A Língua Segundo Saussure – Linguística

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A Língua Segundo Saussure – Linguística

Os estudos sobre a linguagem são tão antigos como a própria língua, e a prova disso são aqueles realizados na Grécia antiga, na qual os filósofos se dedicaram ao estudo da argumentação e retórica. No entanto, nesta época ainda não havia um campo dedicado especificamente ao estudo da linguagem, pois os estudos se davam no âmbito da filosofia. A linguística como uma ciência autônoma só iria seguir séculos depois, mais especificamente no século XIX, com os estudos de Saussure.

A Língua Segundo Saussure - Linguística

Biografia

Ferdinand de Saussure nasceu em Genebra, Suíça, em 26 de novembro de 1857. Filho de um naturalista, no começo de sua vida acadêmica se concentrou em estudos de química e física, mas ao conhecer os estudos da linguagem através de um filólogo amigo de sua família, se convenceu que este era seu verdadeiro campo de estudos.

Em 1876, iniciou seus estudos na Universidade de Leipzig, e aos 21 anos publicou sua tese sobre o sistema de vogais em línguas indo-europeias primitivas, a qual foi amplamente aceita e elogiada pela acadêmica. A partir daí começou a lecionar em francês gótico, alto alemão, sânscrito e filologia indo-europeia. Ao retornar para Genebra, continuou a ensinar sânscrito e também linguística histórica.

Mas o verdadeiro ponto de virada de sua história na linguística, mesmo que ele não soubesse na época, foi uma série de 3 cursos sobre linguística que ministrou na Universidade de Genebra. Em 1919, 3 anos após sua morte, alunos que haviam comparecido aos cursos ministrados, compilaram os conteúdos e suas anotações e editaram o “Curso de linguística geral”. Este livro têm uma importância ímpar para a linguística, pois além de fincar as bases de todos os estudos que se desenvolveram posteriormente, é a fundação para o estabelecimento da linguística moderna como um campo de estudo autônomo dentro das ciências humanas.

Principais conceitos

Antes de mais nada, é necessário explicar a visão que Saussure tinha da língua. Dito de forma simples, na sua visão a língua é como um sistema de valores, e se estamos tratando de valores, estamos necessariamente tratando da faceta social, já que o valor só pode ser atribuído a partir de uma determinada visão de mundo. Aqui temos um primeiro e importante conceito do linguista.

Para entender o que é a língua enquanto um sistema de valores, é válido recorrer a analogia feita pelo autor com o mercado financeiro. Por exemplo, uma nota de dez reais tem um valor muito maior que seu aspecto material, e este valor só é determinado pela diferença com a relação de notas de outros valores. Assim, a nota de dez reais só possui o valor que tem quando é comparada com uma nota de dois reais, de cinco reais, de vinte reais, de cinquenta reais e de cem reais. Note que não se trata de uma hierarquia, mas sim de uma comparação.

Aplicando esta analogia na língua, pode-se concluir que os sons das palavras equivalem ao papel e a tinta utilizados na impressão das moedas, e o valor dos signos equivale ao valor de cada nota. A partir desta visão da língua de Saussure, ele desdobra vários conceitos, chamados de dicotomias, pois são opostos, e mesmo que hoje alguns sejam considerados ultrapassados, todos foram igualmente importantes para o desenvolvimento dos estudos linguísticos. Na sequência, conheceremos alguns.

– Sincronia vs. diacronia: trata-se de uma importante diferenciação de abordagem científica amplamente utilizada por diversas ciências. Fazer um estudo sincrônico é olhar para o fenômeno linguístico em tempo real, no presente. Já fazer um estudo diacrônico implica em analisar os fenômenos linguísticos no decorrer da história, olhar para o passado.

– Língua vs. fala (langue vs. parole): como já vimos, para Saussure a língua é um sistema de valores que ocorre de forma social. Já a fala era por ele considerada um ato individual, com influência de outros fatores além dos linguísticos.

– Sintagma vs. paradigma: os conceitos de sintagma trabalhados nos estudos sintáticos são bastantes úteis para entender esta dicotomia. Enquanto que o sintagma é a combinação de dois signos linguísticos para a construção de um elemento linguístico maior, impossibilitando a pronúncia dos mesmos ao mesmo tempo, já que de acordo com o sistema de valor um signo só adquire significado a partir do momento que contrasta com outro, o paradigma funciona como um banco de dados da língua, pois os elementos que o compõem são diferentes uns dos outros, excluindo um ao outro.

– Significante vs. significado: o signo linguístico, isto é, a palavra, é composta por duas faces de uma mesma moeda: o significante e o significado. O primeiro é a cadeia de sons (fonemas) que forma a palavra e o segundo é o que o signo quer dizer, ou seja, o que significa.

Por fim, reforçamos que esses e outros conceitos, junto com a visão de língua de Saussure, foram e continuam sendo extremamente importantes para a linguística, justificando seu título de “pai” da linguística moderna.