isso acontecesse, os moradores retiravam pernas e braços ou decapitavam os mortos enterrados e queimavam seus corpos em separado.

Historiadores e arqueólogos chegaram a acreditar que os corpos encontrados com essas mutilações fossem provocados por rituais de outras religiões, o que gerou algumas teorias como extermínio de invasores e prática para quem morria com alguma doença contagiosa. Mas na verdade se tratava da teoria dos mortos-vivos.

Segundo as crenças cristãs medievais, os mortos podiam levantar de suas covas pela influência de formas demoníacas e malévolas. Pessoas que tivessem feito algum tipo de pacto, cometido crimes e pecados ou tivessem tido uma vida cheia de inimigos também teriam o poder de atrair esses mortos.

De acordo com essa crença, o método para exterminar os zumbis era através de sua decapitação, pela queima de seus corpos em fogueiras e a mutilação de seus membros. O que ocasionou uma onda de fazer isso com todos os mortos, antes que eles pudessem se transformar em mortos-vivos.

Essa situação real inspirou inúmeras histórias, filmes e seriados sobre zumbis nos dias de hoje, com o terror suficiente para manter os sustos e temor de uma suposta existência de mortos-vivos.

A influência da Igreja Católica na Idade Média

A Igreja Católica ascendeu a partir da expansão do feudalismo pela Europa Medieval e se tornou uma das mais poderosas instituições do período. Sua influência chegou a ser superior à dos feudais e em seguida dos reis absolutistas, suprimindo outras religiões pagãs e o ateísmo. A organização da sociedade medieval se dividia em Clero, Nobreza e Servos, como a Santíssima Trindade, que valorizava a alma após a morte que teria existência plena no céu.

A Idade Média também fez com que a Igreja Católica conquistasse grandes fortunas, por controlar os poderes feudais e centralizar as suas decisões. Aqueles contrários a essa riqueza cristã se uniam a ordens religiosas, que tinham na reclusão e na pobreza seus principais fundamentos para levar uma vida voltada para a espiritualidade.

Uma das formas de atingir o controle e manipulação total da população era através da educação, já que fora os integrantes do clero e das ordens cristãs, a maior parte das pessoas era analfabeta. Sem o conhecimento e o pensamento ativado, a população era completamente devota aos preceitos da igreja e sustentava seus luxos e dos nobres.

O controle incluía as artes, que se limitava a representar a fé cristã, o contraste entre o bem e o mal com a beleza dos anjos e a feiura dos demônios. A maior parte das obras era encomendada pela própria igreja e pela nobreza.

Ainda assim os livros clássicos da antiguidade eram mantidos em grandes bibliotecas concentradas em mosteiros, cujos monges eram os seus grandes guardiões. O acesso era tão restrito que somente os próprios monges ou autoridades autorizadas pelo Clero poderiam ler seu conteúdo. Somente muitos séculos depois é que elas foram liberadas para conhecimento da humanidade.

Em contrapartida, religiões pagãs se apropriavam de referências bíblicas para construir seus próprios rituais, assim como outras dissidências foram ocorrendo como a criação da Igreja Bizantina e, mais à frente, a protestante.