Geografia Rural
Embora muitos confundam a Geografia Rural com o estudo da variável agrícola, essa disciplina transcende o universo da produção de matéria prima agrícola.
Os objetos mais fortemente abordados pela Geografia Rural são o ser humano e a relação entre a economia rural e a global. Mais recentemente, ganhou relevância significativa o estudo do impacto da atividade rural sobre o meio ambiente.
Ao contrário do que possa parecer, a economia rural não está fundamentada exclusivamente na agropecuária, particularmente agricultura. É uma visão que está bastante alinhada com o desenvolvimento histórico da economia brasileira.
A geografia rural é fortemente impactada pelo modelo de distribuição de renda. O Brasil rural do período colonial ao final do século XIX possui uma configuração que não favorece o surgimento de um mercado consumidor minimamente expressivo.
Enquanto no Norte, Nordeste e Centro-Oeste predominava uma economia de subsistência – de produção para o próprio consumo, sem acesso a técnicas mais sofisticadas –, a agricultura comercial se estruturava em torno da mão de obra escrava.
A ausência de renda na atividade agropecuária é um inibidor do surgimento de uma atividade econômica local mais diversa. Porém, ainda que lentamente, esse quadro vai se transformando ao longo do século XXI, a começar pela diversificação da produção, das pequenas propriedades e da qualificação nos processos decorrente da imigração europeia, sobretudo para o Sul e Sudeste do país.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), no ano de 1990 a cada dez pessoas ocupadas, três estavam ligadas a atividades desvinculadas da agricultura. Em 1980, essa proporção era de dez por duas.
Geografia Rural e desenvolvimento econômico
Todos os estudos ligados à Geografia Rural convergem para o mesmo caminho. A melhor distribuição da renda no campo é o caminho certeiro para o desenvolvimento da economia do campo e erradicação de indicadores de extrema pobreza e desocupação. A razão é muito simples. Aliada à desconcentração da propriedade, do ponto de vista da economia, significa aumento da produtividade no campo, geração de novas oportunidades de negócios ligados ao transporte e processamento da produção, além da formação de um atraente mercado consumidor local, aproximando a geografia urbana da rural, na medida em que em torno de uma atividade econômica forte é natural que surjam e se desenvolvam conglomerados urbanos. A diferença, em relação à atividade meramente extrativista, é que a atividade agropecuária estabelece uma relação perene com o meio.
A Geografia Rural, enquanto disciplina que estuda essas relações, buscando explicar as relações sociais, as variáveis políticas e ambientais, se estabelece como importante ponto de apoio a políticas públicas.
Assim aconteceu no Brasil desde o início do século XXI, quando o governo se valeu dos estudos para estruturar suas políticas para o campo, com base nos problemas e oportunidades apresentados.
Por conta dessas políticas, foi constatado no ano de 2009 que 44,7% dos brasileiros residentes em zonas rurais se ocupavam de atividades não ligadas à agricultura. No estado de São Paulo, o mais desenvolvido, esse número chegou a 78,4%.
O caso de São Paulo, ilustra, de certa forma, a aproximação entre a cidade e o campo, inclusive quanto à ocupação econômica do morador das zonas rurais, que muitas vezes se desloca até as cidades vizinhas para trabalhar. Esse é, todavia, só um aspecto dessa mudança. Existe uma indústria do turismo voltada para as áreas rurais que gera renda e emprego, assim como a indústria ligada ao processamento do produto agropecuário, gerando um círculo virtuoso de povoamento, salário e consumo, sobretudo porque a industrialização é um fator de redução da desigualdade de renda. Esse é, aliás, um tema delicado, que opõe os grandes produtores às políticas de desenvolvimento humano e distribuição de renda, que visam incluir o empregado rural nas políticas de proteção ao trabalho e integrar famílias independentes no espectro da atividade econômica. Há uma resistência histórica desse setor, provável resquício de um país que estruturou seus alicerces se valendo de mão de obra escrava. Até os dias atuais, são corriqueiras as denúncias de propriedades rurais que exploram mão de obra escrava.
Outro aspecto econômico da geografia rural é a migração de famílias da cidade para o campo, alavancada pela criação de confortáveis condomínios e comunidades rurais. São, em geral, famílias de boa renda e consumidores com alto potencial, que tendem a gerar mais atividade econômica para atender a demanda local.
O fator ambiental
Há, historicamente, uma preocupação com o impacto da atividade agropecuária e extrativista sobre o meio ambiente.
Do ponto de vista da Geografia Rural, esse impacto precisa ser mensurado, mais uma vez no sentido de oferecer estatísticas e outros indicadores importante para a elaboração de políticas públicas ambientais.
Isso inclui a preservação do solo, do bioma local e das populações, nativas ou não de cada região. Numa abordagem mais atual, é preciso ampliar esse escopo. Percebe-se nas últimas décadas uma mudança no fluxo migratório, que já foi do campo para as cidades, mas hoje a população rural cresce e toda infraestrutura necessária para essa população com renda também tende a gerar impactos no meio ambiente, podendo afetar, inclusive, de forma dramática, a vida nos grandes centros urbanos.