Olavo Bilac, João da Cruz e Souza e Lima Barreto: Considerações, Obras e Estilo
O cruzamento das obras de Olavo Bilac, João da Cruz e Souza e Lima Barreto é um exercício de interpretação do ambiente literário do final do século XIX e início do século XX, que poderia incluir Machado de Assis, no sentido de que o “Bruxo do Cosme Velho” seria um ponto de conexão entre esses três personagens, enquanto Lima Barreto representa a ruptura e o extremo.
O traço comum entre a obra de Bilac e Cruz e Souza é a valorização do rigor formal na poesia. Bilac é um parnasiano, enquanto Cruz e Souza é um simbolista. A visão parnasiana é pautada por princípios estéticos rígidos. A poesia não tem outro compromisso senão a reprodução do belo. A técnica, em si, é o que há de mais apreciável e o resultado deve refletir o que é retratado no poema.
A poesia parnasiana é taxada de superficial, sobretudo num período em que o envolvimento da arte com a interpretação e a transformação da sociedade domina a cena. Bilac escreve sobre a forma de fazer poético, volta à Antiguidade Clássica e ao poema épico, num momento em que se fazia a crítica do presente, traço da fase final do Romantismo e da expansão do Realismo e do Naturalismo. Machado de Assis está presente em todos esses movimentos, inclusive experimentando as diversas orientações estéticas em sua poesia, que até hoje é pouco conhecida, devorada por sua poderosa produção de romances e contos marcantes, onde está presente do Romantismo ao Realismo.
Cruz e Souza, ao lado de Alphonsus de Guimarães, surge como ícone do Simbolismo, um movimento que se alinha ao Parnasianismo na valorização do rigor formal da construção poética, mas que se distancia da temática das coisas para a da alma, trazendo para a pauta temas ligados à morte, metafísica e misticismo. A poesia simbolista é carregada de sentimento e pessimismo.
Lima Barreto é a oposição absoluta, o extremo oposto, ao Parnasianismo, ainda que sua obra passe longe da poesia. O ofício do mestiço Lima Barreto foi o romance, os contos, artigos e crônicas. Sua matéria era a realidade viva. Sua estética literária era desprovida de formalidade, adornos e erudição. Foi o que mais se aproximou entre os grandes escritores brasileiros da linguagem jornalística.
Lima Barreto foi um crítico de seu tempo, da indiferença das elites, da política e das condições de vida. Vivendo no Rio de Janeiro da virada do século XX, pode presenciar todas as suas contradições, dos eflúvios da Belle Époque aos meandros da cidade, onde uma população vivia em condições precárias de habitação, ocupação profissional e higiene.