Século de Ouro Espanhol
Entre o Renascimento do século XVI até o período Barroco do século XVII, ou paralelamente o período entre a introdução da Gramática Castellana de Nebrija, em 1492, e o Concílio de Trento, em 1681, ocorreu o Século de Ouro Espanhol, um período de apogeu estético e histórico Espanhol.
Foi uma época de glória para a Espanha em todos os aspectos, que conciliou com as grandes navegações, a descoberta das Américas, as riquezas provenientes das terras descobertas e da Índia e da grande efervescência cultural europeia.
Início do Século de Ouro Espanhol
Durante a Idade Média, a Península Ibérica foi praticamente toda dominada pelos mouros, povo mulçumano que impôs sua religião e cultura na região. As conquistas mouras começaram ainda em 711 d. C., com deslocamentos militares e também populacionais, até vencerem o Rei Recaredo I do Reino Visogótico, na Península Ibérica.
A partir dessas conquistas, a região foi completamente dominada pela língua árabe e a religião mulçumana por cerca de oitocentos anos. Os cristãos que conseguiram escapar da dizimação dos mouros foram expandindo os reinos pela região sul até surgir os reinos da Castela, Leão, Condado Portucalense, Pamplona e Aragão. A reconquista efetivamente começou no mesmo período em que os mouros iniciaram as invasões, com o remanescente Reino das Astúrias, e durou toda a Idade Média.
Com a intensificação das batalhas dos reinos cristãos, já no século XV, os mouros finalmente foram expulsos de toda a Península Ibérica. Com a sua saída, a região começou a formar uma nova monarquia, unificando os reinos de Galiza, Leão, Castela, Navarra e Aragão, que se transformaria na Espanha. No mesmo período, D. Afonso Henriques, filho do Conde de Portucale, conquista a independência de Portugal.
Essa unificação que se transformou a Espanha foi paralela ao início das grandes navegações, que levou Cristóvão Colombo a descobrir as Américas e as riquezas trazidas por essa região, que levaram a Espanha a vivenciar seu apogeu logo no período inicial de sua formação como país.
Após essa descoberta e também de um novo trajeto para as Índias, a Espanha se transformou no polo econômico e cultural da Europa e também do mundo, com um prestígio irrefutável. A língua espanhola era a mais desejada de se aprender, como reflexo de sua importância para o mundo naquele período.
A cultura ganhou um espaço até então inédito para a região, patrocinada pelo ouro das Américas que incentivou pintores, escultores, escritores, músicos e arquitetos, inspirados no Renascimento. Além de trazer as ideias filosóficas dos iluministas e trazer à tona cientistas da matemática, física, medicina, farmacologia, psicologia e filosofia.
A expressão “século de ouro” foi popularizada pelo escritor Lope de Veja e pelo discurso do personagem Don Quixote, no livro de Cervantes, que falava sobre esse período. Os reis católicos da nova Espanha construíram um Estado forte politicamente, que foi propício a todas essas conquistas.
Porém, a força do clero ainda era muito intensa na região, que teve muita dificuldade de avançar socialmente, preso às ideias da Idade Média. Essas tradições medievais inquisitórias eram opostas as do resto da Europa, o que levou artistas espanhóis a criarem obras baseadas no cristianismo.
Havia também a incidência da contrarreforma nos países ibéricos e a expansão dos judeus, que foram expulsos da região em 1492 e se dispersaram pela África, Ásia e Europa, levando a língua e a cultura pelo mundo. Escritores judeus criaram livros em castelhano e surgiram personalidades muito importantes, como Issac Cardoso, Abraham Zacuto, Isaac Orobio e José Penso de La Vega.
Influência Cultural Hispânica
Com novas terras conquistadas, se tornando uma nova potência política e foco de grande potencial econômico e comercial, o apogeu espanhol levou o país a ter um grande prestígio internacional, que acarretou em interesse em conhecer e aprender a língua.
Os escritores foram os principais incentivadores da expansão linguística, a partir de Antono de Nebrija, autor da primeira gramática castelhana. Também Juan de Valdes, que ao lado de amigos italianos escreveu Diálogo de La Lengua.
As prensas europeias produziram grande quantidade da gramática espanhola e dicionários. Inclusive, inúmeros dicionários foram criados por importantes escritores de outros países, que associavam sua língua natal ao castelhano.
Os principais autores da época espanhola foram Fernando Rojas, com Tragicomedia de Calisto e Melibea, Mateo Alemàn com Guzman e, principalmente, Cervantes com Don Quixote de La Mancha.
Na poesia, o italianismo deixou fortes traços de sua língua e cultura em autores como Garcilaso de La Veja, Juan Boscàn e Diego Hurtado de Mendoza. Já no teatro, o grande nome foi Lope de Veja, conhecido como a fênix dos engenhos, que criou mais de 1500 obras teatrais, novelas, poemas épicos e narrativos, poesia lírica e profana.
Na pintura, o início do barroco no século de ouro trouxe artistas como El Greco, Ribera, Velàzquez, Zurbarán e Mutillo.
As universidades de Salamanca e Alcalá de Henares foram criadas e muito respeitadas pela sua importância. Centros urbanos, como Sevilha, Madri, Toledo, Valencia e Zaragoza, se tornaram referência econômica e política da Europa.