Ciência e política: duas vocações

Sociologia,

Ciência e política: duas vocações

O livro “Ciência e Política: Duas Vocações”, de Max Weber, reúne ensaios em que o sociólogo alemão aborda essas duas matérias. O livro é baseado em conferências dadas por Weber, nas quais mostrou pontos e tangência e divergência entre as duas profissões. Ele analisa a forma da ciência contribuir para a racionalidade humana, além de demonstrar as características do Estado moderno e como ele funciona estruturalmente.

Ciência e política duas vocações

A diferença entre a ciência e política enquanto profissão é a ética da condição, no cientista, e a ética da responsabilidade, no político. São dois polos da natureza humana, e através deles é que cada um deve entender seu papel. O cientista foca na busca pela verdade, e o político na ação prática por meio de valores. O sociólogo aconselha a ambos não interferirem na esfera um do outro.

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Ciência

A “ciência como vocação” foi proferida como palestra em 1917. Weber abordava os campos da atividade humana, dentro os quais o campo de conhecer, aplicar e repetir a ação. Ele traz à tona alguns dos questionamentos mais comuns que surgem quando estudamos a ciência.

É comum que o estudante se pergunte como deve conhecer a ciência. Trata-se de uma dúvida normal e natural. No sentido de esclarecer as dúvidas, Weber inicia sua palestra diferenciando as atividades de professor de ciência na Alemanha e nos Estados Unidos. Em seguida, passa a abordar as diferenças entre quem leciona e quem realiza pesquisas científicas, e qual o papel da ciência nesse contexto.

O raciocínio de Weber sobre a atividade leva em conta o que ele chama de desencantamento do mundo. Para ele, trata-se de um processo pelo qual o homem moderno se afasta dos elementos místicos e das explicações espirituais, e passa a adotar o método científico para encontrar resultados a determinados estudos.

Para o autor, o progresso da ciência só se dá através da união de dois fatores principais: a lógica grega clássica e o racionalismo científico experimental, que surgiu depois do renascimento. Para ele, a intelectualização e a racionalização crescente em seu tempo significava que o homem acreditava que poderia provar matérias de dúvidas sem levar em conta um poder misterioso que interfere no curso da vida.

Weber tem uma preocupação especial com o que denomina “probidade intelectual científica”. Isso significa a maneira como o professor expõe seu raciocínio na sala de aula. Para exemplificar o conceito, ele utiliza o professor de ciências humanas que precisa lecionar sobre a democracia. Ele não pode dar opiniões particulares para convencer seus alunos a acreditarem no que ele acredita. Para Weber, o trabalho do professor é fazer uma análise precisa e dar exemplos de democracias na prática (além de governos não democráticos), para o aluno tomar uma posição por ele mesmo.

No final do ensaio ele elabora uma mensagem para quem vai se dedicar à ciência ou à docência. Ele afirma que o seu objetivo é atingir a clareza, apresentar ao interlocutor todos os elementos que possam interferir na decisão e trazer para si responsabilidades da sua atitude. Segundo Weber, o profissional que assume esse papel na ciência possui a vocação.

Política

A segunda parte do livro “Política e Ciência: Duas Vocações” aborda não só a política em si, mas sua relação com o Estado. Para Weber, o conceito da atividade é amplo, e abrange todas as especialidades das atividades autônomas e diretivas. Indivíduos se reúnem dentro de um território para realizar essas ações, tendo como meio a criação de um Estado.

O Estado, para o autor, é definido como o instituto político que tem o uso legítimo da força. Trata-se de um instrumento burocratizado, que possui o monopólio da coerção física e do ordenamento jurídico. Na sua versão moderna, se põe acima de outras instituições nas diretivas de uma comunidade humana.

A política é um conjunto de esforços dos membros da sociedade para participar ou dividir esse poder. A divisão pode ser feita entre estados (unidades federativas, como no Brasil) ou no interior deles. Todo homem que se entrega à política aspira ao poder. Ele pode ter um ideal que deseja pôr em prática ou apenas ser egoísta.

No seu sentido mais trivial, o Estado é o poder de dominação de um homem sobre o outro. Para ter o prestígio que o instituto confere, o político deve estar adequado aos fundamentos que legitimam sua ação. O primeiro é o poder tradicional, exercido pelos donos das terras. Em seguida vem o poder carismático, detido pelo dirigente ou carismático. Em terceiro o poder da legalidade, aplicado pela autoridade responsável pelos estatutos estabelecidos.

Os súditos podem obedecer por resignação, medo ou recompensa na terra. Um dirigente com poder de carisma pode despertar esperança, como se fosse um ser transcendental. O homem que entra na política pode viver da política ou viver para a política. Segundo Weber, quando ele tem um objetivo abrangente (como um ideal), ele vive para a política. Quando apenas deseja uma fonte de renda, ele vive da política.