Barroco: História, Características, Temas e o Barroco no Brasil
A necessidade de a Igreja Católica contrapor-se à Reforma protestante teve como consequência, após o Concílio de Trento, a restauração da disciplina e da autoridade da Igreja de Roma. Foi iniciado, então, um movimento chamado Contrarreforma, que procurou proibir todas as manifestações culturais ou religiosas que não estivessem de acordo com as determinações da Igreja Católica.
Criou-se, assim, um contexto sociocultural, que fez com que o homem procurasse conciliar a glória e o valor humanos pregados pelo Renascimento com as ideias de submissão e pequenez perante Deus e a Igreja. Era a oposição do antropocentrismo renascentista (valorização do homem) ao teocentrismo (Deus como centro de tudo).
As contradições da época refletiram-se num movimento artístico chamado Barroco. A salvação era uma busca angustiada, pois o homem, apesar de ter consciência de sua grandeza, era atormentado pela ideia de pecado. Dessa forma, os estados de alma, os sentimentos exaltados só podiam ser expressos por meio de antíteses, paradoxos e interrogações. Os temas principais oscilavam entre o espírito cristão e o espírito secular da vida terrena; o bem e o mal; o céu e a terra; a alegria e a tristeza; o claro e o escuro; Deus e o diabo.
Esse é o motivo pelo qual dizemos que o barroco é a arte das contradições. O estilo contrastivo manifestou-se primeiro na pintura e, depois, difundiu-se para as demais artes. O Êxtase de Santa Teresa, de Bernini, na igreja de Santa Maria delia Vittoria, em Roma, é uma das obras-primas da escultura barroca. A contradição do estilo barroco é revelada nas expressões da santa: entre o êxtase e o sofrimento, o prazer e a dor.
Características da literatura barroca
• O conhecimento da realidade por meio dos sentidos – emprego de palavras que nomeiam cores, perfumes e sensações táteis, auditivas e visuais. Uso de figuras de estilo: metáfora, antítese, paradoxo, anáfora, inversão (frases de ordem inversa), prosopopeia e hipérbole.
• O emprego de símbolos que representam a metamorfose contínua do mundo, como o vento, a água, a fumaça, a neve, o fogo, etc.
• Uso de frases interrogativas que refletiam a incerteza do homem da época barroca.
• Uso frequente de frases em ordem inversa.
Temas barrocos
• Fugacidade da vida e ilusão;
• carpe diem, expressão que significa gozar a vida, pois ela é breve (esta característica também aparece no Arcadismo);
• castigo;
• morbidez;
• o sobrenatural;
• apelo à religião, ao céu;
• heroísmo;
• erotismo.
E comum os estudiosos da história da literatura fazerem a síntese do estilo literário barroco em duas tendências: o cultismo e o conceptismo. O cultismo seria mais comum na poesia, enquanto o conceptismo ocorreria sobretudo na prosa.
Barroco no Brasil (16O1-1768)
As manifestações artísticas do Barroco no Brasil Colônia (século XVII) refletem a estrutura econômica da época, baseada na mão-de-obra escrava e no latifúndio. As riquezas aqui geradas pela produção do açúcar beneficiavam os senhores de engenho, o reino português e os holandeses que comercializavam o produto na Europa. As primeiras obras barrocas surgem em Pernambuco e na Bahia, com maior ênfase na ornamentação e na escultura do que na pintura e na arquitetura.
Ocorrem, tardiamente, no século XVIII (entre 1720 e 1750), em Minas Gerais, as manifestações culturais de maior importância do Barroco brasileiro, possibilitadas pela descoberta de ouro na região. O Barroco mineiro, que teve como destaque o artista Antônio Francisco Lisboa, conhecido por Aleijadinho, produziu fantásticas obras arquitetônicas e esculturais.
Principais autores barrocos
Os autores brasileiros dessa época possuíam características barrocas, mas não chegaram a promover um movimento literário propriamente dito.
Merecem destaque o poeta Gregório de Matos e o prosador António Vieira. Devem ser mencionados ainda os poetas Bento Teixeira, autor do poema Prosopopéia, e Manuel Botelho de Oliveira, autor do livro Música do Parnaso.
Gregório de Matos Guerra: o “Boca do Inferno”
Nasceu na Bahia e faleceu em Recife (1636-1696). Maior poeta barroco brasileiro, cultivou a poesia lírica, a satírica e a religiosa. Inicialmente, seus poemas líricos e religiosos despertaram a atenção da crítica; atualmente os poemas satíricos são muito valorizados por seu valor linguístico e sociológico. O poeta criticava a sociedade da época de forma ferina e debochada, por isso recebeu o apelido de Boca do Inferno. Por ser tão irreverente e satírico, foi obrigado a voltar para o Brasil, quando estava estabelecido em Lisboa e, pelo mesmo motivo, foi degredado para Angola. Retornou, muito doente, ao Brasil em 1695, mas “foi proibido de entrar na Bahia e de apresentar seus poemas”. Ainda proibido de escrever suas sátiras, foi para Recife, onde morreu em 1696.
Padre António Vieira
A poesia satírica de Gregório de Matos foge dos padrões barrocos e volta-se para a sociedade baiana do século XVII. Por esse motivo, sua poesia é considerada um caso à parte na literatura barroca brasileira. Sua sátira é vista como a primeira expressão do “sentimento nativista” e prenúncio do que viria a ser a poesia realista e brasileira nos próximos séculos. Quem sabe por causa da própria irreverência, em vida Gregório de Matos não publicou nada. Só no início do século XX, a obra desse poeta ficou conhecida.
Padre António Vieira é considerado um dos maiores escritores do século XVII e eminente pregador. Seus textos revelam jogo de palavras, analogias e raciocínio sutil. Os sermões do Padre António Vieira dividiam-se em três partes distintas:
• intróito e exórdio – a apresentação;
• desenvolvimento ou argumento – a defesa de uma ideia com base em argumentação;
• peroração – a parte final do sermão.
Sua obra, muito intensa, é composta por mais de duzentos sermões e quinhentas cartas. Podemos destacar:
• Sermão da Sexagésima, proferido na Capela Real de Lisboa, em 1653, tematiza a arte de pregar;
• Sermão Pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as de Holanda, proferido em Salvador, em 1640, dirigido contra os holandeses (protestantes) e a favor dos portugueses;
• Sermão de Santo Antônio (aos peixes), proferido no Maranhão, em 1654, condena a escravidão dos índios;
• Sermão do Mandato, proferido na Capela Real de Lisboa, em 1645, tematiza o amor místico.
A obra do Padre Vieira pertence tanto à história da literatura portuguesa quanto à da literatura brasileira, já que retrata a vida da Colónia (Brasil) e da Monarquia (Portugal).